Tucano pede água
mas não abre
o bico
Francisco Chagas(Revista Fórum)
Com muito alarde na mídia, o governador Geraldo Alckmin PSDB) foi ao planalto central pedir R$ 3,5 bilhões para obras de abastecimento. Ele ainda não deu detalhes muito claros sobre cada projeto, mas com certeza a população de São Paulo só vai sentir os resultados de todo esse investimento daqui a um, dois ou até três anos.
Enquanto isso a falta
d’água, que na língua tucana ganhou o nome elegante de “crise hídrica”,
continua a ultrapassar recordes históricos no estado. E para surpresa geral, a
Sabesp vai à TV, em horário nobre de domingo, dizer que não existe
racionamento. O que há – prepare-se, lá vem tucanês – é uma “gestão de
pressão”. Traduzindo: a Sabesp diminui a pressão da água, e ela não chega às
torneiras.
O que não dá para
traduzir, nem disfarçar, é o tamanho da omissão da empresa. No mesmo programa
de domingo, uma análise da organização The Nature Conservancy (TNC), com dados
da própria Sabesp, mostra que os sistemas de abastecimento de todo o estado
estão com suas reservas em queda livre pelo menos desde 2009.
Não é de hoje que o
fornecimento de água da Região Metropolitana trabalha perigosamente perto do
limite. Há mais de dez anos especialistas do setor e o próprio legislativo
municipal de São Paulo, do qual eu fazia parte, já alertavam para o risco de um
colapso de abastecimento, caso não houvesse investimentos imediatos. Para
piorar, as perdas por vazamentos na rede sempre foram altíssimas – giram em
torno de 30%, segundo a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de
São Paulo (Aresp).
Mas a Sabesp, que há
20 anos segue o modelo neoliberal do lucro a qualquer custo, esqueceu-se de que
água é direito fundamental, e não fonte de especulação. A “crise hídrica” que o
governo tucano joga com tanta facilidade nas costas de São Pedro começa, de
fato, em 1994, quando a Sabesp se torna empresa de capital misto e passa a
distribuir gordos rendimentos entre seus acionistas.
Pressionada pela
opinião pública, que quer água de volta nas torneiras, a empresa fala agora –
com um atraso de décadas – em realizar obras que viabilizem o cumprimento de
sua principal obrigação, que é manter o equilíbrio entre demanda e oferta no
abastecimento.
Durante todo este
tempo, parece que estivemos à mercê da generosidade de São Pedro. É verdade que
passamos por uma estiagem severa, mas de curta duração quando comparada a
outras regiões do Brasil – que agora, aliás, começam a se livrar desse flagelo
com políticas públicas de armazenamento de água. Estiagem é um fenômeno natural
que pode ocorrer em qualquer lugar, e foge do controle humano. Mas o homem pode
prevenir seus efeitos. Basta querer, e saber planejar.
Diante da inércia da
Sabesp em atender às recomendações para ampliar sua capacidade de distribuição
e reduzir desperdícios, como os vazamentos nas tubulações, promovi, em 2010, na
Câmara Municipal de São Paulo, o seminário “Universalização do Saneamento no
Brasil”, que reuniu gestores e entidades especializadas em torno da proposta de
buscar soluções para a manutenção e garantia, para todos, do acesso à água e ao
esgotamento sanitário.
Já naquela época água
se tornava produto de elite. Sua falta afligia bairros periféricos, mas não
incomodava os endinheirados. E sendo assim, não era importante para o governo
neoliberal. A mesma lógica da separação e do descaso que se observou durante
anos na relação de governos federais retrógrados e estados sulistas e nortistas,
ou nordestinos.
Agora a seca chegou a
São Paulo, sem fazer distinções de classe. Falta água no Morumbi e em Pirituba,
em Heliópolis e em Higienópolis. Passada a eleição, o governador Geraldo
Alckmin, reeleito no primeiro turno, bate à porta do Governo Federal e pede
dinheiro – mas não explica o que fez com os lucros da Sabesp esses anos todos.
Por tudo isso, está na
hora de pedir a responsabilização criminal do governo do Estado pela crise
hídrica. Podemos ter uma crise de saúde pública, já temos danos irreversíveis
ao meio ambiente e gente perdendo o emprego. E tudo isso poderia ter sido
evitado!
* Francisco Chagas é
deputado federal (PT-SP).
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