Nas asas da sueca Saab
Escolhida para sediar a produção de caças da FAB, a paulista São Bernardo do Campo também poderá fabricar 'drones'
Luiz Antonio Cintra
Vice-presidente sênior da sueca Saab, Dan Jangblad estará nos próximos anos à frente do projeto de construção dos caças Gripen NG, o modelo escolhido recentemente pelo governo brasileiro. A encomenda bilionária – de cerca de 4,5 bilhão de dólares para 32 jatos – deverá criar ao menos mil empregos em São Bernardo do Campo, prevê o prefeito da cidade, Luiz Marinho (PT), que festeja a chegada da Saab, dona, desde 2011, de um centro de inovação e pesquisa na cidade do ABC paulista. “Foi a melhor opção para o Brasil, principalmente pela garantia de transferência de tecnologia, que com os suecos temos certeza de que acontecerá”, diz Marinho.
Na entrevista a seguir, Jangblad fala da encomenda brasileira, de outros negócios semelhantes em negociação mundo afora e comenta a possibilidade de a fábrica de São Bernardo também produzir drones mais adiante. Para tanto, bastaria surgir um parceiro nacional disposto a se associar à Saab.
CartaCapital: Em que países os jatos Gripen são fabricados atualmente?
Dan Jangblad: O único local onde fazemos a montagem completa dos aviões Gripen é em Linköping, na Suécia. Temos algumas unidades em outros países para fabricar partes de aviões, partes da fuselagem, por exemplo, e de lá são embarcadas para a Suécia.
CC: Quantos funcionários a Saab emprega?
DJ: No total são 10 mil funcionários na Suécia.
CC: E existe a chance de o investimento em São Bernardo causar demissões na Suécia?
DJ: Será um investimento ‘ganha-ganha’, bom para ambos os lados porque os volumes de vendas irão crescer. O potencial do Gripen foi confirmado pelo mercado, e eu estou muito otimista. É uma grande oportunidade para todos.
CC: Existem outros países interessados em encomendar os caças da Gripen?
DJ: O governo suíço escolheu recentemente comprar os nossos caças. Agora estamos aguardando apenas o resultado do referendo para confirmar a escolha, previsto para ocorrer em maio.
CC: Um referendo popular para autorizar o negócio?
DJ: Sim, lá eles têm uma democracia diferente da de outros países. Na Suíça, todas as decisões mais importantes passam por um referendo, o que é sempre interessante. No caso do Gripen NG, o escolhido pelo Brasil, estamos em conversas com a Suíça e a própria Suécia. Com outros países estamos em negociação para a venda das versões anteriores, na África do Sul, República Checa, Hungria, Tailândia e, claro, mais uma vez a Suécia.
CC: A venda de caças militares tem um risco político, não?
DJ: Sim, sem dúvida.
CC: E existe alguma relação entre a escolha de São Bernardo e o fato de o ex-presidente Lula ter sua origem política na cidade?
DJ: Sobre isso eu não sei, mas o que sei é que temos um ótimo apoio do prefeito Luiz Marinho. O prefeito entendeu que temos condições de contribuir com a cidade. De nossa parte, escolhemos São Bernardo por saber que aqui os investimentos industriais funcionam. Também é uma situação do tipo “ganha-ganha”.
CC: O sr. conheceu o ex-presidente Lula?
DJ: Não o conheço pessoalmente.
CC: E o sr. tem uma opinião a respeito dele?
DJ: O que vi do exterior é que ele foi um presidente que mudou muito o Brasil e realizou muitas coisas para os brasileiros. É realmente fascinante como ele se tornou um ícone político mundial.
CC: No Fórum Econômico Mundial, em Davos, surgiram vários comentários pessimistas em relação à economia brasileira. O sr. também está pessimista?
DJ: Quando olhamos a economia mundial hoje, vemos muitos pessimistas. Na Europa, tenho visto basicamente verdadeiros massacres em economias próximas a nós. Comparando a isso, eu não estou muito tenso com a economia brasileira. Hoje em dia estamos habituados a situações difíceis. Não sou expert, mas não estou extremamente preocupado.
CC: O uso crescente de drones afeta o seu negócio?
DJ: Também trabalhamos com veículos não tripulados.
CC: É possível que esses equipamentos também sejam produzidos em São Bernardo?
DJ: Sim. Como disse antes, o Brasil é um país muito avançado em matéria de indústria aeronáutica. E certamente vejo um potencial para parcerias aqui, inclusive no caso de veículos não-tripulados. Basta encontrarmos um sócio no Brasil interessado, porque a expertise existe.
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