sábado, 7 de setembro de 2013

Após 43 anos, mascarados e       democratas ainda se enfrentam

Eduardo Guimarães                                               BLOG DA CIDADANIA                    
 A imagem que encima este texto foi capturada em 1970. Mostra Dilma Rousseff, aos 22 anos, sendo interrogada em um tribunal da ditadura militar. Descoberta pelo jornalista Ricardo Amaral em arquivos esquecidos, a foto foi amplamente divulgada e comentada ao final de 2011 e chegou a ser reproduzida em uma matéria da revista Época.
A força da imagem está em seu simbolismo, o qual ganha sentido ainda maior tantas décadas depois. Ironicamente, no dia de comemoração da Independência do Brasil os mesmos grupos militares que esconderam os rostos naquele ano de 1970 continuam tentando dobrar a mesma jovem, hoje uma sexagenária, ainda protegidos pelo anonimato.
O mais doloroso é que esses covardes que escondiam os rostos ontem ao interrogar uma garota indefesa que tinham torturado cruelmente semanas antes, hoje manipulam jovens de classe média como era Dilma com o propósito, mais uma vez, de golpearem a democracia.
Os protestos convocados para ocorrer em 7 de setembro de 2013 contra o Partido dos Trabalhadores foram engendrados pelo grupo Anonymous, que se notabilizou por usar como símbolo e instrumento máscara elaborada pelo quadrinista britânico Alan Moore para uma “grafic novel” chamada “V for Vendetta” (V de vingança) lançada em 1982 com o fim de denunciar regimes autoritários. Ironicamente, o Anonymous e os militares usurparam aquele símbolo em favor dos entusiastas da ditadura militar brasileira.
O principal item da pauta de “reivindicação” do Anonymous nos protestos de 7 de setembro vem sendo comemorado por sites de extrema-direita de viés racista, homofóbico e que pregam um novo golpe militar.
O grupo que usa a máscara criada por Alan Moore exige “a prisão imediata dos mensaleiros”. E como alvo principal desse movimento, um companheiro de luta de Dilma durante a Ditadura, condenado à prisão em um processo obscuro e cheio de questionamentos. Mais uma vez, Dilma e José Dirceu enfrentam a ditadura.
Agora, porém, são seus filhotes, meninos e meninas de classe média entorpecidos por preconceitos de todo tipo e pelo desamor à democracia que lhes foi inoculado por uma criação irresponsável, perdulária, egoísta.
Brincando de “revolucionários”, os moleques mimados gostam de arrotar “coragem” apesar de se mascararem sem a menor necessidade, pois hoje os que estão por trás dos protestos de 7 de setembro vivem em um país democrático em que todos podem dizer o que quiserem publicamente sem medo de serem torturados e até assassinados.
Milhões de reais foram gastos para organizar os protestos de 7 de setembro. Gastaram fortunas com transporte, alimentação e tudo mais de que precisarem os mascarados que irão às ruas pedir violação do Estado de Direito ao exigirem que os que lutaram para defender a democracia sejam encarcerados antes do fim do julgamento obscuro a que foram submetidos.
A ironia final da situação que este texto comenta reside no fato de que os alvos dos protestos chegaram ao poder após lutarem para que os que agora manipulam jovens desorientados tivessem liberdade garantida para fazerem o que não permitiram durante os vinte anos de ditadura que impuseram ao Brasil: criticar o governo.
Os militares e o grupo Anonymous engendraram os protestos de 7 de setembro para pedir as cabeças, sobretudo, de José Dirceu e José Genoino, que lutaram para que todos pudessem ir às ruas dizer o que quisessem sobre um governo do qual discordam. E sem necessidade de esconderem de novo os rostos, como fizeram os militares golpistas na primeira foto acima, de 1970.

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