O inacreditável oportunismo de Aécio Neves diz que o governo quer – e o país não precisa – de uma “Futebras”, como se fosse essa a forma que o Estado brasileiro tem – e deve ter – de intervir na imoralidade que – todo mundo sabe – campeia nos chamados “negócios esportivos”.
E onde, claro, quem menos tem vantagens é a imensa maioria dos jogadores.
A intervenção que o futebol brasileiro precisa é no controle e fiscalização estatal sobre os imensos fluxos de dinheiro que ele proporciona, embora os nossos clubes de futebol estejam – ou aleguem estar – sempre falidos e a mendigar favores fiscais ao Estado.
Nem vamos falar deste escândalo atual sobre as fortunas movimentadas por um agente da cartolagem da Fifa com os ingressos da Copa.
Temos a imensa sonegação fiscal da Globo na compra dos direitos da Copa de 2002, devidamente abafada com a condenação de uma humilde funcionária da Receita, que um belo dia, sem mais nem porquê, resolveu colocar o processo numa sacola e fazê-lo desaparecer.
O agora ex-presidente do Barcelona, campeão de escândalos, escapou ileso dos seus tumultuados negócios com Ricardo Teixeira e, antes mesmo da Justiça pelo imbroglio do amistoso superfaturado entre Brasil e Portugal , carregou daqui até o capital de sua suspeitíssima empresa de marketing esportivo, a Alçianto, um “troco” de 12 milhões de reais.
Sem falar do monte de “agentes” de jogadores mais mixurucas, que cansam de lavar dinheiro de todas as formas, inclusive via empresas de factoring.
Dos “grandes” como o empresário iraniano Kia Joorabchian, homem-forte da MSI, nem é preciso falar, não é?
Todos os contratos relativos a clubes e outras entidades esportivas – inclusive os de publicidade e transmissões esportivas, bem como os que se referem a transações de “passe” dos jogadores - devem ser objeto de um sistema de registros próprio, controlado pelo Banco Central, porque implicam em receita para clubes, federações e confederações que têm isenções e benefícios fiscais do Poder Público.
Claro que não é preciso controlar os salários miúdos dos jogadores do modesto Íbis, de Pernambuco, nem qualquer pequeno valor, talvez nos limites de movimentação financeira acima dos quais as transações financeiras já são – ou deveriam ser – objeto da supervisão do COAF.
Dentro da lei, portanto.
Se os contratos forem registrados e estiverem sujeitos à fiscalização pública – porque acabam por envolver dinheiro público, na forma de isenções de impostos, perdão e parcelamento de dívidas – e a sua sonegação a este controle for criminalizada, ao menos administrativamente, boa parte deste câncer será controlado.
Claro que há muitos outros fatores sobre os quais se deve agir, que vão desde as práticas de iniciação esportiva até a criação de fundos de pensão próprios para esportistas, passando por inúmeras questões.
Mas, essencialmente, o que destrói o nosso futebol é, todo mundo sabe, o dinheiro escuso e camuflado que nele se movimenta.
O Estado não tem que trazer o Pepe Guardiola para o nosso futebol. Se for para importar alguém, que seja um Eliott Ness.
Porque se trata de máfia, não de outra coisa.
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