A Copa no Brasil e o
Brasil na Copa: duas
coisas diferentes
O BRASIL POR AÍ
Boa análise da Slate sobre o clima pré Copa aqui no Brasil. How the World Cup Made Brazil Hate Its Own National Team, ou “Como a Copa do Mundo fez o Brasil odiar a sua própria seleção”. Diz o artigo: “Futebol, como reza o cliché, é uma religião no Brasil, e o futebol sempre catalisou a identidade nacional. Essa Copa do Mundo, infelizmente, representa uma coisa feia: um sistema corrompido por políticos desonestos e corporações sem escrúpulos, que existiam no país antes de Sepp Blatter e seus comparsas chegarem; ele só tornaram tudo isso pior. E, pecado dos pecados, eles desviaram a Seleção da sua missão: eles a tiraram do povo”.
É impressionante como Joseph Blatter e a FIFA vão se consolidando internacionalmente como vilões. A FIFA virou a Enron. E Blatter, uma espécie de Imperador Palpatine do mundo da bola. E eu sou velho o bastante para lembrar de que ele assumiu como um lufada de ar novo depois dos longos anos João Havelange…
E nesse excelente artigo do The Guardian sobre a Copa e sobre o Brasil, Goals, thrills and villainy – so far this has been a World Cup to savour – The 2014 tournament has gone off like a train with attacking football, real controversy and warm and generous hosts, ou “Gols, emoção e vilania – até aqui essa tem sido uma delícia de Copa do Mundo – o torneio de 2014 começou como um trem com futebol ofensivo, grandes controvérsias e anfitriões generosos e cheios de calor humano”, fica claro que o mundo nunca mais verá o Brasil como antes. E acho que nós mesmos também não. Essas duas mudanças de opinião são importantíssimas. Diz o artigo: “É tentador, até para o menos romântico dos fãs de futebol, perceber que a mão do Brasil está em todo lugar. Esse é um país estranhamente infeccioso, um lugar em que não importa quantas camadas de cobertura você coloque por cima de si mesmo, não importa o quanto você ajuste o ar condicionado, o Brasil ainda assim vai penetrar com seu calor pelas frestas. As coisas são diferentes no Brasil. Elas parecem… brasileiras: a grama, a luz, a sensação de estar num país gigante, o maior palco do mundo para o futebol. Os lances dos jogos aqui parecem de algum modo elevados, como se vistos em widescreen ou simplesmente… brasileiros”.
Já viu os vídeos oficiais da FIFA sobre as cidades sede? É assim que o mundo está conhecendo lugares como Cuiabá, Natal e Curitiba. Veja abaixo, por exemplo, o vídeo do Porto Alegre...
O BRASIL POR AQUI
A mudança de percepção está acontecendo aqui dentro também, entre os milhares de visitantes que estão navegando pelo país. A Exame retrata isso na matéria “São Paulo surpreende e conquista estrangeiros” Diz o texto: “Ninguém precisa mais imaginar como seria na Copa. Ela chegou há dez dias, trouxe um mar de estrangeiros para a capital paulista e bem menos problemas do que o esperado. ‘Falaram muito sobre a falta de organização e segurança, mas nós não passamos por nenhuma situação difícil. Tudo tem funcionado bem’, disse a inglesa Mary Yanni, de 28 anos. Em geral, assim como Mary, turistas de outros países que circulam pelas ruas de São Paulo revelam surpresa com a infraestrutura e as atrações da metrópole.”
E não é que os vira-latas também podem mesmo apresentar características de possantes Rottweilers? Na matéria“Estrangeiros listam dez exemplos que o Brasil poderia exportar”, a Zero Hora faz uma boa lista de comportamentos brasileiros que os estrangeiros costumam admirar. Entre eles, “festa”, “abraço”, “compartilhar bebidas”, “receber bem os estrangeiros”.
CUIDADO COM OS GRINGOS!
O jornalista Juremir Machado da Silva levanta dado interessante da Copa em Porto Alegre: “Polícia registra mais crimes com turistas como autores do que como vítimas na capital”. Diz a matéria: “Desde o começo da Copa do Mundo, menos de 30 ocorrências policiais envolvendo turistas foram registradas em Porto Alegre. A maior parte desses crimes teve estrangeiros como autores e não como vítimas, segundo a titular da Delegacia de Apoio ao Turista da Polícia Civil de Porto Alegre (DPTUR), delegada Camila Defáveri. Entre os tipos de ocorrências policiais verificadas durante a Copa está principalmente perda de documentos e ingressos de jogos. Outros registros dizem respeito a cambistas e furtos, com oito casos tendo os turistas como investigados. A delegada explica que, na semana passada, um peruano, que já possuía antecedentes criminais e cometeu furto, foi deportado. Ela entende que o cenário é positivo e fala que a sensação de segurança está fazendo com que muitos visitantes prolonguem a estada na Capital gaúcha.”
IMAGINA DEPOIS DA COPA...
Geneton Moraes Neto, com sua precisão habitual, já antecipa a depressão pós-Copa, a grande abstinência de festa e bom futebol que nos assolará a todos. Não precisa se preocupar com isso agora, que é hora de curtir, mas que os dias que se seguirão à final da Copa, em 13 de julho, serão sorumbáticos, ah, isso serão…
“E uma grave questão se desenha no horizonte. Ninguém espalhe – mas uma grave questão existencial e filosófica terá de ser encarada em breve por nós, os nativos deste gigante plantado às margens do Atlântico Sul. A grande questão é: o que será da vida depois da Copa? Como enfrentar o tempo sem esses jogaços, esses gols, esses dramas, essas apoteoses? Quando é que trarão outra Copa para o Brasil? Dizei, ó esfinges mudas! Dizei, ó guardiões dos segredos! Dizei, ó paredes dos estádios! Dizei, ó musas das multidões em transe!”
QUE TIPO DE TORCEDORES SOMOS NÓS?
A Argentina, a Colômbia e o Chile estão jogando em casa nessa Copa. E o Brasil? O bom artigo de Marcos Sergio Silva, da revista Placar, discute esse assunto. Além do bundamolismo básico do torcedor brasileiro, que aplaude só quando o time está bem e é impossível não aplaudi-lo, e que adora vaiar os ídolos à primeira imperfeição que se apresentar, o público da Copa, de modo geral, não é de gente que costuma ir a estádios. Muito menos jogar junto e empurrar quem está em campo. (Será que isso também não é válido para as demais torcidas que estão aqui no Brasil?) Seja como for, precisamos ir ao estádio mais com aquele espírito argentino de fazer a nossa parte, de acender os jogadores das arquibancadas – em vez de esperar sermos acendidos nas arquibancadas por eles. A boa torcida é o 12º jogador e tem que dar espetáculo à parte. Tem que pular e cantar e incentivar o tempo inteiro. Assistir o jogo de pé, e sentar só no intervalo ou no transporte depois da partida. Podíamos começar trocando a musiquinha – “Eu sou brasileiro/Com muito orgulho/Com muito amor” –, que é chata demais.
A COPA NO BRASIL E O BRASIL NA COPA
Três coisas para pensar depois da vitória da seleção ontem por 4 a 1 sobre Camarões.
1. A Copa, para o Brasil, começa agora.
2. O Chile é perigosíssimo.
3. O sucesso da Copa do Mundo no Brasil, para o Brasil, independe do sucesso do Brasil na Copa.
Lembremos disso.
CLUBES MAIORES QUE SELEÇÕES
O Bayern é Neuer, Lahm, Schweinsteiger, Miller etc. Mais Ribéry. Mais Robben. Etc. Ou seja: o Bayern é melhor que a Alemanha. Assim como o Barça e o Real são melhores do que a Espanha. É só fazer a conta.
Esses são o tempos que vivemos.
O Santos era a Seleção Brasileira menos o Botafogo. O Bayern, ao contrário, é a seleção alemã mais o melhor jogador holandês mais o melhor jogador francês. Só isso.
A era do clube empresa já passou.
Agora é a era do clube-nação.
E o resto é zebra.
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