quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Ataque extremista contra revista satírica deixa
12 mortos em Paris 

Homem exibe cartaz com a mensagem "Eu Sou Charlie", em referência à revista francesa Charlie Hebdo, durante vigília na praça Republique, em Paris, em homenagem às vítimas do atentado ocorrido na redação da publicação, nesta quarta-feira. 07/01/2015 REUTERS/Youssef Boudlal
 Alexandria Sage e John Irish   Reuters Brasil
                                               
 PARIS (Reuters) - Homens armados e encapuzados invadiram nesta quarta-feira(7) a redação em Paris de uma revista conhecida por satirizar o Islã e outras religiões e mataram pelo menos 12 pessoas, no ataque extremista com mais mortes no território francês em décadas.
A polícia iniciou uma caçada aos agressores, que escaparam depois de matar a tiros alguns dos principais cartunistas franceses na revista semanal Charlie Hebdo, além de dois policiais.
Segundo uma autoridade policial e uma fonte do governo, a polícia está à procura de dois irmãos da região de Paris e de um homem da cidade de Reims, no nordeste do país, todos cidadãos franceses.
Entre eles estão dois irmãos com idades entre 32 anos e 34 anos, bem como um homem com 18 anos, disse a fonte do governo à Reuters. A fonte da polícia afirmou que um dos irmãos tinha sido previamente julgado por acusações de terrorismo.
Um dos agressores foi filmado do lado de fora do edifício gritanto "Allahu Akbar!" (Deus é o maior), enquanto se ouviam os tiros. Outro foi até um policial ferido e deitado na rua e disparou um rifle contra ele a queima-roupa, antes dos dois calmamente entrarem num carro preto e deixarem o local.
Uma autoridade do sindicato policial disse que os homens, três no total, permaneciam soltos, e havia temores de mais ataques. Uma autoridade descreveu a cena na redação como uma carnificina, com mais quatro feridos lutando para sobreviver.
VIGÍLIA PELA FRANÇA
PhotoDezenas de milhares de pessoas se reuniram em atos improvisados ao redor da França em memória das vítimas e em apoio à liberdade de expressão.
O governo declarou o mais elevado estado de alerta, intensificando a segurança nos transportes, locais religiosos, redações de meios de comunicação, lojas de departamento, enquanto a busca aos agressores continuava.
Alguns moradores de Paris expressaram medo em relação aos efeitos dos ataques para as relações entre comunidades na França, país que tem a maior população muçulmana da Europa.
"Isso é ruim para todo mundo, particularmente para os muçulmanos, apesar do fato de que o Islã é uma religião boa. Corre o risco de fazer uma situação ruim ficar pior", disse à Reuters Cecile Electon, que trabalha com arte e que se descreveu como ateia. Ela participava de uma vigília em Paris que reuniu 35 mil pessoas.
A revista Charlie Hebdo é conhecida por provocar controvérsias com sátiras a líderes religiosos e políticos e já publicou várias caricaturas ridicularizando o profeta Maomé. Extremistas alertaram repetidas vezes pela Internet que a revista pagaria por isso.
A última mensagem da revista no Twitter debochava de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, grupo que tomou o controle de partes dos territórios do Iraque e da Síria e defendeu ataques em solo francês.
Ninguém assumiu a responsabilidade pelo ataque à revista. No entanto, uma testemunha citada pelo jornal diário 20 Minutes disse que um dos agressores gritou antes de entrar no carro: "Diga à mídia que isso é al Qaeda no Iêmen!".
Simpatizantes do Estado Islâmico e outros grupos extremistas comemoraram os ataques na Internet. Governos europeus expressaram o temor de que combatentes voltando do Iraque ou da Síria poderiam realizar ataques nos seus países de origem.
"Hoje, a República Francesa como um todo foi o alvo", disse o presidente francês, François Hollande, num pronunciamento na televisão, declarando a quinta-feira dia nacional de luto.
Num vídeo exibido pela TV francesa iTELE, os agressores são ouvidos gritando em francês: "Matamos Charlie Hebdo. Vingamos o profeta Maomé."
EXECUÇÕES
O promotor parisiense François Molins disse que os agressores mataram um homem na entrada do edifício para forçar a passagem. Eles então foram para o segundo andar e abriram fogo contra uma reunião editorial com oito jornalistas, um policial que fazia a proteção do diretor da revista e um convidado.
"O que vimos foi um massacre. Muitas das vítimas foram executadas, a maior parte delas com ferimentos na cabeça e no peito", afirmou à Reuters Patrick Hertgen, do serviço de emergência que atendeu aos feridos.
Entre os mortos estão o cofundador Jean "Cabu" Cabut e o editor-chefe Stephane "Charb" Charbonnier.
Um atentado com bomba incendiária já havia destruído a antiga sede da revista em novembro de 2011 depois que a publicação estampou na capa uma imagem do profeta Maomé.
O diretor do Conselho Francês da Fé Muçulmana, Dalil Boubakeur, condenou um "ato imensamente bárbaro também contra a democracia e a liberdade de imprensa" e disse que os seus autores não poderiam dizer que são verdadeiros muçulmanos.
Rico, um amigo de Cabut, que se juntou à vigília em Paris, disse que seu amigo pagou por pessoas que não entenderam o seu humor.  

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