terça-feira, 2 de junho de 2015

VOCÊ ACHAVA MESMO QUE 

O FUTEBOL ERA UMA COISA

LIMPA E CORRETA?

César Oliveira - GOL DE LETRA   Por Dentro da Mídia
Der Spiegel
Eu não sou pobre. Eu sou sóbrio, de bagagem leve.Vivo apenas com o suficiente para que as coisasnão roubem minha liberdade.(Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai)
Qual das coisas abaixo você já fez ou aceitou?
  • Aceitou troco errado. Bateu ponto pelo colega. Comprou produtos falsificados . ou aceitou dar suborno ao guarda de trânsito. Falsificou carteirinha de estudante. Furou fila. Pediu atestado médico para faltar ao trabalho. Roubou TV a cabo (“gatonet”). Tentou burlar o Imposto de Renda...
Complicado, não é? Quantos de nós podemos, de fato, olhando no espelho, bater no peito e dizer que jamais incorreu num erro desses? A gente critica o político corrupto, mas já pode, quem sabe, ter pisado no tomate.
A corrupção, diz o jornalista e escritor Oscar Pilagallo, autor do o livro “Corrupção – Entrave ao Desenvolvimento do Brasil” (Editora Campus, 2013), ainda faz parte da natureza humana. Uma longa briga do Bem contra o Mal, para manter a ética e, quem sabe, melhorar o País pela melhoria de cada um de seus cidadãos. Só existe corrupção, porque existe corruptor.
Não me passa pela cabeça, contudo, que as pessoas desconhecessem que o esquema de trabalho de organizações como CBF, COI, FIFA e COB não passasse por sistemas de corrupção pesada. Da mesma forma, as empresas de marketing esportivo que negociam organização de eventos e propaganda. E, como cereja do bolo, empresas de mídia que compram os direitos de transmissão dos eventos das empresas de marketing esportivo. Uma cadeia de elos fortemente unidos, em que todos se protegem e se dão bem.
Um dia, fui chamado a uma empresa de marketing esportivo: “Queremos que você faça um livro”. Cheguei lá, prédio de três andares, me indicaram o elevador, subi. Errei de andar, fui parar na empresa concorrente direta daquela que eu pretendia visita. Se eu estivesse instalado num edifício comercial e uma concorrente viesse se estabelecer perto de mim, é provável que eu passasse a tomar muitos cuidados ou me mudaria. Elas conviviam diretamente, uma em cima da outra.
Plinio Arruda Sampaio
Em 2010, quando tentava chegar à Presidência da República, o socialista Plínio de Arruda Sampaio, então com 80 anos, deu entrevista ao programa “Bola da Vez”, da ESPN Brasil. Entrevistado pelos jornalistas João Palomino, Mauro Cezar Pereira, Helvídio Mattos, Adriana Saldanha e Bob Fernandes, deu um show de lucidez – embora parecesse que todos o consideravam apenas “um velhinho travesso”, um idoso ingênuo.
Plínio falou de suas propostas para a política esportiva do Brasil e soltou o verbo contra os dirigentes da FIFA, da Confederação Brasileira de Futebol e do Comitê Olímpico Brasileiro. Quando disse que, caso eleito, “enquadraria imediatamente” todos os dirigentes esportivos do País, foi alertado para o fato de que, aqui, o esporte mais popular é dirigido por uma empresa privada que, embora deite e rola em verbas públicas e privadas, não presta contas a ninguém.
Enquanto o Sr. Plínio respondia aos seus entrevistadores que o futebol brasileiro não poderia ficar na mão de espertalhões, lembrei que os Estados Unidos, depois de sofrer com as estrepolias do gângster nova-iorquino Alphonse Gabriel Capone (1899–1947), o Scarface(que deitava e rolava nos tempos da Lei Seca com contrabando, venda de bebidas e outras coisinhas ilegais),  acabou por pegá-lo e condená-lo a onze anos de prisão, por sonegação de impostos, na qual ele mofou até morrer de sífilis.
Enfim, não basta ser corrupto. Os caras querem também pintar de acaju os cabelos embranquecidos pela idade, compensar a falta de virilidade com a companhia de mulheres jovens e, acima de tudo, se lambuzar nas mordomias do hotel Baur au Lac.
Por estarem convivendo numa ilha de corrupção, nababescamente deitando e rolando em milhões de dólares, cercados de mordomias por todos os lados, achavam-se acima das leis, perderam a noção de ridículo, perderam o juízo e, por fim, perderam a liberdade. Tão corruptos e ingênuos que achavam que nada os pegaria com a mão na cumbuca e a boca na botija. Feito patinhos, todos juntinhos na Talstrasse, número 1, em Zurique.
Baur-au-Lac
Agora que os corruptos brasileiros do futebol foram pegos pela Polícia e Justiça de outros países, vamos começar a “jogar pra torcida” aqui. No momento em que finalizava  este texto, saiu  a notícia de que a PF resolveu pegar no pé de Ricardo Teixeira. Ora, bastava terem lido a entrevista “O Presidente”, de Daniela Pinheiro para a revista Piauí (se perdeu, leia aqui), show de desfaçatez e certeza de impunidade.
Teixeira
Que tudo isso seja o recomeço do futebol brasileiro. Dos grandes jogadores. Dos grandes treinadores. Do melhor vencendo. Dos estádios lotados. Do respeito ao torcedor. Sem árbitros corruptos. Sem apostas online. Sem reis do tapetão. Sem papeletas amarelas.
Será pedir muito?
Para Andrew Jennings, jornalista do http://www.transparencyinsport.org, com respeito e admiração. Jennings há muito denuncia a corrupção no futebol mundial. Escreveu livros, deu palestras, mantém um blog, viaja pelo mundo falando sobre isso. No Brasil, veio a convite da ESPN, por indicação do Juca Kfouri. Aqui, na porta do Congresso, avisou que não adiantava mais mandar matá-lo; que o dossiê acusando os dirigentes corruptos brasileiros – Havelange, Teixeira etc. – já estava em poder do Congresso Nacional, como se o Congresso brasileiro fosse um repositório de dignidade. Nisso, Jennings errou.
                      Andrew Jennings

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