quinta-feira, 24 de outubro de 2013


Marina: pela benção da mídia, o culto

ao blasfemo “Deus-Mercado”                  


Fernando Brito                                                        

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24 de outubro de 2013 


Nesta minha maratona hospitalar – que, felizmente, está terminando, e bem – não tive tempo de comentar a entrevista de Marina Silva ao Roda Viva, da qual assisti trechos, apenas.
Socorro-me, entretanto, do ótimo amigo Altamiro Borges que publicou, ontem, em seu blog, um ótimo artigo sobre a entrevista.
Vou deixar de lado a questão religiosa – por tudo, e em tudo algo, estranho à vida pública num Estado laico – e frisar o acerto de Borges ao destacar a conversão de Marina às ideias velhas, aquelas que sempre governaram este país.
Tornar-se  adorador das leis do mercado, que destroem natureza e seres humanos como nunca e relegam ao cativeiro da pobreza milhões de seres humanos é que, até para um ateu como eu, ofende a qualquer Deus humano.
Converter-se ao culto dos dogmas do neoliberalismo – ótima expressão de Lula naentrevista ao jornal português Expresso – é legitimar as regras que mantêm o Brasil no atraso e seu povo na pobreza.
Podemos até não evitar que estas regras ainda se imponham, até certo ponto, em nome  da estabilidade das instituições democráticas. Mas jamais nos curvarmos a elas e ainda menos louvá-las.  Isso, sim, seria blasfêmia.
Marina Silva bajula a mídia amiga  
Altamiro Borges - eno 'Blog do Miro'
Marina Silva é só amores com os donos da mídia. Ela é tratada com todo o carinho pelos jornalões, revistonas e emissoras de tevê. Quase todo dia é destaque na velha imprensa. Isto talvez explique a defesa apaixonada que a ex-verde fez da atuação da mídia no país durante o programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura nesta segunda-feira (21). “Não acho que deva ter controle porque uma das coisas que ajuda a própria democracia é a liberdade de expressão. Acho que a imprensa dá grande contribuição para várias questões, como na minha área [meio ambiente]”, afirmou a provável vice de Eduardo Campos na campanha presidencial de 2014.
Neste clima de amores, os barões da mídia tendem a reforçar ainda mais o coro para que ela dispute a sucessão pelo PSB – deixando na reserva o governador de Pernambuco. Mas não é só no debate sobre a regulação democrática da mídia – que ela maliciosamente chama de “controle” – que a ex-ministra tem agradado os empresários do setor. A cada dia que passa, Marina Silva explicita a sua completa cedência às teses neoliberais e sua fundamentalista adoração ao “deus-mercado”. No programa Roda Vida, ela voltou a criticar o governo Dilma por ter abrandado o chamado tripé macroeconômico – dos juros elevados, austeridade fiscal e libertinagem cambial.
Mas o conservadorismo da ex-verde não se manifesta apenas na economia. Como ironiza José Carlos Ruy, no sítio Vermelho, no programa da TV Cultura “houve também o lado folclórico, quando ela tratou de homossexualismo, casamento gay, pesquisas com células-tronco, criacionismo… Ela reconheceu que as pessoas devem ter tratamento igual, mas ‘quando se fala em casamento, evoco o sacramento’. Nesta condição, ela não aceita o casamento gay, embora o admita como direito civil. A pérola veio quando falou sobre criacionismo. Não sou criacionista, disse. E declarou acreditar que Deus criou todas as coisas, inclusive a grande contribuição dada por Darwin”.
Para José Carlos Ruy, estudioso da história, “Marina Silva é a recente versão do que há de mais tradicional e conservador na política da classe dominante brasileira. A história tem exemplos desse tipo de ‘novo’; Jânio Quadros, há mais de cinquenta anos, surgiu como uma espécie de alternativa aos partidos e aos políticos; ele bateu de frente com o Congresso Nacional e renunciou melancolicamente sete meses depois de assumir a Presidência da República. Era em tudo parecido com Marina Silva. Na política, rejeitava os partidos e acusava o Congresso Nacional de chantageá-lo (Marina repetiu esse argumento no programa Jô Soares, dia 15, dizendo que Dilma é chantageada pelo Congresso!). Na economia, defendia o mesmo velho e fracassado programa conservador: contenção nos gastos públicos, pagamento de juros, enxugamento da máquina do Estado”.
“No ocaso da ditadura militar, outra versão ‘jovem’, ‘apolítica’ e economicamente conservadora surgiu na figura de Fernando Collor. Durou pouco”, lembra José Carlos Ruy. Isto também ajuda a explicar as juras de amor entre Marina Silva e os barões da mídia. Nos dois casos citados, os tais representantes do “novo” tiveram o apoio da chamada grande imprensa nas suas campanhas presidenciais contra candidatos mais à esquerda. Marina Silva bajula a mídia; e a mídia sabe, sempre, a quem bajular!

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