Meia dúzia de golpistas
se vê isolada e sem eco
Com falta
de apoio popular e sem ressonância no Congresso para reforçar teses
mirabolantes, golpistas se veem isolados: ficou provado que ideias esdrúxulas
como as deles não provocam o mesmo clima de crise que argumentos semelhantes
conseguiram criar há 50 anos, em 1964
- Original do BRASIL247
Alberto Goldman, Aloysio Nunes, Arnaldo Jabor (cima), Jair Bolsonaro, Ferreira Gullar e Merval Pereira (baixo) – Imagem: Pragmatismo Político
247 – O golpismo
assoprado entre alguns colunistas da mídia tradicional, que por sua vez
contaram com o incentivo prévio de políticos dispostos a radicalização, caiu no
vazio. Faltou eco nas ruas e não há ressonância no Congresso para as teses
rascunhadas por colunistas como Merval Pereira, de O Globo, e moralistas como o
poeta Ferreira Gullar e o global Arnaldo Jabor. Não houve repercussão positiva
à tentativa, feita por Merval, em texto na terça-feira 18, em O Globo, de
elevar à condição de tema político sério a tese de impeachment da presidente
Dilma Rousseff e do vice Michel Temer. “Isso não é golpismo”, escreveu,
candidamente, o imortal que dera o roteiro para a derrubada da presidente
eleita num tapetão institucional.
Antes
de Merval, com um pouco mais de parcimônia, Jabor classificou o momento atual
como igual “a um passado pré-impeachment do Collor”. Uma torcida evidente pela
retomada daquela movimentação. Buscando destaque nesse debate, Gullar registrou
no fim de semana a expressão “golpe democrático”, que sabe se lá como pode ser
aplicado, uma vez que é golpe, mas é democrático. À la Paraguai, talvez ela
tenha procurado dizer.
Esses
posicionamentos se esvaziaram por si mesmos, mas eles foram assoprados, antes,
por chefe políticos como o senador Aloysio Nunes e o ex-governador Alberto
Goldman. Ambos conseguiram ficar isolados no PDSB ao pregar o não diálogo com o
governo que, efetivamente, venceu uma eleição democrática. Goldman chegou a
avaliar que a presidente Dilma “não terá condições de governar”. Com essa
expressão de vontade, equiparou-se ao deputado Jair Bolsonaro, que se elege
pregando a negação da democracia por meio da volta dos militares ao poder.
O
problema tanto para os colunistas como para os políticos é que não foi dada
nenhuma atenção expressiva ao que eles escreveram ou disseram. Por duas vezes
tentou-se levar, a partir de São Paulo, para dezenas de cidades brasileiras as
marchas pela derrubada de Dilma. Isso representaria a montagem do cenário
público para o golpe do resultado de uma eleição democrática.
O
vazio das passeatas ocorridas apenas na avenida Paulista – e que sequer
existiram em outras cidades – mostrou, porém, que os que pregão um atalho para
tentar voltar ao poder estão sozinhos. No Congresso, o convite à instalação de
um processo de impeachment não teve o menor eco.
Sem
querer, a meia dúzia de pregadores da interrupção no ciclo democrático prestou
um serviço à democracia: ficou provado que ideias esdrúxulas como as deles não
criam o mesmo clima de crise que argumentos muitos semelhantes conseguiram
criar 50 anos atrás, nos idos de 1964. Eles podem não ter percebido, mas o
Brasil de hoje não se deixar enganar e está pronto para resistir às vivandeiras
de plantão.
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