Infecção crônica, gangrena, amputação e penicilina
Edson Victor
Percebo que alguns defendem a condenação das empreiteiras envolvidas na Operação 'Lava Jato' (o que no caso pode levar à sua destruição) e não seus representantes malfeitores. Dão exemplos, como a Enron, A.Andersen, etc. Há outras como a MCI-Sprint-Worldcom, Siemens, Thomson e mesmo financeiras (HSBC, Fannie Mae/Freddie Mac, Goldman Sachs, AIG, Lehman Bros. Banca del Vaticano e outras tantas pelo mundo.
Confundem Empresa corupta (ex. Enron ou MCI) com corrupção em empresas. Desprezam também a existente divisão capital-trabalho e confundem a pessoa jurídica societária (que controla a empresa) com a empresa de fato, que é movida por muito mais do que seus sócios e executivos por eles nomeados, esquecendo do know-how e do suor que movem a OPERAÇÃO da empresa e seus RESULTADOS.
Antes de entrarmos no mérito desta discussão, suponho que todos reconhecem que o prejuízo para o país com a eventual quebra ou paralisia destas empresas é imensamente maior não só economicamente como socialmente, do que a corrupção praticada por elas, algumas sabidamente já desde a construção de Brasília nos anos 1950.
É comum na opinião do pensamento conservador notarmos todo tipo de simplificação, binarismo, emoção nivelatória encontrável até no comunismo, esquecendo que a sociedade, a economia e a política são extremamente complexas, sofisticadas e recheadas de interesses diferentes, embora justos (e outros injustos, no sentido da esperteza ou do privilégio).
Nos casos de corrupção, que existem no mundo inteiro e em níveis epidêmico-culturais no Brasil, se empresas a pessoas, no público e no particular, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença (não, não estou falando de casamento), precisamos avaliar as caracte´risticas envolvidas, como em QUALQUER ANÁLISE QUE SE PREZE.
Tentando simplificar:
A Enron era corrupta por orientação (e no caso, para benefício) dos seus comandantes. Vamos categorizá-la como AA, significando capital Aberto e corrupção Consciente em seu comando (board/executivos).
A Petrobrás tinha alguns corruptos dentre seus 80 mil funcionários. Será aqui a categoria MI, de capital misto e corrupção inconsciente.
Boa parte das empreiteiras é familiar (limitada ou S.A. de capital fechado), de corrupção cConsciente, cat. FC.
Há ainda os corruptos independentes, que são aqueles que usam de seu poder delegado de decisão (como o "enojado" Costa e Barusco) para enriquecimento pessoal
Em todas, há uma coisa em comum: milhares de funcionários que, se não compõem a empresa em seu capital societário, a compõem em todo o resto, em sua capacidade OPERACIONAL, como know-how e trabalho necessários a seus resultados.
A própria corrupção (corromper negócios) não é apenas pública mas privada ou combinada, e tem várias categorias, da oportunidade de desvio interno ou externo ao roubo puro e direto.
Na Enron e MCI, os próprios funcionários e fundos de pensão foram "roubados", com prejuízos e processos que ainda persistem contra os seus dirigentes beneficiados. O mesmo se dava na banca financeira, com milionários (e discricionários) bônus para os "eleitos". Nas hipotecárias(FM/FM) beneficiavam também os clientes amicci, numa ampla troca de favores e tráfico de influência.
Temos também a corrupção legalizada das empresas de lobby, que geram pagamentos de campanha dos congressistas que deveriam representar o "We the People", mas acabam representando apenas os (piore)s interesses de seus patrocinadores, em cadeiras de aluguel. Tudo num mar de absurdos enriquecimentos EM REDE e um mar de facilidades para caixa 2 e evasão de divisas e impostos para refúgios fiscais. Como o" We the People" deixa de ser representado (e passa a ser enganado), é óbvio que isto é corrupção do mais alto nível.
Embora o padrão de vida mais elevado e bem distribuído possa diminuir os índices de corrupção em países ditos desenvolvidos, o fator desregulamentação "desregrada" e legalização de atividades como o lobby e outras, mascaram ba parte da sua corrupção como mera atividade econômica "normal" (legal, mas imoral, para não reafirmar: corrupta!). Tal como nossos juros pornográficos, que um dia se pretenderam até inconstitucionais...
Nem mesmo os mais intensos papas do neoliberalismo aceitariam a designação de empresas como aliburton, Black Water e similares, todas "legais", mas certamente não representando nada além de poucos interesses particulares contra o interesse de seus próprios povos, além dos subjugados.
Nunca na História da democracia, um Congresso eleito pelo "povo" e representando sua constituição que começa com "We the People", se pensou que um grupo cheio de estelionatários fosse lhes impor uma decisão de tirar (inicialmente) dinheiro do "People" (uma "merreca de 0,7 trilhões de dólares ou cerca de 2 trilhões de reais) para dar a eles mesmos, com condições explícitas inacreditáveis como "não poder recorrer à Justiça" ou sequer dar indícios de onde seria usada esta montanha de dinheiro público, (que logo depois de autorizado, foi para os bolsos destes mesmos estelionatários em forma de milionários bônus). Tudo complementado por uma desregulamentação financeira que chegou ao nível de quase nenhuma.
Se isto não for entendido como corrupção, caixa 2, festa cm dinheiro público e inconstitucionalidade explícita, é melhor viajar com Alice para o país das Maravilhas.
Portanto, há muito mais entre o Céu e a Terra do que uma tosca e simplória classificação emocional de é corrupto ou não é corrupto! E pau nos que forem, custe o que custar
Se considerarmos os facilmente constatáveis nefastos efeitos da desconstrução da capacidade (e capital) nacional de projeto e construção (reconhecida até no exterior) por este medíocre e emocional critério, estaremos sendo tão inteligentes quanto amputar braços e pernas por feridas graves que podem ser tratadas com penicilina.
Por uma corrupção de 300 milhões (muito alta para) um enojante diretor, um reincidente doleiro e mais alguns outros, daremos um prejuízo de centenas de bilhões ao país, a sua maior empresa, a inúmeras obras infaestruturais pelo país, de estratégico interesse sócio-econômico e mesmo de competitividade e desenvolvimento (portos, ferrovias, energia, etc.). Gerar desemprego, quebras de empresas em cadeia desde as gigantes até os pequenos fornecedores. Sucateamento de know-how?
O papel da Justiça é processar crimes e seus autores, não tomar ações e decisões politico-econômico-estratégicas que afetam fortemente o país, de forma discricionária, para não dizer arbitrária..
Seu papel, que está longe de ser feito com competência, bom senso, discrição e isenção, não é o medieval e carniceiro amputar, mas contribuir para sanear, curar, com apropriados antibióticos.
Não a machadadas e cuteladas.
Que no caso, sequer rescendem a querer curar alguma coisa.
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