quarta-feira, 6 de maio de 2015


O PT não voltará a ser “a esquerda 

de que a direita gosta”. A direita, 

agora, gosta de si mesma 

Fernando Brito                                     
panelaco
Não importa que tenha sido restrito aos bairros de elite e resultado de uma ação combinada pelas organizações de direita que se aninham nas redes sociais.
O “panelaço” das varandas não vai sair da cena política.
Veio para ficar, como o “Tea Party” não desapareceu nos EUA, como os partidos de extrema-direita ressuscitaram do pré-2a. Guerra e da Guerra Fria na Europa, como acontece no Leste Europeu com partidos de inspiração – evidentemente negada, e nem sempre – nazista.
Claro que a insanidade e o ódio da mídia criaram a incubadora deste ovo da serpente.
Não cabe mais a fantasia de que um discurso de “inclusão” – em si correto –  pôde se diluir naquela história de “um país de todos”.
Claro que este é o desejável, mas não é o real.
O Brasil não é um país das maiorias porque segue sendo uma capitania de poucos.
O PT conseguiu muito com esta “aceitação das regras do jogo”, jogo viciado, é inegável para qualquer um que veja os indicadores sociais do país.
Mas que cobraram seu preço.
Regras que, ao não serem contestadas e receberem o “aceite”, acabaram transformando seus quadros em políticos “amaciados” à sua prática.
As decisões polêmicas das quais se fugiu foram trazidas à ordem do dia agora, quando mais fraco ele se encontra.
E contra ele.
Mas o PT e o Governo do PT continuam sonhando em “(re)conquistar aclasse média”.
Mas isso depende de um cenário de afluência econômica que não está no radar de ninguém.
Muito menos a elite, que se beneficiou durante todos estes anos,sente que pode destruí-lo.
Parte da classe média, que a ele deve a ascensão ,  comporta-se como o filho pródigo, que a si atribui todo o mérito e sucesso.
O PT vai ter de se acostumar à ideia de que será hostilizado pela direita, ainda que irracionalmente, porque jamais ousou enfrentá-la aberta e decididamente.
Já não pode ser, entretanto,  “a esquerda de que a direita gosta”, lembrando a frase de Darcy Ribeiro.
A direita saiu do gueto e já  pode ter seus amores próprios e transtornados.
Mas o povão passou a se sentir órfão, porque seu amor, agora, só faz acenos a outros.
Em quase seis meses, entre as medidas de arrocho – certamente necessárias – não há uma que pese sobre a elite financeira.
É preciso ter a clareza de ver que um governo de coalizão, no qual se tem de ceder – e hoje, de ceder muito – não se confunde com ter uma identidade política que o transcenda.
Identidade cujo nome é Luís Inácio Lula da Silva.
É contra ele que se batem panelas.

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