Especialista
de Harvard alerta sobre interesses dos EUA
em crise na Fifa
Daniel Lisboa
John Shulman, que estudou direito em Harvard, fala
sobre o escândalo na
Fifa...
"Eu estou chocado, você não
está?", diz John Shulman ao atender a reportagem do UOL. Ele tem uma
opinião diferente sobre o envolvimento dos Estados Unidos no escândalo da FIFA.
Professor convidado da Fundação Dom Cabral, especialista em mediação de
negociações, cofundador do Centro para a Negociação e a Justiça dos EUA, e
formado em direito pela Universidade de Harvard, ele acredita que a intervenção
"não teve cunho legal, mas geopolítico".
"Com essa ação, os EUA enviam
dois recados. Para o mundo, o de que o nosso sistema legal pode te pegar se
você estiver fazendo algo errado. Internamente, mostramos que tomamos a
iniciativa de resolver a corrupção dos outros", diz o professor.
E John entende tanto de geopolítica
quanto de futebol. Seu currículo de mediador inclui diversos trabalhos ao redor
do mundo, incluindo no Oriente Médio, na Índia e em Ruanda. Sobre o
"soccer", uma curiosidade: o hoje professor já jogou
profissionalmente na Índia, onde, segundo ele, foi o primeiro jogador ocidental
por aquelas bandas.
"Os Estados Unidos nunca deram a
menor bola para o futebol. De repente, pela primeira vez na história, o The New
York Times vem com a primeira página inteira falando do assunto. Aí eu me
pergunto: por quê?", questiona John. Para o professor, há vários pontos
obscuros no envolvimento americano. "A logística de uma operação
internacional deste porte simplesmente não vale a pena. Até porque não há um
número de vítimas nos EUA que justifiquem tamanha mobilização", argumenta
ele. "Há empresas nos EUA muito mais corruptas do que a FIFA, pode ter
certeza", crava o especialista.
"Para mim, trata-se claramente
do seguinte: são os EUA mobilizando seu aparato legal interno em prol de
questões geopolíticas. No caso, para colocar pressão na Rússia (sede da Copa de
2018), com quem o país tem tido problemas recentemente, e no Qatar (sede da
Copa de 2022), onde também existem questões geopolíticas".
John cita ainda a chance para os EUA
desestruturarem uma organização que, corrupta ou não, tem tentáculos de poder
que fogem ao seu alcance. "A ONU está presente em vários países, mas os
EUA têm poder sobre ela. Isso não acontece com a FIFA, o que causa uma ruptura
da hegemonia americana."
Quer dizer, se você está feliz que
alguém finalmente tomou a iniciativa de enquadrar a FIFA, comemore com
moderação. "É claro que a FIFA é corrupta. Todo mundo sabe disso. Mas os
EUA não estão fazendo isso pelo bem do futebol", completa John.
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