Dilma afirma que banco dos Brics é
fruto da consciência dos emergentes
Presidenta anunciou que sede da instituição financeira será em Xangai e terá indiano como primeiro presidente. Em entrevista à Al Jazeera, ela alfinetou quem apostou no fracasso da Copa
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
A previsão é de que a instituição seja um contraponto ao FMI e tenha um aporte inicial de US$ 50 bilhões
Fortaleza - A presidenta Dilma Rousseff disse nesta terça (15), em entrevista ao jornalista Gabriel Elizondo, da emissora de televisão Al Jazeera, do Catar, sobre a 6ª Cúpula dos Brics, que se realiza até esta quarta na capital cearense, que o banco de desenvolvimento anunciado pelo bloco “faz parte da consciência desses países” da necessidade de se construir uma instituição financeira para viabilizar financiamentos à ampliação da infraestrutura. O Brics é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Nós vamos concretizar o banco”, garantiu.
A previsão é de que a instituição seja um contraponto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e tenha um aporte inicial de US$ 50 bilhões. A meta é chegar nos próximos anos a US$ 100 bilhões. A sede da instituição será em Xangai (capital da China) e terá como primeiro presidente um indiano. O anúncio foi da própria presidenta Dilma Rousseff, depois de reunião com os chefes de Estado dos países do bloco na capital cearense.
Dilma falou por quase 25 minutos à Al Jazeera e comentou o sucesso da Copa do Mundo realizada no Brasil entre 12 de junho e 13 de julho, e abordou ainda a economia do país, política externa, o conflito na Palestina, e o caso Edward Snowden. “Não superamos só as questões concretas como garantir estádios prontos (para a Copa), aeroportos funcionando plenamente, a segurança das seleções e chefes de estado, mas também superamos uma campanha negativa contra a Copa do Mundo do Brasil”, afirmou.
“Tudo o que foi feito para a Copa será não apenas continuado como ampliado muito mais. Precisamos do triplo de infraestrutura que foi feita para a Copa”, continuou, na entrevista à TV do Catar. A presidenta voltou a criticar os pessimistas que apostaram no fracasso da Copa e, sem citar nomes, alfinetou o ex-jogador e agora empresário Ronaldo Nazário. “Tinha gente que dizia se sentir envergonhado" (da organização da Copa).
Ela disse que, após a crise econômica mundial iniciada em 2008, o momento atual não é positivo no mundo e os países, especialmente o Brasil, precisam incentivar a produção. “Estamos numa fase de baixa do ciclo econômico, mas sabemos que vamos entrar em outra fase. E temos de preparar a competitividade do país, aumentar as condições para enfrentar essa etapa que vai surgir. Se não surgir para o resto do mundo, te asseguro que surge para o Brasil”, garantiu. “Nós temos tomado todas as medidas para entrar num novo ciclo. Nós temos de melhorar a produtividade da economia brasileira.”
Política externa
Dilma defendeu a política externa brasileira voltada em seu governo para regiões diferentes das priorizadas nos governos anteriores ao de Luiz Inácio Lula da Silva. “Nós consolidamos a nossa presença nas regiões do mundo que nós achávamos que o Brasil tinha dever histórico de estar presente. Primeiro, América Latina e a África. Ampliamos a nossa presença também nas relações com a Ásia, através dos Brics, na relação com o Japão, na relação com os outros países asiáticos. E também no Oriente Médio.” Ela afirmou que o Brasil mantém boa relação com os países desenvolvidos. “Nós temos uma visão multipolar do mundo.”
No contexto da política externa, Dilma tentou passar uma posição equilibrada sobre o atual conflito na Palestina, embora tenha criticado a reação “desproporcional” de Israel. “Nos últimos dias, depois do sequestro e morte de três jovens em Israel, depois de haver uma resposta israelense desproporcional ao fato, eu acredito que é fundamental que parem os radicalismos de parte a parte”, defendeu. “Eu condeno a morte e o sequestro de três jovens, e repudio a morte, principalmente de mulheres e crianças, por parte das forças militares israelenses.”
O novo conflito no Oriente Médio mostra, segundo ela, a necessidade de se repensar o papel do Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Estamos dispostos de participar de qualquer tentativa (para ajudar na resolução do conflito), é visível a necessidade de se reformar o Conselho de Segurança, porque criam-se impasses que não são superados. A paralisia leva a mais mortes. Mudar e ampliar a composição é uma questão que a cada vez mais os conflitos não solucionados mostram a necessidade disso”, preconizou. “Acho que é chegada a hora de ter uma posição mais enfática, mais forte no sentido de propiciar a abertura do diálogo (entre Israel e Palestina).”
Sobre o caso do ex-técnico da CIA Eduard Snowden, acusado de vazar informações sigilosas de segurança dos Estados Unidos e revelar o monitoramento de conversas de Dilma, cidadãos e empresas brasileiras, ela disse que está interessada no que virá após o presidente Barack Obama pedir desculpas. "O que nós queremos é que fique claro como vai ser daqui pra frente, porque um pedido de desculpas acaba na hora em que é feito. Porque não acredito que o governo Obama de forma deliberada estava espionando o governo empresas e cidadãos brasileiros. Acredito numa estrutura que vinha de antes e operou esse tipo de ação indevida."
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