terça-feira, 3 de setembro de 2013

Médicos cubanos: a velha classe média pira


Carlos Pompe(*)                                               Página Inicial


No livro Nova classe média?, o economista Marcio Pochmann mostra que foram criados 21 milhões de novos postos de trabalho nos últimos dez anos, sendo 94,8% deste total com salários equivalentes a 1,5 mínimo. 


Estes trabalhadores estão sendo chamados de “nova classe média” pelos oligopólios da comunicação brasileira. Na verdade, não integram a classe média”. Mas a velha classe média continua atuante no país, e é ela que, servil aos interesses da classe que lhe é superior, a burguesia, hostiliza os médicos cubanos que vieram atuar no Brasil e se enoja das políticas sociais que beneficiam a classe que considera “inferior” a si – a classe proletária, trabalhadora.

“Seja pelo nível de rendimento, pelo tipo de ocupação, pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média”, escreve Pochmann. Seja pelo nível de rendimento, pelo tipo de ocupação, pelo perfil e atributos pessoais, o grosso dos médicos e demais pessoas que participaram dos protestos contra o programa + Médicos e outras ações sociais do governo e contra a política e os políticos podem ser claramente identificados com a velha classe média brasileira, a pequena burguesia. 

Aquela pequena burguesia que compôs o Integralismo, no início do século passado; que apoiou a ditadura getulista durante o Estado Novo; que marchou “com Deus e pela liberdade” (na verdade, pelo golpe militar) em 1964. Essa pequena burguesia que não se conforma em perder a relação de criadagem dos trabalhadores domésticos, que herdou das centenas de anos em que a escravidão imperou no país, agora que eles conquistaram direitos trabalhistas. Essa gente que acha que os médicos cubanos “tem cara de empregada doméstica” – talvez achando que sua própria cara pequeno burguesa seja mais assemelhada à burguesia estampada na revista Caras do que à cara do trabalhador que vê amontoado no ônibus, no congestionamento, ao passar com seu carro último tipo (financiado).

No segundo semestre de 1946, numa reunião de sua Organização de Base no Partido Comunista, o escritor Graciliano Ramos questionou que a pequena burguesia seja realmente uma classe. “É uma camada vacilante, e diremos talvez sem contrassenso que o que a caracteriza é a falta de caráter. Subindo um pouco, tenta insinuar-se no capital – e é favorável à violência, detesta reuniões, pensa em conformidade com a polícia, teme a foice, o martelo, a cor vermelha, afeiçoa-se ao golpista e ao delator; largando o emprego, esgotada a caderneta da caixa econômica, avizinha-se do proletariado – e entra nas filas, é pingente de bonde, assiste a comícios, descompõe a Light, excede-se em parolagem demagógica”.

Marx considerava, no Dezoito Brumário, a pequena burguesia “uma classe de transição” (assim, em itálico), na qual os interesses da burguesia e do proletariado perdem simultaneamente suas arestas. O livro do fundador do socialismo científico foi escrito quase 100 anos antes do pronunciamento do escritor brasileiro – como se vê, a classe média é velha de séculos, apesar de hoje usar a alta tecnologia para difundir seus preconceitos arcaicos e ódio “aos de baixo”.




(*) Carlos Pompe é jornalista e curioso do mundo.

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