segunda-feira, 5 de janeiro de 2015


Ministro administra.

 

Quem governa é a


presidenta

Fernando Brito                  
corvo
Estadão inaugura a linha que ficará evidente ao longo dos primeiros meses do ano: as “divergências” da Presidenta Dilma Rousseff com a equipe econômica que ela própria escolheu.
Foi o caso das declarações do Ministro do Planejamento, Nélson Barbosa, de que haveriam novas regras para o reajuste do salário-mínimo.
Haverá, mesmo.
Porque a lei de reajuste do mínimo determina, no seu art. 4°,  que “até 31 de dezembro de 2015, o Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a política de valorização do salário mínimo para o período compreendido entre 2016 e 2019″.
Muito provavelmente, Barbosa disse mais ou menos isso.
Mas se disse – e eu não li isso em suas declarações e nem ele diz isso na entrevista dada à Globo – que as regras a serem enviadas preveriam reajustes menores, caiu no “canto da mídia”, que é como a raposa que elogia o canto do pássaro para que ele se empolgue e deixe cair o queijo que tem no bico.
Se Dilma achou “inoportuna” a declaração, mesmo vaga, sobre “novas regras”, tem toda a razão.
Barbosa deixou aberto o campo da especulação sobre corte nos reajustes, que é tudo o que a mídia quer.
E isso não é retórica, pois está fazendo um ano que O Globo defendeu, em editorial, que era preciso conter a elevação do mínimo.
Não há a menor dúvida que fazem tudo para que ele e também Joaquim Levy se comportem como “xerifes”, governando de fato a política econômica do país, dançando conforme a música que sai das TVs e dos jornais.
Isso é uma evidente usurpação, pois num regime presidencialista quem define políticas é quem foi eleito para isso: o presidente ou presidenta da República.
Barbosa e Levy são homens públicos experientes, mas não custa lembrar que não existe “bate-papo informal” possível com o nível de intriga que impera hoje nas relações entre a imprensa e o Governo Federal. Esqueçam de falar “em tese”, porque não há espaço para isso.
Na função que ocupam, ninguém espera que sejam “bonzinhos” e “generosos”.
São, afinal, tesoureiros. E tesoureiro “mão-aberta” é a ruína da companhia.
Seu papel, neste momento e sempre, é mesmo o de conter e cortar gastos.
Mas não o de definir políticas salariais que dependem da Presidenta e, aliás, nem só dela, pois foram definidas com os representantes dos trabalhadores.
Mesmo achando que se amplificou um comentário genérico sobre isso, foi bom que tivesse ocorrido logo.
É uma demarcação de poderes que, ainda que evidente, não custa repetir.
Ministro administra, quem governa é quem foi eleito para isso.

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