Nossa inefável Míriam Leitão jogou a toalha no combate que travou durante todo o ano dizendo que a inflação iria estourar o teto da meta (6,5%) e publicou, nessa quarta(7), a previsão da consultoria Tendências de que, afinal, o IPCA de 2014 fechará em 6,4%.
6,4%, 6,5% ou 6,6%, do ponto de vista econômico, não representam qualquer diferença, é obvio.
Mas o fetiche por casas decimais de nossos comentaristas econômicos dá uma importância imensa a isso.
Muito mais importante é o despencar dos preços do petróleo, que altera não apenas o desempenho das relações de troca – comércio e câmbio – de todo o mundo.
Décimos de um por cento importantes foram os divulgados hoje, os menos 0,2% de variação dos preços na Europa.
Deflação.
Que, ao contrário do que muitos possam pensar aqui, pode significar o caos.
Sinal de um escorregar do quadro da economia européia da estagnação para a recessão.
E que, do outro lado do Atlântico, trava também os norte-americanos, o que levou o Federal Reserve a deixar claro que não haverá, ao menos até abril, o aumento dos juros do Tesouro, não apenas por razões internas, mas também para não drenar mais ainda os recursos da Europa, onde os juros cobrados eram quase zero, com leve inflação e que, agora, com deflação, não têm possibilidade de fazer dinheiro ir para a produção e, de outro lado, permitir que os países pensem em, via receita tributária, fazer frente ao financiamento de seus títulos.
São os países mais endividados da Zona do Euro que estão pressionando o Banco Central da Europa a fazer um movimento contrário, injetando liquidez na economia do continente com uma cópia do “quantitative easing” usado pelos EUA após a crise de 2008/09, como forma de atenuar os dramas trazidos pela paralisia econômica.
O desemprego segue alta. Na Itália, subiu para 13,4% e em Portugal para 13,9%. Na Espanha e na Grécia, cerca de um quarto da força de trabalho permanece desempregado.O desemprego entre os jovens com menos de 25 anos é espantoso: na Espanha é de 53,5% e na Grécia, 50% estão fora do mercado de trabalho. A Croácia vem seguida, com 45,5% dos seus jovens desempregados e Itália, com 43,9%.
A moeda europeia perdeu, em quatro meses, 15% de seu valor frente ao dólar.
A ordem econômica mundial tornou-se insustentável também para os europeus -com ressalvas aos alemães que, mal e mal – ainda conseguem sustentar um ligeiro crescimento – e mesmo sem a força do passado, a velha dama européia ainda é essencial para o equilíbrio de forças no mundo.
Recessão na Europa, desastre na Rússia com a queda no preço do petróleo, esfriamento do dragão chinês e outras ameaças potenciais deveriam estar chamando nossa atenção neste momentos e ajudando a desenhar nossas opções estratégicas.
Mas nossa imprensa econômica está muito preocupada com mais ou menos zero vírgula zero qualquer coisa na taxa de inflação.
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