quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Normalização dos reservatórios reequilibra modelo de tarifas de energia mais baixas                          


Fernando Brito  - 1º de janeiro de 2014                  
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Há muito noticiário – e é certo que haja – sobre os estragos materiais e sofrimentos  humanos causados pelas chuvas no litoral brasileiro.
De fato, Rio de Janeiro e Espírito Santo, bem como a região mineira do Vale do Rio Doce, contígua aos capixabas, sofreram com os temporais.
Mas a chuva em outras regiões do país está produzindo um efeito que, ao contrário, é muito positivo para os brasileiros e que não sai nos jornais.
Os reservatórios das hidrelétricas viraram o ano em situação melhor que a de 2013 e devem nos próximos dois meses, atingir níveis suficientemente confortáveis para a geração de energia durante o período mais seco do ano, embora previsões sobre chuva sejam sempre sujeitas a erros.
As usinas do Sul e do Sudeste já haviam chegado a níveis melhores no segundo semestre do ano, depois de um primeiro semestre muito abaixo do normal para a época do ano. Hoje, quase todas trabalham para ajustar a acumulação entre eles, com volumes de defluência (saída de água), maiores que os de afluência, deliberadamente.
O que mais preocupava era o Nordeste, onde os reservatórios do Rio São Francisco estavam perigosamente baixos até o final do mês de novembro. Três Marias e Sobradinho, que respondem juntas por 90% da água represada no Nordeste (embora Três Marias seja em Minas, é considerada integrante da bacia nordestina), andavam na faixa de 20% de sua capacidade.
O problema nem é a geração que essas represas têm em suas usinas, que não chega a representar nem 20% de toda eletricidade produzida pelas águas do São Francisco (cerca de 1450 megawatts), mas seu papel em regularizar a vazão e permitir a operação plena  do parque gerador situado rio abaixo ( Itaparica, Moxotó, as quatro unidades de Paulo Afonso e Xingó, que produzem juntas perto de 9 mil MW).
Em um mês, o nível das águas subiu 50% – o que representa 10% do volume total dos reservatórios, permitindo o mesmo também em Itaparica, que tem uma capacidade de reservação significativa, mas não pode operar mais que 30% dela, por conta das características topológicas. Outras, como Paulo Afonso 4 e Xingó, as mais potentes, operam a fio d´água, ou seja, sem capacidade significativa de armazenamento de água além da que move as turbinas.
Para você ter uma ideia concreta do que é isso: são mais 4,5 bilhões de litros  d´água, ou duas vezes o volume da Baía da Guanabara.
Sobradinho está, .nos últimos dias, conseguindo acumular três quartos da água que recebe sem prejudicar a operação das usinas a jusante. Três Marias está acumulando 40% da água que lhe aflui e isso deve aumentar ao longo da semana, com as chuvas previstas para o centro-sul de Minas, onde se formam as cabeceiras do “Velho Chico”.
Com isso, a geração térmica, mais cara – e cuja conta o Governo compensa para equiparar o preço, o que consumiu R$ 7 bilhões este ano – deve voltar ao que normalmente é nesta época: menos de 10% do total da energia do Sistema Integrado Nacional. Ela chegou perto de 30%, nos momentos mais críticos.
A situação ainda não é sólida, mas a tendência é que evolua para perto da normalidade, depois de dois anos nos quais sempre esteve em níveis preocupantes.
E aí, toda a discurseira sobre “os erros” do modelo que barateou as tarifas – calcada em argumentos que não se sustentam fora de uma situação emergencial –  vai por terra.
Ou por água abaixo.
Aí, os “gênios do apagão” voltam para a obscuridade que merecem.

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