domingo, 1 de setembro de 2013

Um diálogo surreal

(Do AMgóes: o bom humor - ainda - é a melhor terapia diante das desgraças       cotidianas, provocadas por nossos ditos 'representantes', nas várias esferas da ordem política vigente)                                                                                      
Vladimir Barros (*) - 1º/set/2013  Tribuna do Agreste
Já passava mais de 50 minutos da hora marcada para o início da sessão. Nos lugares de sempre, dois vereadores, tentavam preencher a sala vazia de reuniões da Câmara, esquentando as cadeiras utilizadas uma vez por semana.
Defronte ao plenário, meia dúzia de curiosos apenas, talvez por que a patuléia já não acredite que daquela água saia peixe.

Mesmo assim, estavam ali cumprindo o dever de ofício e aguardando os demais colegas como manda o regimento da Casa.

Cansados da labuta inglória de marcarem passo na oposição, travam um diálogo desesperançado, tentando arranjar forças para seguir o destino de palmatórias do município, quando de repente, chega um terceiro edil, este da base de sustentação do prefeito.

A presença anima os vereadores que ouvem com muito sarcasmo uma pergunta:

- Bom dia. Não vai ter sessão, né?

Meio que atarantados pela obviedade da resposta que teriam de dar ao colega, um dos vereadores oposicionistas, solta um grunhido mofino, quase inaudível.

- Acho que não!

O terceiro recém-chegado, que desdenha até da própria sombra - abre um largo sorriso e começa a tagarelar provocando:

- Já disse e repito. O prefeito é malandro. Sabido igual não tem. Aqui está todo mundo só comendo ovo. Os únicos que ainda comem umas piabinhas é o presidente e o secretário da Mesa. O restante é na base do ovo.

E continuou o edil tagarela:

- Eu mesmo já tentei diversas vezes chegar perto do homem, mas ele é liso. Malandro mesmo. E olhem que sou malandro também. Mas o homem é mais do que eu, por que eu já fui preso e ele ainda não.

Boquiabertos com o teor do "quase monólogo" os vereadores oposicionistas se entreolham abismados com as declarações do vereador governista que arremata ainda mais provocativo:

- Meus amigos! Arranjem uma CPI! Com uma CPI dá pra gente conseguir um dinheirinho extra!

O silêncio tomou conta do ambiente e o vereador tagarela saiu da sala de reuniões sem resposta, mas confiante de que teria plantado algo frutífero.

Enquanto isso, na porta da Câmara, outro vereador com o nó da gravata frouxo, por que é um homem que não se acostuma a esses tipos de fricotes, fala alto para um curioso que acabara de deixar o recinto destinado à plateia bastante decepcionado, pois deu uma "viagem perdida".

- Eu não vim pra sessão porque recebi ordens do prefeito. E quem achar ruim vá pra casa da peste!!!

Nota: Qualquer semelhança com pessoas e fatos do cotidiano alagoano terá sido mera coincidência. Ou não?

(*) Vladimir Ivanovitch Wanderley de Barros é Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Alagoas e pós-graduado em Direito Processual e Docência Superior. É advogado militante. Em suas atividades jornalísticas tornou-se membro efetivo da Associação Alagoana de Imprensa (AAI) e da Associação Brasileira de Imprensa; exerce o jornalismo desde 1997, quando se tornou editor do Jornal Tribuna do Sertão, editado semanalmente. É membro da Academia Palmeirense de Letras (APALCA) e fundador da Rádio Cacique FM em Palmeira dos Índios(AL).

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