Sobre CBF e Portuguesa: o futebol brasileiro precisa de uns rolezinhos em seus corredores
Kiko Nogueira(*)
A tentativa de suborno da CBF, ao propor à Portuguesa que desista de buscar judicialmente a vaga na Série A do Brasileiro em troca de um adiantamento de 4 milhões de reais, é um descalabro e uma piada em vários sentidos.
Ao colocar uma cláusula desse tipo num contrato, existe uma espécie de admissão de que é um procedimento normal. E é, para eles. Qual o problema? Topou, topou. Afinal, o presidente da Federação Paulista, Marco Polo del Nero, já havia recebido o presidente da Lusa, Ilídio Lico, para tratar de negócios. ”Isso é uma minuta de contrato. O clube lê, se não aprovar rebate”, disse.
Lico está esbravejando contra a CBF, mas não foi sempre assim. No dia 7 de janeiro, ele declarou ao portal Terra: “Eu fui à Federação para ver se conseguia que me ajudassem financeiramente. Também estava lá o presidente José Maria Marin, um homem que nos atende muito bem, um homem fabuloso”.
Fabuloso?
Com o vazamento do documento, mudou o tom. “Fiquei revoltado com a proposta feita pela CBF. Eu tenho que abrir o jogo, o contrato é indecente. Eu ainda tenho que devolver o dinheiro em 2015″.
Ele narrou a história: “Pedimos para nos ajudar. Ele [Del Nero] falou: ‘Vou te arrumar R$ 4 milhões’. Fiquei feliz, né? Ele falou: ‘Vou te mandar o contrato’ e chegou esse contrato. Seria um empréstimo, mas a gente não esperava as cláusulas que vieram”.
A Lusa estaria devendo mais de 120 milhões de reais. O STJD avisa que vai “cobrar a CBF” pela chantagem. A Lusa, em nota oficial, diz que irá apresentar o contrato ao Ministério Público “oportunamente para que este, ciente da questão, tome as devidas providências”.
Marco Polo Del Nero foi reeleito presidente da FPF na segunda-feira (20). Era o único concorrente ao cargo. É apontado como o candidato de Marin para a sucessão da CBF. Está à frente da entidade desde agosto de 2003, após a renúncia de Eduardo José Farah, que a comandou por 15 anos. Se cumprir o mandato, Del Nero ficará o mesmo tempo. São cargos vitalícios, em que o sujeito só sai quando está chafurdando completamente na lama, só com a cabeça de fora.
O futebol brasileiro precisa de uns rolezinhos em seus corredores escuros para assustar esse pessoal. Urgentemente.
Kiko Nogueira é diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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