terça-feira, 3 de junho de 2014


O  Brasil  do  qual  me envergonho não é o
da Copa:  é, sim, o
da grande mídia
Washington Araújo (*)                      
                               
O Datafolha me pergunta se tenho orgulho ou vergonha da Copa.
Tenho muito orgulho da Copa. Assim como tenho orgulho do Brasil. Entendo que não vivemos no melhor dos mundos, mas é ridículo querer que o Brasil seja melhor sem que nós mesmos nos esforcemos para ser melhores pessoas, melhores cidadãos, melhores brasileiros. Aqueles que têm vergonha do país provavelmente entendem que o Brasil pode ser melhor apenas por um ato de governo ou mediante simples decreto presidencial, como se 500 anos de atraso fossem apagados em pouco mais de uma década.
Tenho vergonha - e muita - da "mídia gangster" que nós temos, com os interesses escusos do submundo que ela representa, sufocando a pluralidade de pensamento, agindo como cartel da informação, desestabilizando governos eleitos democraticamente, atuando para manter seu monopólio que trata notícia com mercadoria, negociando favores que nem mesmo pode noticiar, sonegando impostos milionários e nunca atendendo aos muitos pedidos para que apresente o Darf.
Disso tenho vergonha. Muita vergonha mesmo.
Tenho vergonha de gente como Ronaldo, um fenômeno de mau caratismo: passou dois anos lucrando com sua imagem associada à organização da Copa 2014, deu entrevistas muitas, desancou Romário por ser ideologicamente contra a Copa e, assim sem mais nem menos, para continuar faturando com a Globo e a grande imprensa, deu uma de moleque, fazendo o jogo da grande imprensa e dos seus black blocs e grupos do tipo "#nãovaitercopa".
Tenho vergonha da manipulação grosseira e contínua de nossa imprensa que, ao sentir que agora teremos sim uma lei para regular seus excessos, conforme estipula a Constituição de 1988, resolve inviabilizar a Copa no Brasil como jogada política para desestabilizar o Governo.
Disso também tenho vergonha. Muita vergonha mesmo.
Tenho vergonha de pessoas como Luciano Huck por lucrar com a miséria das pessoas que vão buscar seu apoio para mobiliar uma casa, recauchutar um carro velho, conseguir internação em hospitais. Vergonha porque não imagino alguém ser feliz às custas de emoções de gente sofrida. Vergonha por seu senso de oportunismo doentio: vender camisetas com bananas surfando na agressão ao Daniel Alves foi a gota d'água.
Tenho vergonha de uma imprensa venal que idolatra um ministro como Joaquim Barbosa que mostrou ser vingativo, autoritário, preconceituoso, grosseiro, chiliquento e injusto, insultou e agrediu seus pares no Supremo Tribunal Federal, mandou um jornalista honesto ir chafurdar no lixo, desacatou todos os advogados do país e todos os magistrados com decisões absolutamente à margem das leis, interferiu em Vara de Execuções Penais e se deixou ludibriar pelo brilho fugaz dos holofotes, como se ele pudesse pairar acima das leis.
Tenho vergonha (alheia) de Joaquim Barbosa que, ao anunciar sua aposentadoria do STF, obedece apenas ao seu doentio orgulho - não aceita ser presidido por um de seus muitos desafetos na Corte, o ministro Ricardo Lewandowski. E age assim apenas pela certeza que tem que sob qualquer presidência sensata do STF suas decisões ditatoriais terão que ser revogadas de imediato.
Também tenho vergonha de quem nunca se posiciona sobre nada, prefere o conformismo do ficar eternamente em cima do muro e ainda encontra forças para escancarar que quer agindo assim mudar o mundo. A mesma vergonha dos que, desejando estar sempre bem na foto, concordam com tudo e todos, mesmo que tudo e todos representem ideias e pensamentos imensamente distintos.
TOMAR POSIÇÃO É EXTENSÃO DO ATO DE PENSAR.
(*) Washington Araújo é  jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha e México. 

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