quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Pimenta: 'Caso HSBC pode ser 

maior esquema já detectado de 

corrupção do mundo'                      

Deputado conta que começou a apurar o escândalo na terceira semana de janeiro e que no último dia 11 entregou material sobre o caso ao ministro Cardozo, da Justiça, pedindo providências

Hylda Cavalcanti                    
LEONARDO PRADO/PT.ORG.BR/REPRODUÇÃO
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Petista Paulo Pimenta afirma que já atuava no caso dias antes de o escândalo vir a público no Brasil
BRASÍLIA – Foi na terceira semana de janeiro que o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) – parlamentar que inicia seu terceiro mandato, mas não deixou de lado o hábito de jornalista – descobriu que estava sendo investigado em vários países o escândalo de contas abertas irregularmente por clientes do HSBC na Suíça. Ao acompanhar detalhes do caso, soube que existiam nomes de brasileiros entre os correntistas dessas contas e tratou de fazer suas próprias apurações. Pimenta contou, nesta tarde, durante entrevista concedida à RBA, que no último dia 11, antes mesmo de os jornalistas terem acesso à notícia, ele já estava atuando no caso.
  
Primeiro, na elaboração de um relatório mais detalhado, por parte do seu gabinete. Depois, com os documentos em mãos e após ter feito contato com vários personagens internacionais, ele pediu uma audiência ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e foi atendido no dia 11. Entregou o material a Cardozo, pediu providências por parte do governo brasileiro para que passe a participar da investigação com os órgãos competentes e, dois dias depois, protocolou formalmente a solicitação.
Somente na segunda-feira (16) ele deu entrada no pedido junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitando a investigação do caso e que o órgão tenha acesso à lista da qual fazem parte entre 6.700 a 8.500 nomes de brasileiros que lavaram ou sonegaram dinheiro para fora do país por meio do HSBC, além de pedir a divulgação da listagem. Foi somente aí, segundo ele, que a notícia começou a ser divulgada paralelamente pelo jornalista Fernando Rodrigues por meio da Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), pelo site UOL.
“Aqui no gabinete, somos todos jornalistas (os assessores da sua equipe na Câmara) e estávamos trabalhando nisso há algumas semanas. Ainda acho que até poucos dias atrás, as pessoas (jornalistas brasileiros) ainda não tinham dimensão do tamanho desse caso”, afirmou, ao referir-se ao tema como o que pode vir a ser “o maior esquema de corrupção do mundo já detectado”.

Reuniões

Paulo Pimenta vai tratar do assunto junto aos outros parlamentares durante uma reunião já agendada pela bancada do PT na próxima segunda-feira (23), às 18h, no Congresso. Também tem uma audiência na próxima semana com representantes, no Brasil, do organismo internacional que está investigando o caso por aqui. E tem mantido contatos periódicos com a senadora norte-americana Elisabeth Warren, uma das primeiras a denunciar o esquema, com quem se comunicou desde o início e cuja troca de informações tem sido constante.
Além da senadora, da PGR, dos órgãos de investigação internacionais, também fazem parte da sua lista de contatos, militantes envolvidos na busca por informações mais detalhadas sobre o HSBC da França e da Inglaterra. “Penso da seguinte forma: precisamos primeiro ter a lista com todos os nomes de brasileiros para apurar o que aconteceu. Se as contas não forem declaradas à Receita Federal, temos aí dois crimes, de evasão de divisas e de sonegação. E a partir de então, teremos que investigar a origem desse dinheiro”, destacou, ao explicar que o banco oferecia, do Brasil, a abertura da conta na Suíça para que o depósito fosse feito por lá.
Sobre a forma tímida com que a grande mídia tem divulgado a notícia nos últimos dias, evitando divulgar os nomes da referida relação em sua totalidade, o parlamentar lembrou que se for observado qualquer jornal do mundo, hoje, o assunto está nas primeiras páginas, com exceção dos veículos de imprensa brasileiros. “Isso acontece devido à insegurança do que poderiam descobrir numa investigação que não se sabe ainda até onde poderá chegar. Por isso, não serve para os grandes veículos”, opinou.

Tráfico

As contas que estão sendo investigadas foram abertas a partir do final da década de 1990 até 2007.  A expectativa é de que esses correntistas tenham movimentado um valor aproximado de US$ 7 bilhões num esquema de evasão de divisas acobertado pela instituição financeira. “Isso pode trazer à tona personagens com vínculos diversos. Pode envolver esquemas relacionados ao tráfico de armas, tráfico de drogas e grandes casos de corrupção de muitos países”, acrescentou.
Sobre a investigação da PGR que pediu recentemente para ser iniciada e as críticas divulgadas hoje sobre a lentidão para a apresentação da denúncia de políticos envolvidos na Operação Lava Jato pelo órgão – o que tem levado a especulações de que este caso terá o mesmo andamento moroso que tem sido observado em relação ao escândalo envolvendo a Petrobras –, Paulo Pimenta acredita que, a seu tempo, tanto o Ministério da Justiça como também a PGR cuidarão da investigação.
Ele disse que não teme que a lista seja escondida por pressão de nomes do mercado financeiro e políticos interessados em omitir os titulares das contas porque, a seu ver, não há como o assunto deixar de ser mencionado mais. “Em algum momento essa lista vai aparecer, não estou preocupado com isso. Se não for divulgada por aqui no Brasil, será em algum outro país e chegaremos a todos os nomes. Está havendo um movimento mundial para que os correntistas sejam revelados e não vejo como isso possa ser mais bloqueado, porque parte de vários países e a indignação com o caso é imensa”, acentuou.

Acesso

O deputado ressaltou que não se incomoda com a forma como alguns veículos de comunicação estão evitando divulgar os nomes. O UOL, por exemplo, comunicou aos leitores que só vai mencionar nas matérias sobre o caso, nomes que estejam relacionados a empresas ou entidades que “tiverem interesse público e, portanto, jornalístico”, ou os que se possa “provar que existe uma infração relacionada ao dinheiro depositado no HSBC na Suíça”.
“É estranho esse critério porque uma coisa nós já sabemos: que essas pessoas são ricas. E que são enormes as chances de que sejam sonegadores. Mas se estes veículos não quiserem divulgar todos os nomes agora, não tem problema. Nós queremos ter acesso a tudo, e isso será feito e divulgado assim que conseguirmos a relação completa”, salientou.
“É por isso que insistimos no acesso à relação em sua totalidade: para evitar escolher aqueles nomes que valem a pena divulgar e deixar outros de lado. A divulgação seletiva é ruim para todos porque esse escândalo nos permitirá entender melhor e acabar com esse grande esquema de corrupção, assim como a raiz do dinheiro e por onde circulou. Os esclarecimentos tendem a nos revelar outras conexões, feitas por mais bancos que também possam ter se constituído em lavanderias internacionais”, frisou.

‘Hipocrisia’

Pimenta, quando questionado sobre o fato desse e outros casos observados atualmente apontarem para a necessidade de uma mudança dos vetores de concentração de renda e combate à desigualdade no país, citou a importância de vir a ser rediscutida a legislação sobre grandes fortunas e sobre o envio de altos volumes de dinheiro para os paraísos fiscais, inclusive para desvendar cadeias enormes voltadas para o crime organizado.
“Esse caso desnuda um pouco a hipocrisia de setores de uma suposta elite conservadora brasileira que encontra eufemismo para diferenciar roubo de sonegação, que critica o Bolsa Família, mas encontra formas de fazer seu dinheiro ir parar na Suíça para não pagar impostos”, frisou. É nesta luta obstinada, que o parlamentar aposta, e à qual pretende dedicar seus próximos dias, ao lado dos colegas com quem vai debater o tema na próxima segunda-feira.
Informações divulgadas pela revista Carta Capital mencionam como alguns nomes da lista de correntistas brasileiros já citados fora do país Edmond Safra, várias pessoas da família Steinbruch, Pedro Barusco, Júlio Faerman, Henrique Raul Srour, Raul Sabbá, Chaim Zalcberg, Augusto Ribeiro de Mendonça e Paulo Chiele.

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