O EMPREGO E AS FÁBULAS DA MÍDIA
O clima de enterro empregado pelos meios de comunicação para divulgar os números do emprego de 2014 é vergonhoso.
É correto lembrar que a criação de 391 000 empregos foi o menor desempenho desde a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto. Num país com 200 milhões de habitantes, com as carências que conhecemos, sempre haverá gente em busca de emprego — e de empregos melhores.
Mas é absurdo deixar de ponderar que entre 2003 e 2014, período dos governos Lula e Dilma Rousseff, o país criou 16 milhões de novos empregos. O país vive o menor desemprego de sua história. Em nenhum momento, nesses 12 anos, o mercado de trabalho encolheu. Nunca. (*)
Entre 1995 e 1999, durante o governo do PSDB, o país perdia milhares empregos anos após ano. O mercado de trabalho decresceu por cinco anos consecutivos — uma tragédia pentacampeã.
Foram 129.339 empregos a menos em 1995, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu a herança econômica do ministro da Fazenda FHC. Nos quatro anos seguintes, o país seguiu perdendo empregos no seguinte ritmo:
– 1996: 271.339 empregos a menos
– 1997: 36.000 empregos a menos
– 1998: 582.000 empregos a menos
— 1999: 196.000 empregos a menos
O dado real a ser lembrado é este: o país perdeu empregos em cinco dos oito anos de governo FHC — mais da metade da gestão, portanto. No total, as perdas em cinco anos chegaram a 1 milhão e 85 mil empregos.
Em 1994, o ano de lançamento do Plano Real, foram criados 301. 928 empregos — 30% a menos do que as vagas abertas em 2014, total apresentado em tom fúnebre na semana passada. Alguém protestou?
Nos três últimos anos de governo FHC, foram criados 2 milhões e 10 000 empregos.
Se você abater as vagas fechadas, o saldo tucano é de pouco mais de 900 mil empregos. Nos oito anos de Lula, o saldo foi de 10,8 milhões. No primeiro mandato de Dilma, 5,2 milhões.
Se o número de 2014 não precisa motivar uma festa, deve ser visto de forma ponderada. Num país que vive a mais baixa taxa de desemprego de sua história, a geração de novas vagas torna-se mais complicada do que antes.
O país nunca deixou de criar empregos após a posse de Lula e seguiu na mesma situação com Dilma.
Os dados sobre emprego sempre são delicados, pois envolvem o eleitorado tradicional do Partido dos Trabalhadores, que permitiu a Dilma resistir a uma campanha brutal no ano passado. Estes números não só ajudam a refletir sobre as prioridades de cada governo e o empenho para garantir benefícios a maioria da população mas também confirmam a mistificação diária que se costuma oferecer a população. Apoiar ou combater um governo faz parte dos direitos democráticos de qualquer veículo e de cada cidadão.
O lamentável é constatar, mais uma vez, que isso costuma ser feito sem respeito pela isenção nem pelos fatos.
A experiência de viver num país de pensamento único garante toda atualidade ao debate sobre a democratização dos meios de comunicação, que Dilma Rousseff comprometeu-se, muito corretamente, a encaminhar durante o segundo mandato.
A necessidade de encaminhar essa discussão, que envolve um debate demorado, que deve chegar a toda sociedade e ao Congresso, é inegável.
Mais urgente, contudo, é a necessidade do governo fazer a disputa política na conjuntura, oferecendo respostas a cada inverdade e toda distorção.
Temos um governo silenciado compulsóriamente pela mídia alinhada a seus adversários. A circulação de informações está submetida a uma ditadura exótica. Não é feita a partir de um Estado forte, como se aprende nos manuais de história, mas por empresas privadas de comunicação que reinam com poderes absolutos, como demonstra o insubstituível Manchetômetro.
Neste universo desigual, ou o governo começa a falar, ou será calado para sempre. Irá perder os debates que se avizinham sobre os rumos da economia e sobre empregos, sobre energia, sobre a Petrobras e o que você pensar. Mesmo a democratização dos meios de comunicação, que não quer diminuir a liberdade de ninguém, mas apenas ampliar a voz daqueles que não possuem, já foi atingida. É apresentada como bolivarianismo.
Já deu para entender a urgência de fazer a disputa política, concorda?
(*) Vinte anos de Economia Brasileira, Gerson Gomes e Carlos Antonio Silva da Cruz
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