Da necessidade de
articular estratégias
nacionais
A China avança de forma exponencial na economia mundial. Banco da China, Banco dos BRICs, Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, todo esse aparato significa a invasão chinesa no último reduto inexpugnável da economia internacional: o mercado financeiro e as instituições multilaterais, desde Bretton Woods sob firme controle dos Estados Unidos.
Aconteceria agora ou mais tarde. Mas essa ocupação de território ocorre em um momento de total apatia da política externa norte-americana.
Lá e cá o mesmo fenômeno.
Primeiro, um estilhaçamento do poder, provocado pela globalização e suas múltiplas facetas: os movimentos migratórios, as redes sociais, os grandes movimentos de inclusão, a expansão do crime organizado e do terrorismo internacional, a implosão dos sistemas tradicionais de controle das informações através dos grandes grupos de mídia.
Todos esses fenômenos corroeram as formas tradicionais de poder, abrindo espaço para novos interlocutores antes que um novo aparato institucional surgisse para domar os novos tempos.
Na sequência, a dificuldade dos governantes de entender os novos tempos, a emergência da intolerância como manifestação mais ostensiva do desconforto da classe média com os novos tempos, e o trabalho pertinaz da oposição de manietar todas as iniciativas governamentais.
Obama lá e Dilma cá são vítimas de suas limitações e da dificuldade de interpretar os novos tempos que os faz reféns da inércia. Partido Republicano lá, PSDB cá, a mesma incapacidade de criar um projeto alternativo e, na falta de ideias, passar a recorrer aos zumbis que saíram da tumba.
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O esgoto de direita que invadiu a imprensa nos últimos anos e o lixo da intolerância que espalhou-se pelas ruas das cidades, em breve voltarão para as catacumbas dos tempos. O país é muito maior do que isso.
Mas o caminho do desenvolvimento continuará lento, pela incapacidade nacional de planejar as ações futuras – visível na falta de thinks tanks, centros de visão estratégica, e na incapacidade atual do governo de articular planos integrados.
É por aí que se entende porque alguns países aproveitam janelas de oportunidades e dão saltos no seu processos histórico, enquanto outros parecem caminhar permanentemente atrás dos fatos.
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Por exemplo, houve uma desvalorização do real, abrindo espaço para uma retomada das exportações de manufaturados e uma substituição dos insumos importados que, nas últimas décadas, tomou de assalto as diversas cadeias produtivas nacionais.
Por outro lado, há a invasão chinesa. Se entrar nesse jogo com uma visão clara de futuro, de complementariedade com a economia chinesa, o país poderá experimentar uma nova revolução industrial. Hoje em dia há inúmeras limitações ambientais na China.
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Dilma poderá reabilitar-se perante a História se se der conta do papel da presidência como definidor da pauta nacional, como organizador do debate, como estimulador da nacionalidade.
O primeiro passo é definir a visão de futuro.
Criou-se um novo espaço de debate com o exaurimento provisório das manifestações de rua, com o cansaço do negativismo militante da mídia e com a incapacidade da oposição de definir um projeto de país.
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Por outro lado, a sombra da recessão está chegando com a velocidade de um tsunami. Mudar o estilo de governar não se trata mais de preciosismo, mas questão de sobrevivência.
Esta semana, o MDIC (Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio) anunciou um plano nacional de exportações, montado em reuniões com exportadores, entidades empresariais, identificando de forma sistêmica os obstáculos a serem superados.
Pode ser o início de recomposição do modelo de definição aberta de políticas públicas.
Ou não.
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