Somos os 99% que vivem com 54% da riqueza mundial
Houve repercussão aquém da desejável de uma das notícias mais estarrecedoras dos últimos tempos. Uma ONG britânica teve uma percepção brilhante, fez uma pesquisa para confirmá-la e, assim, produziu um relatório singelamente objetivo, o qual mostrou que 1% dos terráqueos concentram 46% da riqueza do planeta.
A ONG em tela é a Oxfam International. Segundo a Wikipedia, trata-se de “Uma confederação de 13 organizações e mais de 3000 parceiros que atua em mais de 100 países na busca de soluções para o problema da pobreza e da injustiça através de campanhas, programas de desenvolvimento e ações emergenciais”.
O estudo chega a causar pânico quando se leva em conta que a população mundial chegou a 7,2 bilhões de pessoas em meados do ano passado e que 1% desse montante corresponde a 72 milhões de pessoas. Ora, se riqueza mundial atingiu em 2013 US$ 241 trilhões, descobre-se que 72 milhões de pessoas acumulam 46% dessa riqueza, ou US$ 110 trilhões.
Os 7 bilhões e 128 milhões de terráqueos restantes, portanto, têm que se virar com os US$ 131 trilhões igualmente restantes.
Se a riqueza total da humanidade fosse dividida de forma equânime pelos 7,2 bilhões de seres humanos, cada um teria um patrimônio de US$ 33.472, ou quase R$ 80 mil. A humanidade, nesse caso, viveria uma era de paz e prosperidade. Não haveria guerras, fome, violência e criminalidade, conquanto todos se conformassem em ter o suficiente para viver dignamente.
A concentração de quase metade da riqueza do mundo nas mãos de uma parcela tão infimamente pequena da humanidade tem como subproduto conflitos entre nações que lutam contra os efeitos deletérios da miséria e que buscam minimizar tais efeitos tomando recursos de outras nações.
Internamente, os países veem se reproduzir o mesmo processo de luta por recursos financeiros que conflagra nações. Da pobreza nasce a revolta e desta a opção por conseguir com a violência aquilo que não pode ser conseguido com o trabalho, pois as condições de disputar bons cargos no mercado são absurdamente desiguais.
Tudo o que você leu até aqui serve para chegar ao ponto central deste texto.
Como a divisão dos 54% da riqueza mundial por 99% da humanidade tampouco é equânime, a desigualdade vai se reproduzindo nos outros estratos. Aqueles que têm o suficiente para viver e até para alguns luxos não querem saber do 1% que causa tamanha conflagração por recursos entre os 99%; preferem achar que fazem parte daquele contingente microscópico.
É comum, pois, ver a tal “classe média”, que consegue sobreviver com dignidade, ficar contra a distribuição de renda porque acha que esta, preferencialmente, dar-se-ia através da perda de recursos desse setor médio, que não vive na miséria mas sofre os efeitos da riqueza abjeta do 1% mais rico.
Contudo, as classes médias – sobretudo as classes médias-altas – não percebem que ao combaterem a ideia de distribuição de renda não estão ajudando a si, mas ao 1% que gera a conflagração social que atinge os que têm mais do que a maioria, mas que têm pouco diante dos que têm quase tudo só para si.
A grande luta política e ideológica que a humanidade deve travar nos dias contemporâneos, portanto, é a de convencer os setores que conseguem sobreviver com dignidade a que também se unam aos que não conseguem para combater esse 1% que detém uma quantidade de recursos que se fossem melhor distribuídos fariam do mundo um lugar muito melhor.
Como convencer os setores de renda média das sociedades de que os seus inimigos não são os mais pobres, mas, sim, o contingente microscópico que concentra aqueles US$ 110 trilhões? Parece impossível. O 1% em questão controla as comunicações, as igrejas e até o ensino escolar, de forma que vai doutrinando os 99% desde a infância.
A situação que mantém o mundo e as nações conflagradas, portanto, deriva exclusivamente do controle da comunicação de massas, que, se fosse bem usada, despertaria os que acreditam que integram o 1% mais rico da humanidade, mas que pertencem aos 99% mais pobres sem jamais se darem conta disso.
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