Espécie de prêmio à mesquinharia e à incompetência generalizada dos nossos dirigentes, depois de 14 anos o futebol brasileiro está oficialmente de volta ao caos. Porque alguns fatores, como o conflito entre as decisões do STJD e da Justiça Comum, tornam o futuro do Campeonato Brasileiro imprevisível. Ninguém pode dizer com certeza como e quando será. Gilberto Silva já fala em 80% de chance de greve. Flávio Zveiter, presidente do STJD, fala que próximas edições podem ficar inviabilizadas por insegurança jurídica. O País que vai realizar a Copa do Mundo, que dois anos atrás era o símbolo do desenvolvimento, com direito a capa na The Economist, não consegue minimamente organizar um campeonato de futebol. Segue na idade média em termos de gestão.
Sim, a CBF é responsável por isso até a medula porque representa o que há de pior em termos de política esportiva. Mas não está sozinha. Simplesmente porque não deveria ser seu papel organizar campeonatos. Seu foco deveria estar em cuidar das seleções e zelar pelo desenvolvimento do esporte em todos os cantos do País. Sua inépcia é tão grande que não consegue nem desenvolver um site oficial para o Campeonato Brasileiro. Não promove a competição, não fornece estatísticas interessantes, não aumenta o interesse pelo jogo, não fortalece o produto futebol. Nem sequer publica quem são os jogadores suspensos ou em condições de jogo em determinada rodada.
Poderia ser diferente se os clubes tivessem assumido a responsabilidade e se unido em torno de interesses comuns. A roda foi uma invenção genial, mas invenções geniais demoram para acontecer. Para não precisar inventar a roda toda hora, basta olhar para o lado e se inspirar nas experiências que já deram certo em outros lugares. Imaginem se os clubes brasileiros tivessem levado a sério a ideia de replicar o modelo que transformou o Campeonato Inglês de um produto insosso no mais espetacular campeonato nacional do Planeta?
Em 1992, os principais clubes locais se uniram para formar a Premier League. Você pode não ser fã do estilo de jogo praticado pelos britânicos, mas não pode deixar de reconhecer o sucesso da iniciativa. Liga de futebol mais vista no Planeta, atualmente a competição é transmitida para 212 países e mais de 600 milhões de lares. Em 2012, a liga fechou um novo acordo comercial para venda dos direitos televisivos válida no triênio 2013-2016. Nesse período, os 20 clubes dividirão uma bolada de cerca de R$ 6 bilhões de euros ou cerca de R$ 20 bilhões. Para dar equilíbrio à disputa e aumentar sua atratividade, a divisão é feita da seguinte forma: 50% em partes iguais, 25% de acordo com a performance esportiva e 25% de acordo com audiência e número de jogos transmitidos. Assim, até os clubes com menor performance e visibilidade conseguem recursos volumosos para montar equipes competitivas.
Bem, tente descobrir para quantos países é transmitido o Campeonato Brasileiro. Não há um site oficial que dê essa informação de forma precisa e fácil. O máximo que encontrei foi um compilado da Wikipedia, que aponta seis países: Brasil, Portugal, EUA, Bolívia, Espanha e Suriname. E tente descobrir qual a receita total obtida com direitos de transmissão. Não será nada fácil conseguir um número preciso e confiável porque, desde a implosão do Clube dos 13, as agremiações negociam individualmente com a Globo. Mas, para estabelecer uma comparação mínima, vale lembrar que em 2012, melhor ano de sua história, o recordista Corinthians recebeu um total de R$ 153 milhões.
A diferença básica entre a Premier League e o Campeonato Brasileiro é simples assim: lá, os clubes optaram por unir forças para construir o campeonato mais pulsante, organizado e com credibilidade jamais visto. Como resultado, aumentaram o interesse sobre a competição, atraíram grandes investidores e geraram receitas bilionárias para formar times poderosos. Aqui, os clubes se omitiram ou foram incapazes de se organizar porque as jogadas políticas e os interesses individuais se sobrepuseram aos interesses comuns.
O atual estado de coisas, de total indefinição sobre o futuro do Campeonato Brasileiro, abre portas para as decisões mais obscuras e atrasadas, como viradas de mesa, a volta do mata-mata e chaves com 24 times. Mas, por ser um momento de revisões e mudanças, também permite reformas positivas. Os clubes brasileiros precisam decidir se querem construir uma liga forte, como aconteceu na Inglaterra, ou se querem continuar presas ao atraso, formando times mambembes para jogar campeonatos mambembes.
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