A Presidenta da República só terá razão quando diz, como fez ontem na Austrália, “que o escândalo da Petrobras mudará para sempre a relação entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e a empresa privada” se servir para não apenas imputar as responsabilidades a servidores públicos e empresários envolvidos em falcatruas, mas para mudar as estruturas políticas necessária e convenientemente corrompidas da política brasileira.
Afinal, em matéria de escândalos, tivemos vários. E não é apenas porque, como no governo Fernando Henrique, a investigação sobre eles foi bloqueada ou engavetada que eles mudaram a política brasileira.
Ou alguém pode imaginar escândalo que tenha provocado efeitos maiores que a deposição de um presidente, como aconteceu com Collor?
A batalha a travar é pelo que não foi mudado em nada – a não ser para pior – nas relações políticas que levaram àquela situação e a outras, muitas outras, que não são a exceção, mas a regra do manuseio das instituições político-partidárias neste país.
A Presidenta Dilma está correta quando fala que é preciso investigar, sem seletividade e com transparência, a tudo e a todos neste caso, com interesse e foco na busca da verdade.
Durante meses, porém, o foco foram essencialmente os efeitos políticos, com vazamentos de trechos ou versões dos depoimentos que pudessem produzir efeitos eleitorais. Espetaculares, aliás, como o “eles sabiam de tudo” com que a Veja pautou toda a imprensa nos dias finais do pleito e transformou-se, ela própria, num panfleto de boca de urna.
Nada mais eloquente sobre isso do que o fato de, só agora, terem sido liberadas transcrições integrais dos depoimentos e acusações, nas quais, aliás, fica o distinto público sabedor que Alberto Yousseff foi pago pela intermediação de negócios envolvendo a Light e a Cemig, sua controladora, durante o período em que Aécio Neves governou Minas.
Negócios obscuros entre empresas e a administração pública não são, propriamente, nenhuma novidade.
Novidade seria se o caso trouxesse o que é indispensável para um saneamento da vida brasileira que jamais ocorreu com os outros – nada pequenos – episódios de corrupção: uma reforma política que desvencilhe ao máximo o processo eleitoral do poder econômico.
A isso, porém, a sanha moralizadora não ataca.
O guardanapo na cabeça de Sérgio Cabral no festim da Delta em Paris é mais escandaloso do que eleger um rapazola, seu filho, com sete milhões de reais oficialmente gastos numa campanha eleitoral.
O ínclito Eduardo Cunha é sagrado como “grande esperança” oposicionista, mesmo sabendo de um histórico que vem de suas relações com PC Farias.
Não é possível mudar o Brasil simplesmente trocando os ocupantes do sofá político. Neste caso, a mudança não se dará, como já provaram os fatos, com a troca das pessoas que se aboletam no conforto do dinheiro que vira voto e do voto que não se conquista sem dinheiro.
Se o governo Dilma quiser, como diz a presidenta, não deixar “pedra sobre pedra” em matéria de corrupção, como o país quer e exige, não há desafio maior que a reforma política.
E essa será combatida pelos que se penduram no moralismo seletivo, onde o que menos importa é eliminar a corrupção, mas os que se envolveram e, sobretudo, os que se conseguir envolver, com os métodos mais inescrupulosos, com ela.
Se a direita e a mídia já fizeram algo no Brasil foi, sem dúvida, acabar com a democracia, não com a corrupção.
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