Dilma começa a jogar os dados do segundo mandato
(Luis Nassif)
É possível que a presidente DilmaRousseff esteja acertando em seus primeiros movimentos para a composição do segundo governo. Ela tem dois desafios. Um deles, o da recomposição da segurança fiscal. O outro, o da composição de um Ministério plural, que contemple as diversas forças sociais e econômicas.
Trata-se não apenas de medida de eficiência, mas de governabilidade. Não se governa o país apoiado em um espectro político restrito.
O modelo ideal é aquele em que em cada Ministério haja representantes autênticos da respectiva área de atuação, que tenham o pulso do setor e possam propor as melhores políticas setoriais.
Quando for temas interministeriais, monta-se um grupo de trabalho, discutem-se as questões e a presidente arbitra.
Houve muitas críticas à possível indicação da presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) para o Ministério da Agricultura, por acusações de complacência com trabalho escravo e desmatamento. Para o bem geral, ela não foi indicada nem para a Secretaria de Direitos Humanos nem para o IBAMA.
Na frente econômica, o desafio de um plano fiscal factível, sem gestos heroicos.
Cotado para a Fazenda, o ortodoxo Joaquim Levy pode ser um risco, mas uma oportunidade.
O risco é se aplicar um ajuste fiscal radical. Nesse caso, sai de baixo. Como já escrevi, se Joaquim tocar, Dilma dança
A oportunidade, se implementar um ajuste fiscal gradual, nos moldes defendidos por seu provável futuro colega de Planejamento, Nelson Barbosa.
Nessa segunda hipótese, a presença de Levy poderá ser positiva em três frentes.
A primeira, por permitir – por sua simples indicação – maior rapidez na recuperação da confiança do mercado.
A segunda, por garantir – por seu perfil – que, definido com a presidente o ritmo do ajuste, não haverá interferências no trabalho.
A economia contará com dois interlocutores pesos-pesados – ele e Barbosa.
A terceira é a contrapartida que Dilma poderá oferecer aos grupos que protestaram contra sua indicação.
Dilma sempre foi resistente a formas de participação social. Assinou quase a contragosto o decreto de regulamentação (de figuras previstas na Constituição de 88) – o tal decreto “bolivariano”, conforme batizado pela ignorância radical.
A marca do primeiro governo Dilma foi de um profundo descaso com questões indígenas, fundiárias e de outras minorias – paradoxalmente ao lado de um profundo comprometimento em combater a miséria desorganizada.
As indicações de Levy e Kátia Abreu provocaram enorme alarido na banda esquerda do seu bloco de apoio, aquele que Dilma sempre contou nos momentos mais cruciais da sua curta carreira política – inclusive nas eleições passadas.
Se, como compensação, Dilma radicalizar no novo estilo e abrir espaço para a construção de políticas públicas por parte de atores da sociedade civil – de movimentos populares a ONGs empresariais –, especialmente nos Ministérios sociais, aprofundando a democracia social, poderá iniciar o segundo mandato sob ventos bastante auspiciosos.
Se completar os preparativos com sinais claros de uma agenda de reformas macro ou micro, poderá inaugurar um período com perspectivas mais otimistas.
Obviamente, é do conjunto de decisões e do exercício do segundo mandato que se saberá melhor o que esperar de Dilma 2. Por enquanto, é apenas torcida.
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