quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dono do jatinho(a serviço de Aécio)ganhou estatal em MG

Aécio Neves publicou nesta quinta-31/07, em sua página no Face um artigo sobre a recente polêmica envolvendo o aecioporto no município de Cláudio.

No texto, Aécio admite dois erros:
O erro 1 é fofinho: “No caso de Cláudio, cometi o erro de ver a obra com os olhos da comunidade local e não da forma como a sociedade a veria à distância.”
Erro 2: “Depois de concluída essa obra, demandada pela comunidade empresarial local, pousei lá umas poucas vezes, quando já não era mais governador do Estado. Viajei em aeronaves de familiares, no caso a da família do empresário Gilberto Faria, com quem minha mãe foi casada por 25 anos.” 
Fofinho também. Usou o jatinho do marido da mamãe.
Aécio esqueceu, contudo, o erro principal. A pista não estava homologada pela Anac, nem preparada ainda para receber jatinhos do porte que ele usou.
Como um sujeito imprudente, que usa “umas poucas vezes” uma pista clandestina, quer governar o Brasil?
Além disso, acho útil trazer mais detalhes sobre o jatinho. Na verdade, o jatinho, um Hawker 800, de numeração PT-GAF, pertence à empresa Banjet Táxi Aéreo Ltda, que tem dois proprietários:  Clemente de Faria (filho do padrasto de Aécio) e Oswaldo Borges da Costa Filho.
aero_aecio


banjet_frota


banjet_socios

Pois bem, Oswaldo Borges da Costa, um dos donos do jatinho, foi indicado por Aécio, já na transição para seu sucessor, para uma das mais estratégicas estatais de Minas Gerais, a Codemig.
codemig_presidente

A Codemig opera no setor de mineração, como, por exemplo, na reserva de nióbio de Araxá, cuja exploração o governo de Minas entregou a CBMM, pertencente à família Moreira Salles.
Antes de assumir a Codemig, Borges da Costa foi, também por indicação de Aécio, diretor-presidente da Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá, uma companhia mista pertencente à Codemig e à CBMM.
Documento vazado pelo Wikileaks em 2010 revela que a mina de Araxá é considerada um dos lugares mais estratégicos para a sobrevivência dos Estados Unidos.
A exploração da mina de nióbio Araxá é uma fábrica de dinheiro para os Salles. A CBMM vale US$ 13 bilhões. Com faturamento anual superior a R$ 4 bilhões, dá mais dinheiro à família do que o Itaú-Unibanco, onde a família detêm 33% das ações.
O Brasil possui praticamente 100% das reservas mundiais de nióbio e até hoje não possui uma política específica para o setor.
Segundo a própria CBMM, em 2002 terminou o prazo da parceria entre o governo do estado e a empresa para a exploração conjunta do nióbio em Araxá, mas “as partes não manifestaram interesse na rescisão” da parceria, através da qual o governo de Minas, via Codemig, fica com 25% dos lucros líquidos de toda a operação com nióbio na região.
Adriano Benayon, um especialista em nióbio, denuncia que a CBMM exporta o produto a um preço abaixo do mercado internacional, lesando os cofres públicos em bilhões de dólares por ano.
site da Sociedade Militar acusa a CBMM de explorar sem licitação, há décadas, o nióbio brasileiro. O Ministério Público de Minas Gerais decidiu investigar o caso, mas não se sabe se o inquérito teve andamento. Parece que o MP e a Justiça de Minas estão mais interessados em prender jornalistas críticos a Aécio Neves do que sustar uma evasão bilionária das riquezas de Minas e do Brasil.
De fato, o povo brasileiro gostaria de saber quando é que alguém pediu sua opinião sobre tanta generosidade com a família Salles?
Aliás, por coincidência, o político que mais recebe doações da família Salles, através do Itaú Unibanco, é Aécio Neves.  Em 2010, o Itaú doou, oficialmente, R$ 500 mil para sua campanha ao senado. O Itaú doa para todos os partidos, inclusive para o PT, mas Aécio Neves é seu preferido.
E pensar que tudo isso começou com um jatinho.
Gilberto Carvalho tem razão. É só a ponta do iceberg.
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Prognósticos “empíricos” sobre política e economia são fraude financeira e eleitoral

             Blog da Cidadania por Eduardo Guimarães


Passou do suportável a manipulação escrachada, escancarada e possivelmente fraudulenta – portanto, criminosa – que tem sido feita por setores do mercado financeiro contra a economia do país através de “analistas” que, a partir de como se autoproclamam, confessam que seus prognósticos catastrofistas são puramente “empíricos”.
Segundo o dicionário Houaiss, usar o termo “empírico” – no singular ou no plural – para descrever a qualificação de qualquer profissional, é um insulto. Dizer que aquele profissional faz prognósticos “empíricos” (em português) ou “empiricus” (em latim), equivale a dizer que tal profissional não passa de um “charlatão”.
Muito pior é se um analista do mercado financeiro, por exemplo, assume-se como “empírico” (em português) ou “empiricus” (em latim). Aí, trata-se de uma confissão…
Quem diz isso não é o Blog, mas o dicionário
Não passam de charlatanismo em estado sólido, pois, essas análises de setores do mercado financeiro – incluindo as feitas pelas famigeradas “consultorias” – que admitem, por escrito e em áudio, que já ganharam “muito dinheiro especulando contra a Petrobrás” ou contra a situação econômica do país.
Há uma certa consultoria, por aí, que, segundo o Houaiss, alardeia ser charlatã ao batizar a si mesma com o termo pejorativo em latim – “empiricus”. Usando fórmulas enlatadas para faturar no mercado financeiro com catastrofismo, confessadamente contra empresas públicas ou privadas e contra a situação econômica do país, essa consultoria faz previsões sem qualquer base lógica ou factual.
Não existe um só analista econômico respeitado que seja capaz da enormidade de dizer que o salário de todos vai cair pela metade, que haverá desemprego em massa, que vidas estão prestes a ser arruinadas. Dizer isso é uma vigarice.
Há, sim, previsões catastrofistas feitas até por grandes conglomerados financeiros, mas nenhuma que preveja tal nível desgraça, até porque o Brasil detém excelente avaliação de risco de eminentes agências internacionais, o tal “investment grade” ou “grau de investimento”.
São ridículos esses prognósticos “empíricos”. São charlatanice. O Brasil tem recebido um forte volume de investimentos, detém quase 400 bilhões de dólares de reservas, tem o mais baixo nível de desemprego da história.
Para granjear credibilidade, esses prognósticos “empíricos” alardeiam que seus autores teriam “acertado” contra todas as previsões conhecidas em 2008, quando estourou a maior crise econômica internacional desde o limiar do século XX.
Balela. As previsões, após a quebra virtual do banco dos irmãos Lehman, foram tão catastrofistas que chegaram a dizer que a dívida insolvente que desencadeara a maior crise internacional em mais de 80 anos poderia chegar a insanos 300 TRILHÕES DE DÓLARES (!). Uma maluquice.
Já apostar “contra a Petrobrás”, como os prognósticos “empíricos” (em português) ou “empíricus” (em latim) confessam que fizeram, era meio óbvio e, por isso, muita gente se livrou da queda no preço das ações da companhia.
Afinal, o plano de investimentos anunciado pela maior empresa brasileira para explorar o pré-sal mostrava que haveria endividamento e, claro, quando uma empresa se endivida para investir, até que aqueles investimentos gerem lucro essa empresa perde valor devido à dívida acumulada, pois ninguém sabe se um endividamento, mesmo que planejado, irá gerar os resultados pretendidos.
O alarmismo promovido por setores do mercado financeiro que vêm atuando em consonância com fortes doações que estão fazendo e farão para comitês eleitorais de candidatos a presidente de oposição à candidata do governo beira a fraude eleitoral, além da financeira.
Tanto para fraudes eleitorais como no mercado financeiro, este país tem leis. Autoridades competentes, ao não aplicá-las, incorrerão nos mesmos crimes dos autores. Podem até não responder já, mas, cedo ou tarde, terão que responder. Criminosos da ditadura militar, por exemplo, supuseram que jamais seriam questionados.


Jornalismo de “nota oficial” da


Globo  tenta limpar  a barra de


Aécio,   cada  vez  mais  Collor


Fernando Brito             
              naomedeixemso
A “reportagem” do Jornal Nacional desta quinta-31 onde Aécio Neves admite o uso do aeroporto de Cláudio deveria ser copiada e distribuída nas escolas de jornalismo.
Porque é uma aula de como não deve (ou deveria) ser o jornalismo.
O texto é uma colagem de notas oficiais e declarações em clima de campanha do candidato tucano.
Não há uma gota sequer de reportagem ou investigação.
Vale o que foi escrito e o que foi dito pelo candidato.
Cláudio, que não chega a 30 mil habitantes, vira “um grande centro industrial”, nas palavras incontestáveis do candidato tucano.
Não há uma indagação sequer sobre o que justifica o asfaltamento de uma pista de aviação em Montezuma, uma vila  que não tem oito mil e nem coisa alguma, exceto a fazenda que a empresa da família Neves tomou ao Estado num usucapião pra lá de estranho.
Mas convenhamos, as faltar a pista  de Montezuma, por R$ 300 mil, foi uma bagatela ões, fora a desapropriação perto dos R$ 14 milhões gastos para asfaltar a pista aberta por vovô Tancredo nas terras do contraparente, irmão de Dona Risoleta.
Ninguém se interessa em perguntar porque uma obra custou 40 vezes mais do que outra, bastante semelhante.
Quem sabe pudessem perguntar ao piloto do “avião da eleição” que o JN põe no ar para mostrar as mazelas do Brasil – que começaram neste governo, é claro – se é normal pousar em aeroportos irregulares.
Ou se ele se comunicava com a “torre” de Cláudio.
- Manda chamar o tio!
- Fala, sô
- Fasta os boi,  que nós tá ino…
- Já mandei tirá, minino.
- Os garoto dos aeromodelo num tão por lá, não?
- Craro qui não, avisei qui quem ia brincá hoje era ocê…
Nenhum repórter foi olhar o processo para saber, afinal, em quanto ficou a bufunfa do tio na desapropriação.
A culpa é da Anac, que não homologou um aeroporto particular que não apresentou os documentos. E outro, o de Montezuma, que nem pediu para ser homologado.
Carece não, é só pro menino usar.
Inútil, porém, a pasteurização jornalistica do assunto.
O povo, que é muito menos bobo do que a Globo pensa, não compra bonde faz tempo.
A expressão de Aecio, olhos esbugalhados, palavras despejadas, trai mais a verdade que a tolice do que é dito.
É o “não me deixem só”.
Não adianta remendo.
Era melhor fazer com o gato, que enterra.

Sejamos sinceros, Israel não quer a paz

José Antonio Lima    

Carta Capital
   
  
Tanque de guerra israelense


Quem acompanha minimamente o noticiário internacional e já ouviu falar do conflito entre Israel e os palestinos conhece a versão segundo a qual a culpa pela violência é das duas partes. Esta explicação já foi verdadeira, como comprovam os abusos cometidos de parte a parte ao longo do último século, mas a cada nova crise ela se enfraquece. O passar do tempo tem tornado óbvia a responsabilidade maior de Israel pela perpetuação da tragédia. A atual ofensiva, aberta em 8 de julho com o início da operação Protective Edge (Borda Protetora), escancara a intenção israelense de, custe o que custar, levantar barreiras à formação do Estado palestino.
O Hamas, alvo da atual operação militar israelense, tem suas mãos repletas de sangue. O grupo realizou inúmeros ataques em Israel ao longo de sua história e, recentemente, se notabilizou pelo lançamento indiscriminado de foguetes contra alvos civis. Em seus documentos oficiais o Hamas se revela antissemita e prega a destruição de Israel. Diante desses fatos, a simples existência desta facção militante causa engulhos em muitos israelenses, mas o caminho para a paz passa, necessariamente, pelo Hamas. Como afirmava Moshe Dayan, histórico líder político e militar de Israel, a paz não se faz com amigos, mas com os inimigos.
Há pelo menos dois anos, analistas avaliam que o Hamas pode estar moderando suas posições, ainda que por meio de canais informais, como declarações públicas, e não por documentos oficiais. Entrevistas recentes de Khaled Meshaal, o líder do Hamas, exilado no Catar, dão força a essa possibilidade. No domingo 27, Meshaal foi o entrevistado do programa Face The Nation, da rede de tevê norte-americana CBS. Ele negou o antissemitismo e se disse pronto para coexistir com os judeus. Questionado repetidas vezes pelo entrevistador sobre a possibilidade de reconhecer a existência de Israel, afirmou: "Quando tivermos o Estado palestino, então o Estado palestino vai decidir as suas políticas. O povo palestino poderá dar sua opinião quando tiver seu próprio Estado, sem ocupação". Diante do histórico do Hamas é compreensível a desconfiança sobre a sinceridade de seu líder, mas, existisse hoje em Israel um governo disposto a lutar pela resolução do conflito, ele se agarraria à frase com força, porque, ao cogitar a possibilidade do reconhecimento de Israel, Meshaal provavelmente fez o maior aceno à paz por parte do Hamas.
O encerramento da questão palestina, no entanto, não é intenção do governo israelense. Isso fica claro quando se percebe que as hostilidades atuais foram provocadas deliberadamente por Israel.
Uma guerra provocada
Em abril deste ano, o Hamas e o Fatah, grupo secular que controla a Cisjordânia, assim como a Organização para a Libertação da Palestina e a Autoridade Palestina, entidades reconhecidas internacionalmente, chegaram a um histórico acordo para formar um governo de coalizão. Os dois grupos estavam divididos desde 2007, quando uma guerra civil palestina eclodiu após o Hamas ganhar as eleições parlamentares de 2006 e ser proibido de assumir o governo por Israel e pelas potências ocidentais. No acerto deste ano, o Hamas mostrou o desespero provocado pelo isolamento em que se encontra. O grupo abriu mão daquela vitória eleitoral e entregou a autoridade sobre os palestinos integralmente nas mãos de Mahmoud Abbas, o chefe da OLP e da AP. Em troca, o novo governo passaria a pagar os salários dos 43 mil funcionários da administração criada pelo Hamas e Israel e o Egito aliviariam o bloqueio terrestre, aéreo e naval responsável por transformar a Faixa de Gaza em um gueto no qual cerca de 1,7 milhão de pessoas vivem em condições precárias. Como afirmou Nathan Thrall, analista do International Crisis Group, no jornal The New York Times, Israel dinamitou o acordo de coalizão ao não abrir as fronteiras e impedir o pagamento dos salários. Antes, o governo de Benjamin Netanyahu afirmou que jamais negociaria com o Hamas, atacou a Faixa de Gaza e manteve a construção de assentamentos na Cisjordânia.
Apesar das ações de Israel, havia uma grande pressão dos Estados Unidos e da União Europeia para que o governo israelense negociasse seriamente. Em junho, veio a tábua de salvação para Netanyahu.
No dia 12 daquele mês, três adolescentes israelenses, Naftali Fraenkel, Gilad Shaer e Eyal Yifrah, desapareceram em Gush Etzion, assentamento na Cisjordânia. Logo após o sequestro havia indicações de que os três tinham sido assassinatos. O carro usado no crime foi encontrado, com marcas de sangue e buracos de balas. Mais importante, a polícia israelense tinha a gravação de uma ligação feita por um dos garotos ao serviço de emergência, no qual ficava claro que ele tinha sido baleado.
O governo de Israel, no entanto, proibiu a divulgação do áudio por parte das autoridades policiais e da imprensa. Ao mesmo tempo, iniciou uma campanha intitulada "tragam nossos garotos de volta", apoiada por parte da imprensa, que aderiu mesmo sabendo do conteúdo da gravação. Netanyahu também anunciou, sem provas, que o sequestro teria sido realizado pelo Hamas. Na "busca" pelos garotos, Israel cercou a cidade de Hebron, demoliu residências, prendeu centenas de palestinos, dezenas deles integrantes do Hamas, e matou cerca de dez pessoas.
O resultado do estratagema foi uma impressionante onda de xenofobia anti-árabe em Israel, que culminou com o brutal assassinato de Mohamed Abu Khdeir, adolescente de 17 anos queimado vivo por extremistas israelenses. O plano do governo Netanyahu parece ter servido também para, como cogitou o jornalista israelense Raviv Drucker, galvanizar o sentimento anti-Hamas em Israel e gerar apoio à ofensiva contra o grupo militante na Faixa de Gaza. Em retaliação aos atos de Israel na Cisjordânia, o Hamas voltou a lançar foguetes contra alvos israelenses. Assim começou a operação Borda Protetora. Hoje, o apoio a ela é tão firme que a revelação, feita pelo chefe de polícia de Israel, Mickey Rosenfield, a Jon Donnison, da BBC, de que o Hamas não foi responsável pelo sequestro, teve repercussão mínima em Israel.
Israel não quer a paz
A operação atual é a terceira de Israel desde 2008 e segue um comportamento batizado com o tétrico nome de "cortar a grama". De tempos em tempos, Israel ataca a região, matando pessoas e destruindo a infraestrutura do Hamas, de forma a aleijar temporariamente o grupo palestino. Por trás das operações regulares está, como explica Zack Beauchamp em análise no site norte-americano Vox, o entendimento de que Israel não poderá destruir por completo o Hamas. Como a grama, a facção palestina vai voltar a crescer até ser "aparada" novamente.
Há outros dois motivos para Israel não realizar uma ação decisiva contra o Hamas. Em primeiro lugar, o grupo é mais moderado que as outras várias facções atuantes na Faixa de Gaza. Assim, manter o Hamas como principal adversário é importante para não piorar a situação. Em segundo lugar, o Hamas, com seu radicalismo, fornece os pretextos perfeitos para Israel não contribuir para o avanço das negociações com os palestinos. Quando o grupo não gera essas justificativas, o governo israelense as fabrica.
O "corte de grama" é parte central do objetivo do governo de Netanyahu e da coalizão de direita e extrema-direita que ele lidera: manter o impasse atual para sempre, sem anexar por completo os territórios palestinos e, muito menos, sem contribuir para a criação de um Estado palestino. A intenção é antiga e antecede a chegada de Netanyahu ao poder. Como lembrou Mouin Rabbani em recente artigo no London Review of Books, em 2004, um ano antes de o governo de Ariel Sharon desocupar a Faixa de Gaza, Dov Weisglass, conselheiro do então premier, afirmou ao jornal Haaretz que o intuito da saída da Faixa de Gaza era "congelar o processo de paz". "Quando você congela esse processo, você previne o estabelecimento de um Estado palestino, e previne a discussão sobre os refugiados, as fronteiras e Jerusalém", afirmou Weisglass. "Efetivamente, todo este pacote chamado Estado palestino, com tudo o que ele implica, foi removido indefinidamente de nossa agenda".
Até 2009, Netanyahu era, assim como seu partido, o Likud, contra a chamada solução de dois Estados – Israel e Palestina. Naquele ano, sob pressão de um Barack Obama recém-empossado, Bibi fez um famoso discurso na Universidade Bar Ilan no qual se disse favorável a um Estado palestino, desde que desmilitarizado. No último 12 de julho, Netanyahu aparentemente reverteu sua posição, ao afirmar em uma entrevista coletiva que jamais aceitará um Estado palestino completamente soberano. As declarações parecem semelhantes, mas a segunda carrega um peso significativo pois rechaça de antemão a demanda palestina por um país próprio.
Há um componente ideológico na recusa de Netanyahu a um Estado Palestino, mas a questão estratégica é mais decisiva. Conceder soberania aos palestinos na Cisjordânia seria abrir a possibilidade de a maior cidade israelense, Tel Aviv, ficar a menos de 20 quilômetros de um exército adversário que teria, também, capacidade para dividir o estreito Estado de Israel ao meio. Barrar a fundação da Palestina é, aos olhos de Netanyahu, garantir a sobrevivência de Israel. Se o objetivo implica em um sofrimento acintoso para os palestinos, isso não diz respeito a Israel, acredita o premier.
Esta forma de pensar é amplamente popular hoje em Israel. Após o fracasso do processo de paz da década de 1990, que culminou com a segunda intifada (2000 a 2005) e uma série de atentados terroristas em cidades israelenses, a direita e a extrema-direita se fortaleceram. Questionar a ocupação da Cisjordânia e a violência empregada contra a Faixa de Gaza se tornaram causas praticamente perdidas, para não dizer perigosas a seus defensores.
Apesar de ter conseguido convencer boa parte da população, o expediente usado por Netanyahu é perigoso para Israel, pois o status quo não poderá ser sustentado por muito tempo. George Friedman, da Stratfor, afirma que é muito mais fácil vislumbrar episódios prejudiciais a Israel no futuro do Oriente Médio do que favoráveis. Assim, um acordo arriscado com os palestinos, mesmo inviável politicamente, seria prudente pensando no futuro. Netanyahu e muitos outros líderes não raciocinam desta forma. Como afirmou o ex-líder do Shin Bet Abraham Shalom no documentário The Gatekeepers, as forças de segurança israelenses não têm estratégia, apenas tática.
Hoje, Israel possui acordos de paz com a Jordânia e o Egito. Se fizesse o mesmo com os palestinos, poderia garantir sua segurança no longo prazo. A opção por manter uma ocupação ilegal e draconiana, impondo um sofrimento desumano a quatro gerações de palestinos, só faz fomentar o ódio em suas fronteiras. Mais que isso, ao acumular atrocidades impressionantes para "cortar a grama" na Faixa de Gaza e manter o status quo, Israel se isola internacionalmente e coloca em risco sua própria legitimidade. A magistral força militar e a habilidosa classe política parecem estar alimentando o sonho de uma segurança eterna para Israel. Se os israelenses não entenderem a realidade, vão sair do sonho diretamente para um pesadelo. Talvez mais rápido do que imaginam.

 



O que espera o Brasil caso os


discípulos de Thatcher dêem


as cartas na economia


Paulo Nogueira         

Dama de Ferro
A Dama de Ferro
O terrorismo econômico está aí.
Essencialmente, o que os conservadores estão dizendo é que a política econômica descarrilhou sob Dilma.
Só Aécio salva, é a mensagem.
O que a direita quer para a economia é, numa palavra, a receita thatcheriana.
Os pilares da doutrina consagrada nos anos 1980 por Margaret Thatcher podem ser resumidos assim: privatizar, desregulamentar e reduzir ao máximo as despesas sociais.
A busca, em suma, do Estado mínimo.
É o que o “mercado” quer por razões óbvias: as empresas, nacionais e internacionais, ganham barbaramente com isso.
Como em todo jogo alguém perde, os trabalhadores pagam a conta. A Inglaterra sob Thatcher regressou a níveis de desigualdade próximos do abismo que existia na era vitoriana.
Esqueça, por um momento, questões como ideologia ou mesmo justiça. A questão é: a receita funciona?
Ou sob outro ângulo: se o Brasil adotar os preceitos thatcherianos reivindicados pelos conservadores a economia vai deslanchar?
A resposta, se você olha a história, é: não.
Os mandamentos de Thatcher são bons apenas para o chamado 1%. Para os demais 99%, não.
Para o país como um todo, para a saúde da sociedade, menos ainda. Seguir Thatcher é uma calamidade nacional.
O thatcherismo está na raiz da crise econômica que castiga o mundo desde 2008.
Sob Reagan, os Estados Unidos abraçaram o thatcherismo. O mercado financeiro foi desregulamentado, para dar liberdade aos bancos e assim, alegadamente, promover a economia.
Depois de alguns anos, veio a hecatombe.
Na busca de lucros exorbitantes, os bancos americanos – livres de regulamentação – afrouxaram todos os controles para quem pedia empréstimo para comprar casa.
Até que começou a inadimplência.
Milhares, milhões de tomadores de empréstimo não tinham condições de honras as dívidas.
Os calotes se multiplicaram. Grandes bancos quebraram. E a crise econômica se espalhou rapidamente pelo mundo.
Nunca mais a economia mundial se recuperou. A locomotiva dela, os Estados Unidos, vem se arrastando desde então.
Em breve, graças à estagnação americana, a China deve se converter na maior economia do mundo.
Também a Inglaterra de Thatcher ainda hoje enfrenta as consequências econômicas e sociais da falsa revolução da Dama de Ferro.
A ressaca do thatcherismo tornou Thatcher tão detestada que os ingleses fizeram celebrações em praças públicas quando ela morreu.
Não existe uma única estátua dela na Inglaterra, sequer em sua cidade natal: ela seria derrubada em dias, talvez horas.
É esta mesma receita que os conservadores querem para o Brasil agora.
Suponha que ela seja adotada pela próxima presidência. Rapidamente, os suspeitos de sempre lucrarão – a plutocracia, ou o 1%.
Num país cujo maior desafio é mitigar a desigualdade social, seria uma tragédia.
O país avançou socialmente nos últimos anos. Menos do que poderia e deveria, é verdade. Mas avançou.
O thatcherismo faria o Brasil retroceder várias casas na questão social em pouco tempo.
Num momento de franqueza desconcertante, Aécio prometeu a empresários “medidas impopulares” caso se eleja.
Seu guru econômico, Armínio Fraga, um fundamentalista do thatcherismo, falou que o salário mínimo cresceu muito nos últimos anos.
Avisos do que vem por aí caso o thatcherismo seja posto em ação no Brasil não faltam, portanto.
Os thatcheristas prometem a você o paraíso. Mas entregam o inferno. Paraíso, só para eles mesmos.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.