quarta-feira, 16 de julho de 2014

Não, não houve preconceito na comemoração dos alemães        


Paulo Rená da Silva Santarém (*)       HIPERFÍCIE
Um texto na Carta Maior traz o alarme: “Jogadores alemães jogam fora patrimônio da Copa”, afirmando que os jogadores teriam feito uma dança racista na comemoração em Berlim. Mas calma, é apenas mimimichorume, uma lorota sensacionalista. E tudo o que se jogou fora nessa matéria foi só o bom jornalismo.
Carta Maior
Segue o texto preguiçoso assinado por Flávio Aguiar:

Seis jogadores (…) entraram na passarela imitando macacos, andando quase de cócoras, e gritando: “assim andam os gauchos”. Depois se erguiam e gritavam: “assim andam os alemães”.
Uma lástima.
Depois vinham outros jogadores: Schweinsteiger, Neuer, Höwedes, Grosskreuz, Draxler, Matthias Günther, imitando uma fila indiana (como os brasileiros entravam em campo) se abaixando.
Uma pena.
Houve até aplausos.
Jogaram fora uma vitória. (…) É sinal de que a taça não está em boas mãos. 
Caiu nas velhas mãos do racismo alemão.
As frases claramente mal organizadas e repetitivas não contêm informações que se encontram em uma rápida pesquisa honesta no Google.
Pra começar, a referência não é a ~gaúchos~, mas aos argentinos, que foram vice-campeões.
Segundo, a música “assim andam os ——, assim andam os alemães” é um canto de torcida, cantada para quaisquer adversários da seleção alemã, como gregos, holandeses e checos, e até entre times alemães. Ou seja, nada de referência a macacos. A oposição é simples: os perdedores andam cabisbaixos, os vencedores andam de cabeça erguida.
Tudo isso o sensacionalismo indolente ignorou, claro, para poder criar uma manchete alarmista e polêmica e conseguir meia dúzia de cliques. Não caia nessa. Lástima de verdade é esse tipo de bobagem ser publicada no mesmo espaço em que já li várias coisas muito sérias, e eu mesmo já tive a oportunidade de veicular dois textos.
(*) Paulo Rená é mestre em 'Direito, Estado e Constituição' pela Universidade de Brasília, integra o grupo de pesquisa 'Cultura Digital e Democracia', dirige o Instituto 'Beta Para Internet e Democracia', ativista do Movimento MEGA, e foi gestor do projeto de elaboração do Marco Civil da Internet no Ministério da Justiça.

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