sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Como calçar um sapato de Marina Silva no pé de Eduardo Campos?   

O que o governador de Pernambuco fazia no programa partidário do PSDB? A propaganda partidária do PSB foi como calçar um sapato da ex-senadora no pé de Campos: simplesmente não cabe.
por Helena Sthephanowitz                           
© PSB.ORG.BR / REPRODUÇÃO
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Marina e Campos no programa do PSB: aparentemente, um não cabe nos planos do outro. E vice-versa
O tom oposicionista da propaganda partidária semestral do PSB na TV levado ao ar ontem (10) deve ter guiado telespectadores a perguntarem: o que o governador Eduardo Campos estava fazendo no programa político do PSDB?
O marqueteiro do PSB até que foi engenhoso, ao tentar conciliar o reconhecimento de conquistas sociais do atual governo federal (e até dos anteriores) com críticas ao que falta ser conquistado, ferramenta usualmente explorada por oposicionistas. O problema é que essa mensagem serviria para um novato na política, ou pelo menos novato em cargos executivos. A mensagem não casa com a imagem de veterano e de um governador experiente como Eduardo Campos.
Ele não está caindo de paraquedas no sistema político. Ele é governador há sete anos e, para sustentar esse discurso, Pernambuco teria de já ter avançado e muito na saúde, na educação e nos demais serviços públicos. As dificuldades enfrentadas por ele como governador são semelhantes às enfrentadas pelo governo federal e por prefeitos honestos, às voltas com a necessidade de reconstruir sistemas de saúde e educação, por exemplo, que foram sucateados durante décadas seguidas no passado, e com as limitações orçamentárias existentes, seja pela falta de condições políticas para criar novos impostos, seja por manter a balança de pagamentos equilibrada, sem retrocessos.
Pelo mesmo motivo, a figura de Campos também não combina com falar em "nova política". Ele já se tornou um oligarca político em Pernambuco, é alvo de denúncias de nepotismo em seu governo, fez alianças com todos os demais oligarcas daquele estado. E nos últimos tempos tem se aliado aos setores mais retrógrados da velha política e com qualquer um que se disponha a apoiá-lo. Um exemplo claro é a entrega do PSB de Santa Catarina para o grupo da família Bornhausen.
Enfim, a propaganda partidária do PSB foi como calçar um sapato de Marina Silva no pé de Eduardo Campos. Simplesmente não cabe.
Também beirou o cinismo Campos querer se colocar como um candidato das manifestações de rua. Em Pernambuco, muitos dos protestos populares foram contra seu governo e a repressão policial contra os atos públicos cometeu excessos tanto quanto as polícias de outros estados.
Além disso, se Campos quisesse de fato se comprometer com a agenda das ruas, poderia pelo menos usar a propaganda eleitoral para se comprometer e pregar uma reforma política com mais participação popular, combater o financiamento privado de campanhas eleitorais e apresentar propostas de mecanismos de financiamento da saúde, da educação e do transporte público, por exemplo.

E ela com isso?

Por falar em Marina Silva, a ex-senadora apareceu nos três minutos finais da propaganda gratuita de seu novo partido. A edição das falas dela acabou sendo usada para encher a bola de Campos. Coube a Marina o papel até de recitar versos para governador! Hum... 70% do horário para Campos. Outros 30% divididos entre Campos e Marina, com ela elogiando ele? Alguém tem dúvidas sobre quem pretende levar vantagem e ficar na cabeça de chapa? Essa relação Marina-Campos parece aqueles casamentos por interesse dos dois lados, onde cada um acha que está passando a perna no outro. Nessa edição da propaganda eleitoral ele levou a melhor, pelo menos na disputa interna. Vamos ver onde isso vai dar.
O programa foi tecnicamente bem feito, "bonitinho", mas ou ele aparecer estragou a propaganda ou a propaganda estragou a aparição dele. E a ansiedade, que é bem diferente e não se confunde com ousadia, levou o partido a se nivelar à oposição tucana em vez de ficar em cima do muro da "terceira via", como parece ter sido a intenção do marqueteiro.
Chegou-se a usar o termo "urubologia" em sua abertura, coisa comum na imprensa alinhada com o PSDB. Foi uma aposta de alto risco, com grande chance de Campos vir a se dar mal. Talvez por isso Marina Silva não reclame de ter sido colocada recitando versos para ele. Campos pode ter se atrapalhado sozinho, o que, em tese, abre caminho para a candidatura dela se impor dentro do PSB, como acreditam e exigem os "sonháticos".

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