No meu facebook, várias senhorinhas têm se manifestado incomodadas em relação à exposição que tenho feito de cenas violentas relacionadas ao genocídio que acontece na faixa de Gaza. Em vez dos habituais Pablo Neruda, Mia Couto, Talita Rauber, Vinícius de Morais, Drummond e Geruza Zelnys, encontram cadáveres, crianças sangrando, bombas explodindo...
Entendo que são cenas horripilantes, sobretudo para quem está no aconchego de seu lar, no Leblon, nos Jardins, e que seu maior sofrimento são as lágrimas do coitadinho do David Luiz. Ah! vontade de pegá-lo no colo.
Perdoem-me as senhorinhas. Tornar público o que está acontecendo é, para mim, uma obrigação de cidadania da qual eu não me posso me eximir sob pena de me sentir um grande canalha.
Ignorar o que está acontecendo em Gaza significa para mim que não aprendemos nada com as grandes tragédias que aconteceram num passado recente.
Senão vejamos:
· O holocausto só aconteceu porque as pessoas - nem os aliados nem os próprios cidadão alemães - conheciam o que se passava nos campos de extermínio de judeus, mais de cinco milhões de mortos. Outros 500 mil ciganos foram dizimados pelo regime nazista. Tudo no mais absoluto silêncio.
· Entre 1932 e 1933, o regime comunista da União Soviética, comandado pelo ditador Joseph Stalin, promoveu uma reestruturação na agricultura, criando fazendas coletivas pouco eficientes e modificando os ciclos produtivos. As medidas tiveram consequências trágicas na Ucrânia, onde 4,2 milhões de pessoas morreram de fome. Atualmente, a classificação dessas mortes ainda não foi classificada como genocídio. Na época, ninguém sabia o que estava acontecendo.
· Os Estados Unidos só desistiram da guerra do Vietnam pressionados pelos seus próprios cidadãos que não aguentaram mais ver, no horário do jantar, os noticiários mostrando sua juventude morrendo nas mãos dos vietcongues e estes morrendo queimados pelo napalm lançado do B-52.
· O mesmo aconteceu na Sérvia, em Ruanda e em dezenas de lugares mundo afora, alguns dos quais nem temos conhecimento.
· Os indígenas americanos foram vítimas do maior genocídio da historia da humanidade. Estima-se que 15 milhões de índios tenham morrido nas mãos dos conquistadores europeus após o descobrimento da América, em 1492. Segundo a Veja, de norte a sul do continente americano, centenas de tribos - como a dos apalachees (EUA), dos araucanos (Argentina) e dos caetés (Brasil) - simplesmente desapareceram. Em quase todos os casos, as mortes começaram com a transmissão pelos brancos de doenças contra as quais os índios não tinham imunidade. A disputa pela terra, porém, em pouco tempo colocou colonizadores e nativos definitivamente em lados opostos, o que resultou em conflitos armados nos quais, na maioria dos casos, os europeus exterminaram civilizações inteiras. Aqui no Brasil, o extermínio dos indígenas continua ocorrendo, fora falta de divulgação dos fatos e da imobilidade do governo.
· Com menos intensidade isso se aplica à questão do trabalho infantil, do trabalho escravo, do estupro impune, da discriminação. Ou na questão dos transgênicos, dos crimes da Monsanto, do Ocupa Estelita...
A verdade é que governos sanguinários, genocidas, só dão ouvidos à sua própria população, ao apoio que recebem e às suas chances de manter-se no poder.
Assim, na minha humilde opinião e salvo melhor parecer, eu devo sim expor o que está acontecendo como forma de contribuir para que, de alguma forma, contribua para interromper o genocídio na faixa de Gaza. Israel ignorou solenemente o pedido de cessar fogo na ONU. Obama se propõe a mediar mas ele é o grande sustentáculo da posição beligerante de Israel. Eu, pessoalmente, gostaria de estar lá.
Aceitarei outras sugestões, mais palatáveis para as senhorinhas do Leblon e dos Jardins que a exposição de cadáveres mutilados. Não quero que isso estrague o seu idílio lacrimoso com o David Luiz.
Mais vale, porém, uma imagem que mil palavras...
Nenhum comentário:
Postar um comentário