Janot confirma que houve golpe eleitoral contra Dilma
Miguel do Rosário
Em entrevista à(aqui) Folha, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez uma declaração bombástica:
“Estava visível que queriam
interferir no processo eleitoral. O advogado do Alberto Youssef operava para o
PSDB do Paraná, foi indicado pelo [governador] Beto Richa para a coisa de
saneamento [Conselho de administração da Sanepar], tinha vinculação com
partido. O advogado começou a vazar coisa seletivamente. Eu alertei que isso
deveria parar, porque a cláusula contratual diz que nem o Youssef nem o advogado
podem falar. Se isso seguisse, eu não teria compromisso de homologar a
delação.”
Se a acusação atingisse o PT, a mídia a teria transformado,
imediatamente, em manchetão nas capas de todos os jornais, portais e revistas.
Como é contra o PSDB, então a informação é minimizada, como sem
importância.
Janot repetiu a denúncia de golpe político-midiático, que a
gente, da blogosfera, se cansou de fazer durante os primeiros vazamentos
seletivos dos depoimentos de Alberto Youssef.
Denúncia esta que a imprensa jamais fez, embora estivesse ali, à
vista de todos.
Por quê?
Por que a imprensa não identificou o óbvio, que havia vazamentos
seletivos, com objetivo de interferir na campanha eleitoral e prejudicar Dilma
Rousseff?
Ora, porque a imprensa fez parte do esquema.
Essa é a conclusão lógica inevitável das palavras de Rodrigo
Janot, procurador-geral da República, o cargo máximo do Ministério Público
Federal.
No dia do penúltimo debate da eleição presidencial, que
ocorreria na Record, um dos principais repórteres políticos da Globo, Gerson
Camarotti, chegou a publicar, em seu blog, que Aécio e Alvaro Dias tinham
recebido um “detalhamento completo” dos depoimentos de Paulo Roberto Costa e
Alberto Youssef, que “envolveria nomes graúdos do PT”.
Ficou evidente (hoje confirmado, visto que Aécio não usou a
suposta “bomba” no segundo turno) que se tratava de blefe tucano e
jogo sujo da Globo, para intimidar Dilma no debate.
Aécio tinha apanhado que nem gente grande no debate anterior e
estava com medo.
A Globo, portanto, foi cúmplice do golpe eleitoral preparado
pela oposição, em conluio com o advogado de Alberto Youssef.
Só que agora as coisas mudaram de figura.
A operação Lava Jato tomou proporções que fogem ao controle da
mídia e da “República do Paraná”, ou seja, ao grupo de delegados e procuradores
que tentaram usar a investigação para influenciar as eleições.
Envolvendo todos os partidos, e detectando desvios desde 1999, a
Lava Jato fortalece a líder política número 1 do país, a presidenta da
república.
Não adianta a oposição espernear, como fez Noblat hoje, dizendo
que a Polícia Federal é “órgão de Estado”, que Dilma não autorizou nada,
blablablá.
A Polícia Federal é um órgão subordinado ao Ministério da
Justiça, e a presidente da República escolhe o seu diretor-geral.
Esta relação(aqui) está bem clara no
Decreto 73.332, de 1973, que define a estrutura da instituição.
Entretanto, não é preciso ser especialista em leis ou decretos
para fazer uma comparação simples: a PF não investigava ninguém na era tucana.
Hoje investiga e prende poderosos, de políticos graúdos a
empreiteiros bilionários.
Aliás, alguém deveria perguntar se as polícias estaduais, que
também são “órgãos de Estado”, investigam os seus respetivos Executivos.
Em São Paulo, alguém pode imaginar a polícia estadual ou a
polícia civil investigando o trensalão ou as obras do Rodoanel? Todas elas
envolvem, aliás, as mesmas empreiteiras da Operação Lava Jato.
A oposição e a mídia queriam transformar a Lava Jato num golpe
político.
Tinha tudo para dar certo. Os delegados federais responsáveis
pela operação são tucanos. Foram inclusive flagrados fazendo
festinha pró-Aécio no Facebook, usando informações sigilosas.
O juiz Sergio Moro é tucano, como ficou claro com sua leniência
em relação aos vazamentos feitos bem durante a campanha eleitoral, inclusive o
último, o que sequer existiu, de Alberto Youssef, tentando atingir Dilma.
Os procuradores também devem ser, visto que defenderam os
delegados, quando estes foram denunciados na imprensa por seu partidarismo
pouco republicano, para dizer o mínimo.
A “República do Paraná” (entendida aqui como juiz, promotores e
delegados por trás das investigações feitas pela Operação Lava Jato), enfim, é
um núcleo tucano.
Some-isso a uma mídia ultratucana, e tínhamos todos os elementos
para criar uma narrativa e aplicar um golpe político-midiático, que culminaria
com o impeachment da presidenta.
Mas eles não pensaram uma coisa.
A Lava Jato de repente assumiu uma dimensão tal que saiu da
esfera apenas política. Ou seja, deixou de ser regida pelo jogo baixo e
apaixonado das guerras partidárias, e passou para o domínio inexpugnável da
história.
Ao tratar com os setores economica e politicamente mais
poderosos da sociedade, a Lava Jato não poderá abrir “exceções” jurídicas como
fez no mensalão.
O fato dos investidores e o próprio juiz serem
tucanos se volta em favor de Dilma, porque esta seria acusada de
“bolivariana”, se fosse o contrário, se a mídia identificasse afinidade
ideológica, política ou partidária entre ela e a República do Paraná. Além de
ser acusada de “traidora” pelos caciques partidários envolvidos no
esquema.
O enfraquecimento dos caciques pesará em favor do
Executivo.
A direita não tem mais um Joaquim Barbosa no STF para fazer
o serviço sujo.
Em mãos de Teori Zavascki, a Lava Jato não corre o risco de
virar um circo golpista.
Outro fator que enfraquece a tentativa de golpe é que o
procurador geral, Rodrigo Janot, embora frequentemente também faça o jogo da
mídia, é infinitamente mais qualificado, em termos éticos, do que seus
antecessores.
A entrevista que deu à Folha, em que denuncia o golpe do
advogado de Youssef, é evidência de que ele não se prestará, não facilmente ao
menos, a um jogo sujo visto no mensalão, em que procurador, mídia e
oposição manipularam provas, ocultaram documentos, e fizeram de tudo para
confundir a opinião pública e enganar os réus.
A mídia tentará aumentar ao máximo a presença do PT junto às
listas dos corrompidos e corruptores, mas ao fazê-lo, ampliará a imagem de
republicana de Dilma Rousseff.
Afinal, que outra estadista, senão Dilma, permitiria que a
Polícia Federal, subordinada a seu governo, investigasse e punisse
impiedosamente membros de seu próprio partido?
Restará à mídia, desta vez, o papel triste de tentar confundir e
manipular a opinião pública, e fazendo o jogo mais baixo.
Quando houver denúncia de envolvimento de um petista: manchetão
na capa e páginas e páginas no miolo do jornal.
Quando houver envolvimento de um tucano: sem capa, e notinha
curta ao pé de página.
Só que, desta vez, a gente tem as redes sociais.
Alguns internautas temem que haja alguma falsa denúncia sobre
caixa 2 na campanha presidencial de Dilma, o que justificaria a sua deposição.
Improvável.
As campanhas presidenciais no Brasil costumam ser impecáveis. O
caixa 2 é jogado sempre para as campanhas regionais e proporcionais.
As campanhas presidenciais de PT e PSDB costumam ter dinheiro de
sobra. Isso desde 2002.
O mensalão, por exemplo, que foi um problema de caixa 2,
admitido pelo próprio Lula e por Delúbio Soares, ocorreu justamente por conta
disso: a campanha presidencial chupou todo o dinheiro limpo, e o caixa 2 foi
lançado nas costas dos diretórios regionais, que precisavam pagar dívidas de
campanha.
Claro, espera-se todo o tipo de mentira, calúnia e manipulação,
nos próximos meses. Desta vez, porém, temos uma opinião pública um pouco mais
crítica e desconfiada.
E a mídia não tem mais o monopólio da narrativa.
*
O fato da análise das contas da campanha de Dilma terem caído em
mãos de Gilmar Mendes, não deveria ser motivo de preocupação excessiva.
Um pouco sim, mas não muito.
Justamente por ser identificado como juiz de oposição, Mendes
será obrigado a aprovar as contas da presidenta.
Só lhe restará o patético papel de fazer suspense, pedir
explicações, inventar factoides variados.
Mas não poderá desaprovar as contas de Dilma, porque soaria
golpista demais isso partir de um juiz tão abertamente de oposição.
De qualquer forma, o próprio Ministério Público Eleitoral entrou(aqui) com recurso para
que a relatoria das contas da campanha de Dilma não fique em mãos de Gilmar.
*
O maior desafio de Dilma, e isso não é pouca coisa, é evitar que
a Lava Jato, por envolver as maiores empreiteiras do país, provoque interrupção
das grandes obras de infra-estrutura.
A nossa mídia, já vimos, não tem qualquer compromisso com o desenvolvimento.
Sergio Moro ganhou pontos ao mostrar que, ao menos nisso, demonstra bom senso,
visto que se preocupou em não paralisar o trabalho das empresas.
As empreiteiras empregam centenas de milhares de trabalhadores,
e as denúncias terão que apurar responsabilidades e impor multas, mas cuidando
para não prejudicar o emprego de quem não tem culpa nenhuma pelos desvios. Nem
parar obras que são estratégicas e urgentes, como a finalização da refinaria
Abreu Lima, cuja entrada em operação servirá como alavanca para a indústria
petroquímica, e ajudará a reduzir o déficit da balança comercial brasileira.
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