Nossa tradicional classe média
sempre gravitou na órbita
da elite excludente
Também imaginava, utopicamente, desde muito antes, Fidel. Em 1962, quando me iniciei, aos 19 anos, na militância política à 'esquerda', coincidentemente ao ingressar no Banco do Brasil(Palmeira dos Índios), achava que culminaríamos todos, ao fim e ao cabo, com uma percepção 'revolucionária' (socialista) ou, no mínimo, 'centro-reformista' por parte dos 'brasileiros da base e do meio da pirâmide social', rumo a generalizado bem-estar, face à implementação de anunciadas reformas estruturais e massivos programas de Educação à distância, no governo Goulart(MEB e 'Escolas Radiofônicas' para alfabetização de adultos, via ensinamentos do professor Paulo Freire, de renome internacional), afinal 'denunciados' na quartelada de 1964 como 'táticas(AQUI)comuno-sindicalistas' de dominação política, bandeira desfraldada nas marchas 'com Deus pela liberdade', encabeçadas por empedernidas matronas do high society paulista e reverberadas país afora - diziam - pela 'salvação da pátria' enfim 'resgatada' das garras 'vermelhas' de Moscou, Pequim e Havana...
Ultrapassadas duas décadas de golpismo, a (enganosa) expectativa de que finalmente, na segunda metade dos anos 1980, a sombria experiência autoritária motivaria o país na (re)construção da democracia. Entretanto, o 'marketing' da lógica excludente, liderado pela Rede Globo, com a cumplicidade de coadjuvantes organizações midiáticas, fizera escola e, aprodrecido o regime dos generais, acabamos(em articulação de bastidores do tipo 'samba do crioulo doido') por aceitar o arenista Sarney no 'pós-ditadura', eleger Collor em 1989(explicitamente bancado por Roberto Marinho) e FHC em 1994, um sociólogo da academia paulista 'progressista' (autoexilado na França por se contrapor à insanidade oficializada dos 'anos de chumbo'), mas, como confirmado em seus dois mandatos, figadal exegeta do neoliberalismo antinacional, de viés essencialmente 'entreguista'.
O tucano, com verniz 'social-democrata', foi escolhido, no chamado 'Consenso de Washington', candidato adequado às premissas do Banco Mundial e do FMI, como depois evidenciado nas fiscalizações 'in loco' desses organismos, através de emissários periodicamente acantonados na antessala do Ministério da Fazenda, em Brasília, ditando em domicílio nossos(inquestionáveis e desmoralizantes) 'deveres de casa'.
A vitória de Lula em 2002 decorreu de generalizado desencanto com as 'melhorias' prometidas através da estabilidade do 'plano real'. Fora implementado, entretanto, amplo esquema de desnacionalização, com o desmonte de expressivos segmentos do patrimônio público brasileiro, preconizado pelo baronato do sistema financeiro transnacional, graças à 'privataria tucana' majoritariamente alicerçada na corrupção de congressistas vinculados às poderosas oligarquias regionais.
O Brasil de políticas inclusivas que retiraram dezenas de milhões da miséria precipitou, a partir de 2003, como previsto por vozes críticas ponderadas, a reação das elites, com a perspectiva de ascensão socioeconômica do andar de baixo. Malgrado o 'mensalão' e outras farsas com roupagem político-judicial, todas desprovidas de provas na forma da lei, Lula se reelegeu em 2006 e fez Dilma sucessora em 2010, também com segundo mandato estribado no projeto de inserção cidadã do PT e seus aliados.
A classe média tradicional(subdividida em média-baixa, média-média e média alta), de raízes conservadoras plantadas na lógica colonialista de nossa formação histórica, constitui expressivo e dócil contingente simpatizante dos mais abastados, herança da arraigada estrutura da 'casa grande & senzala'. Assim, governos populares, como os de Vargas, Jango, Lula e Dilma, representaram inaceitável contramão à perniciosa intolerância dos senhores feudais de ontem, hoje e sempre, manipuladores da opinião pública através de convincentes tecnologias midiáticas com que dão as cartas, graças(ironia!) ao instituto da(generosa) concessão pública sem regras de urbanidade, tolerada pela(indesculpável e surreal) leniência dos mesmos governos petistas, aos quais competeria estabelecer, como cláusula pétrea de harmonia social, uma comunicação pluralista, fundamental à preservação do Estado democrático de Direito.
Todavia, apesar de tantas e escabrosas distorções, sigamos na luta, que o tempo urge...
Um comentário:
Muito bom texto Antônio Manoel.
Foi com o frutífero convívio contigo e de outros autênticos e exemplares sindicalistas do Sindicato dos Bancários de Alagoas que ampliei minha visão política e passei a ser um crítico do Estado Neo-Liberal.
Um grande abraço.
Fidel
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