Quem é mesmo que defende o Estado mínimo?
(publicado originalmente em 2010)
Do AMgóes - Quem é mesmo que defende o ‘Estado mínimo’? Lá atrás, há quatro décadas, era a ‘escola’ do professor Milton Friedman, um dos mais influentes teóricos do liberalismo econômico, pai da famosa e pertinente frase ‘não há almoço grátis’, premissa de justificativa plausível para a compreensão dos leigos mortais: no popular, se alguém ‘leva algum’, outrem, obviamente, fica no ‘preju’. Claro, tudo nos marcos da ‘competição’ capitalista, segundo a qual o meu ‘ganho’ equivale à sua ‘perda’.
Friedman, que chegou ao Nobel de Economia nos anos 70, quadra em que suas teses lograram eco no hemisfério norte, transitando com desenvoltura, de Nixon a Margareth Thatcher, foi ‘guru’ na América Latina, com ênfase no Chile de Pinochet. As idéias monetaristas do doutor Milton igualmente reverberaram no Brasil dos militares e chegaram até FHC. Nos anos 80, Friedman sustentara que “o sistema, além da capacidade para tornar impossível um colapso monetário, sabia como deveria proceder.”
O ‘neoliberalismo’ foi um contraponto para garantir singular ‘reserva de mercado’ aos donos do capital, face a incômodos pressupostos de ‘socialização estatal’ do pós-guerra, principalmente sob os ventos do leste europeu que acabaram chegando à ilha de Cuba, tida como ‘epicentro’ da ebulição ‘comunista’, ameaçadora da paz mundial. Inadmissível preconizar-se à época um ‘estado forte’ para avalizar o bem-estar social, sob pena de virulentos ataques contra o que identificavam como ‘tentativa solerte de implantação de regimes exóticos, inimigos da democracia e da ‘livre iniciativa’.
Oportuno rememorar que a grande recessão norte-americana, de 1929, ensejou à economia dos Estados Unidos ressurgir graças ao inglês John Maynard Keynes, categórico ao sentenciar: “O mercado financeiro não se corrige por natureza, conforme o argumento da economia clássica.” E completou, contra os especuladores de plantão, loucos pela posse do ‘espólio’ yankee: “O trabalho de organizar o volume de investimentos não pode ser deixado nas mãos da iniciativa privada em segurança.” Assim, coube ao ambicioso projeto do ‘New Deal’, do governo Roosevelt, recuperar a autoestima nacional, com ativa participação da sociedade de lá.
No dia 26 de novembro de 2008, nosso metafórico presidente da República explicava, em linguagem popular do ‘lulês’ para todos os gostos: “O sujeito ouve crise no café da manhã; crise no almoço; chega em casa à noite e ouve crise no jantar. Aí o sujeito se assusta e acaba por não comprar mais nada. Com isso, cai o consumo, a indústria não produz e, porque não produz, acaba demitindo. Aí, sim, temos crise.”
Ao arrepio de rebuscadas teorias econômicas, Lula repetiu a tese do ‘cidadão Keynes’ e sua crítica ácida à visão dos economistas clássicos sobre a recessão e as soluções do pragmatismo rentista, no começo do século passado, para os quais o mercado, moribundo à espera da ‘extrema-unção’, de repente se poria em pé, leve e fagueiro, graças aos sortilégios da autorregulação. E tudo voltaria ‘como d'antes, no quartel d’Abrantes!’ Tudo voltou porque o Estado(nos ‘States’) foi lá e ‘créu’, como naquela velha história do brigão derrotado, sem reconhecer o fracasso: ‘Chega pra cá, valente!’
Numa recessão, como a que atingiu há sete anos o mercado internacional, a partir das trapalhadas no outrora poderoso ‘primeiro mundo’, as empresas cortam investimentos, geram desemprego e queda do consumo, promovendo uma zorra total. Lá, na potência do norte, para contornar a crise, chegou o Obama, advindo coincidentemente de Chicago, a terra de Friedman, o apologista do ‘deus mercado’ que não viveu para assistir à derrocada de suas teorias estimuladoras do ‘estado mínimo’.
Aqui, no hemisfério sul, ao fomentar, à época, o consumo(aos cidadãos comuns) e o investimento(ao empresariado), Lula, empiricamente, reacendeu a fogueira da autoestima nacional, com base nos vitoriosos postulados da economia keynesiana. Para enfurecer e levar ao ‘haraquiri’ os exegetas ‘acadêmicos do contra’, seguiu cruzando o planeta, vendendo nosso ‘peixe’. De quebra, entre cobranças ressonantes por direitos dos ‘emergentes’, foi a Conpenhague para, em bom português, como monoglota ‘juramentado e militante’, dar uma força decisiva pelas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
Mesmo que você, com o direito que lhe cabe, torça o nariz e, por crônica miopia ideológica, enxergue o Brasil atual com jeito de ‘antigamente’, há de convir que ‘nunca, na História deste país’, chegamos tão alto ao pódio de alentadoras perspectivas, apesar dos desafios por conta de hediondos agentes da permissividade que, recalcitrantes, ainda ‘batem ponto’e resistem com furor entre nós, alicerçados, como sempre estiveram, na lógica de sinecuras, geneticamente criminosas e geradoras do lucro fácil, garantidas pela frouxidão da lei que(ainda) preserva a lógica antropofágica do poder econômico.
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