247 – O triunvirato escolhido pela presidente Dilma Rousseff para conduzir a economia brasileira nos próximos quatro anos, formado pelos técnicos Joaquim Levy, na Fazenda, Nelson Barbosa, no Planejamento, e Alexandre Tombini, no Banco Central, compõe uma das melhores equipes já reunidas em Brasília. Um time que terá condições para promover um ajuste necessário, mas sem radicalismo, arrocho ou "saco de maldades" – expressão que ficou consagrada na era FHC.
Embora a lógica dessa equipe já tenha sido percebida por agentes econômicos do Brasil e de fora na última sexta-feira, quando o Ibovespa subiu 5% e o dólar caiu fortemente, ela ainda não foi devidamente compreendida pela mídia local. Nos jornais, a aposta é de um fortíssimo choque fiscal, com a chegada de Joaquim Levy. Neste domingo, por exemplo, a Folha de S. Paulo fala em rombo de R$ 100 bilhões. Na revista Exame, braço econômico da Editora Abril, uma conta esdrúxula apresenta uma conta de R$ 283 bilhões, que seria a "herança maldita".
No entanto, o ajuste de curto prazo poderá ser bem mais suave do que muitos imaginam. Especialmente porque, com os três, o governo Dilma poderá reverter o jogo de expectativas – ou, para usar uma expressão do ministro Aloizio Mercadante, poderá dissolver a "nuvem tóxica" que se instalou na economia.
Nesse jogo, a escolha mais interessante é a colocação de Nelson Barbosa não na Fazenda, mas no Planejamento. Um Ministério do Planejamento fortalecido e com a missão de formular políticas de longo prazo. Ali, Barbosa irá conceber projetos de reformas em áreas como tributária e previdenciária, para garantir a solvência fiscal de longo prazo da economia brasileira – não de hoje ou de amanhã.
Com sinalizações fiscais para os próximos vinte ou trinta anos, o trabalho imediato de Joaquim Levy, na gestão do caixa federal, na Fazenda, será facilitado. Em momentos de crise aguda na economia internacional, dificilmente o governo Dilma abraçaria medidas de contenção drásticas, que apenas agravariam eventuais recessões. Em outras palavras, metas fiscais mais realistas seriam compensadas por ajustes fiscais de longo prazo.
No Banco Central, por sua vez, Alexandre Tombini terá mais tranquilidade para atingir o centro da meta de inflação, de 4,5%, em 2016. Como o BC, o Planejamento e a Fazenda estarão falando a mesma linguagem, não haverá contradições maiores entre as políticas fiscal e monetária.
Com uma equipe afinada e sintonizada, o governo resgatará a confiança e terá um benefício adicional. Como foi apontado em relatório da corretora Nomura Securities, o real tende a se valorizar nos próximos meses – o que, por sua vez, também contribuirá para a queda da inflação.
Dilma tem agora uma equipe de economistas alinhados que fará um ajuste bem mais suave do que supõem seus críticos à esquerda e à direita. E que será fiel à principal promessa da presidente Dilma na campanha presidencial, que é a de não promover desemprego ou arrocho salarial.
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