Nas costas de um jacaré…
Fernando Brito T I J O L A Ç O
8 de outubro de 2013 | 12:22
A repórter Natuza Nery, da Folha, publica hoje uma inteligente e bem-humorada análise da sucessão presidencial, chamando a atenção para a originalíssima situação de cada candidato, hoje, ter um apoiador – o presumível apoiador – com potencial eleitoral maior do que o dele próprio.
Dilma tem Lula. Ressalve-se que, neste caso, a situação tem boas diferenças das demais. Lula fez Dilma existir como candidata e, nestes três anos quase de Governo não se viu uma divergência pública entre ambos, ao contrário. O ex-presidente, em todas as oportunidades, tem reafirmado ser “cabo eleitoral” da Presidenta e é até muito menos econômico que ela nas declarações eleitorais, até porque ela, como governante, se obriga a maior resguardo verbal.
Eduardo Campos, agora, tem Marina Silva. Com o dobro e até o triplo das intenções de voto do pernambucano, a tentação de “porque não o inverso?” será um fantasma permanente nesta geléia que reúne personagens tão distintos como Ronaldo Caiado, Jorge Bornhausen, Luiza Erundina e Alfredo Sirkis.
E Aécio Neves “tem” José Serra, que abriu o olho, mostrou os dentes e depois voltou a ficar imóvel, esperando para ver.
O texto, imperdível, de Natuza segue abaixo:
Sombra (Natuza Nery)
Tudo bem, Marina Silva entrou no PSB dizendo apoiar Eduardo Campos como líder de chapa à Presidência da República e se dispondo a ser vice.
Tudo bem, Lula já repetiu zilhões de vezes que sua candidata é Dilma Rousseff para acalmar os mais assanhadinhos do PT que desejam sua volta ao poder.
Tudo bem, José Serra ficou no PSDB e, ao que consta, não prometeu nada a Aécio Neves.
A surpresa da aliança sacramentada no último sábado produziu um fato curioso. Agora, religiosamente, todos os presidenciáveis até aqui posicionados têm, em comum, um candidato no banco de reserva a fungar-lhes a nuca.
Eis outra esquisitice: todos os “jogadores suplentes” têm hoje mais intenção de voto do que o primeiro time.
As pesquisas de opinião assombrarão os titulares aqui e ali. Haverá, tal qual uma análise combinatória, cenários eleitorais ora com o plano A, ora com o plano B de cada partido. Se o primeiro piscar, a duplicata chega junto.
Marina é o caso mais excêntrico. Trocou seus 26% de intenção de voto pelos 8% de Eduardo Campos. Chamou o ingresso no PSB, em confuso marinês, de “filiação democrática e transitória”. O nome é até pomposo, mas de inevitável tradução chula: partido hospedeiro.
Ninguém nega, porém, que a união dos dois em uma única terceira via adicionou charme à chapa, com o perdão da aliteração. Mas trouxe riscos. Não só à dupla, também aos outros.
Para Aécio, o efeito colateral é fazer crescer sua sombra, Serra, e animar tucanos que ainda apostam que o mineiro pode amarelar na reta final. Para Dilma, o perigo é ressuscitar o bloco, ora dormente, do “volta, Lula” e diluir parte do apoio doméstico à presidente da República.
Já não é preciso fazer gráfico, tirar a média ponderada e calcular o desvio padrão para deduzir que, dessa equação política, uma coisa é certa: o mercado político, daqui por diante, virou campo muito mais fértil a intrigas.
PS. Não tenho como deixar de lembrar uma frase que o velho Leonel Brizola vivia repetindo: a política ama a traição, embora um dia termine por abominar o traidor.
Por: Fernando Brito
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