A agência de notícia das Alemanha, a Deutsche Welle, publica que o Brasil recebeu 180 mil turistas em 2013 em busca da realização de procedimentos de baixa, média e alta complexidade, nos cálculos de uma instituição (que ironia…) chamada “Pacientes sem Fronteiras”.
Diz a dirigente de uma empresa que se dedica a capitalizar este “mercado”: “”Entre os diferenciais do Brasil estão a qualidade, tecnologia, custos competitivos em algumas áreas, especialidades técnicas e centenas de hospitais que possuem acreditações internacionais.”
Muito bem. Ninguém pode ser contra termos médicos de alta competência e ótimos hospitais privados.
Aliás, o Brasil sempre produziu ótimos médicos, desde os voltados para a saúde pública, como Carlos Chagas e Oswaldo Cruz, como os de alta especialização, como Ivo Pitanguy e Euryclides Zerbini, os dois aliás, com uma carreira marcada pelo aprendizado ao longo de sua atuação em hospitais públicos ou semi-públicos. O primeiro, no Hospital do Pronto Socorro e na Santa Casa de Misericórdia e o segundo na USP.
Mas como é que podemos nos conformar com que neste país capaz de importar pacientes do exterior não haja médicos para atender os brasileiros do interior (e da periferia das grandes cidades), simplesmente porque a perspectiva da medicina é ganhar muito e rápido.
Pior, como é que se pode aceitar que importemos pacientes que querem médicos brasileiros e não toleramos que se importe médicos para brasileiros, que precisam de médicos e para os quais não os há brasileiros?
No mundo globalizado, não há porque continuarmos a ser o velho “país dos contrastes”, porque não somos “dois” países: um bem-sucedido, que compete internacional de medicina (algo que clama aos céus como uma aberração: mercado de medicina!) e outro, desastroso, onde as pessoas morrem sem atendimento de saúde o mais básico imaginável.
Não há contradição entre medicina de alta tecnologia e especialização e saúde pública. Ou melhor, parece só existir na mente de uma elite médica que deixou de lado a essência da medicina: os seres humanos são iguais aos médicos e “em todas as casas em que entrar, fá-lo-ei apenas para benefício dos doentes”, como jurou Hipócrates.
Morreu, há dias, um médico que não vivia este padecimento mental em que parecemos nos atolar. O Dr. Adib Jatene poderia viver apenas de seus conhecimentos, de uma caríssima clínica particular. Foi à luta, porém, pelo direito de todos, inclusive com a heresia de criar um imposto, a CPMF, para financiar o atendimento público universal.
É triste ver que as entidades médicas, que deveriam ser um Norte ético e humanitário para uma categorias de profissionais que dependem, como poucos outros, de ética e humanidade em sua missão, transformadas em defensoras de reservas de mercado e desprezo pelos seres humanos que morrem por falta de atenção, seja de quem for.
Nenhum comentário:
Postar um comentário