Bisbilhotagem americana é muito
pior do que se imaginava
Fernando Brito TIJOLAÇO
Estarrecedor. Esse é o termo apropriado para a mais recente revelação do jornalista Glenn Greenwald em seu blog no jornal inglês The Guardian. E não estou sozinho nessa avaliação. O texto, postado ontem, já tinha mais de 4 mil comentários em poucas horas, praticamente todos condenando os abusos dos serviços secretos anglo-americanos.
Um novo lote de vazamentos de Snowden revela que a Agência de Segurança Nacional (NSA), órgão de inteligência em comunicações da Casa Branca, em parceria com o Departamento de Comunicação do Governo Britânico (GCHQ), investiu mais de 800 milhões de dólares, desde 2011, em programas para quebrar os códigos de privacidade de quase toda a informação privada mundial.
Os objetivos e as estratégias dos serviços secretos americanos eram muito mais ambiciosos, agressivos e enxeridos do que sugeriam as primeiras revelações de Snowden.
PS de Fernando Brito: não deixe de assistir a coletiva de Dilma sobre a reação à espionagem americanda, no final deste post.
OS EUA não só grampearam meio mundo (Dilma, ONU, etc), como tinham acesso a códigos de criptografia que lhes permitiam ler, classificar e indexar emails, redes, contas bancárias, em escala global.
Uma das estratégias usadas pela NSA para ter acesso a tamanho volume de segredos é a construção de “relacionamento” com os altos executivos das empresas de tecnologia.
Segundo Greenwald, a NSA tem investido 250 milhões de dólares por ano num programa em que, dentre outros objetivos, visa influenciar as empresas de tecnologia a adotarem padrões de criptografia conhecidos da agência. Além dessa verba, a NSA usa o poder financeiro do Estado, que é o principal comprador de produtos tecnológicos, para convencer os executivos a serem cúmplices nos trabalhos de espionagem da agência.
Em outras palavras, o governo americano conseguiu moldar os padrões globais de privacidade e segurança de acordo com sua própria capacidade para espionar. As grandes empresas aceitaram adotar padrões de criptografia previamente acordados com o serviço secreto dos Estados Unidos.
A gravidade desse fato reside no extraordinário poder de chantagem e pressão que ele confere aos EUA em sua relação com outros países, além do perigo que isso representa ao cidadão, que fica a mercê do humor de milhares de aspones do serviço secreto do império. Esse poder lhes ajuda, naturalmente, a fazer a guerra que desejarem. Se alguém ou alguma instituição se insurgir contra a guerra, o serviço secreto logo encontrará algum segredinho sujo escondido num email antigo e o fará mudar de ideia…
Em questões de comércio, o desequilíbrio é evidente. Imagine se o Brasil tivesse aceitado a criação da Alca, conforme queriam os tucanos? Todas as empresas e o governo brasileiro estariam ainda mais dependentes de um país cujo poder de barganha é nocivamente desproporcional, em virtude de uma espionagem sistemática, clandestina e ilegal de tudo e todos. Os EUA podem entrar no computador dos membros do Copom, por exemplo, e fazer especulações sobre futuras decisões quanto aos juros. Podem influenciar e chantagear esses mesmos servidores, para que tomem decisões visando o lucro do império. Decisões judiciais importantes podem ser descobertas, da mesma maneira, com antecipação pelos americanos.
A revelação também joga por terra a falácia do “Estado mínimo” apregoada por neoliberais americanos, e seus obedientes congêneres no Brasil. O que os EUA vêm fazendo é exatamente o contrário. Um Estado cada vez mais mais intrusivo na vida de qualquer um. Um Estado que não ajuda pobres, nem nos EUA nem em lugar nenhum do mundo, mas pode ler seus emails e depois lançar um míssil de vinte milhões de dólares sobre o barracão de zinco onde ele reside.
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