Cantanhêde: não pergunte de quem os
gringos fogem; eles fogem de você
Fernando Brito - 2 de janeiro de 2014 | 15:08
A cheirosa colunista da FolhaSP, Eliane Cantanhêde, escreveu hoje(AQUI) um artigo um tanto confuso, onde mistura os problemas do turismo receptivo brasileiro – que, de fato, deixa a desejar – com o turismo de brasileiros no exterior, que vai de vento em popa com a elevação de renda e com a (ainda) relativa apreciação da moeda brasileira frente ao dólar.
À parte de um turista brasileiro – “homem aparentemente bem simples” – discutir em dólares o preço de um brinquedo numa breira de estrada em Pirassununga (SP) , a colunista deve ter tido uma crise de temporalidade, por dizer que os preços para os brasileiros, no Brasil, são comparados “quase que corriqueiramente, com o dólar”.
Tanto não são que o amigo e a amiga terá de fazer contas para saber quanto é seu salário ou quanto custam sua casa ou seu carro em dólar.
Depois, usa como argumento que seria uma “bagunça fiscal” – “IPI pra cá, IPI pra lá e aumento de IOF para viagens internacionais” – o que afasta os turistas.
Ora, turista não vem comprar carro no Brasil nem vai pagar um tostão a mais nos seus gastos aqui em moeda estrangeira.
E quem vai pagar mais são os brasileiros que convertiam seus reais em dólares por travelller’s checks e em carga de cartões pré-pagos, que passam a ser equiparados, como deviam ser, aos cartões de crédito convencionais.
Cantanhede parece que não lê(AQUI) a própria Folha, que ontem publicou matéria sobre a explosão descontrolada de turismo brasileiro no exterior e as perdas que isso causa para o país.
Em 2003, o dinheiro gasto pelos brasileiros lá fora basicamente equivalia ao deixado por estrangeiros aqui dentro. Hoje, para cada dólar trazido pelos gringos, deixamos 17 no exterior.
O número de brasileiros fazendo turismo externo dobrar é ótimo.
Já o gasto destes turistas decuplicar, não.
Porque significa que o perfil das despesas cresceu muito para quem gasta mais.
Mas voltemos ao ponto em que Cantanhede mistura as duas coisas: porque os estrangeiros vêm pouco ao Brasil?
Estrangeiros, leia-se, americanos, europeus e asiáticos, porque o turismo argentino, uruguaio e latino americano em geral é relativamente estável e bem sucedido.
O Brasil é caro, sim, mas a Espanha, que recebe o décuplo de turistas, também é. E Nova York, Paris, Roma, Londres, também são.
Ninguém deixa de ir a estas cidades porque são caras.
Os hotéis de turismo de luxo ou semi-luxo têm mais ou menos a mesma tarifa mundo afora.
Como não ficaram encalhados os ingressos da Copa, mesmo cada um custando uma pequena fortuna.
Deixa-se de vir ao Brasil pela imagem de caos, desorganização, violência e medo que, nos últimos anos, espalhou-se sobre o Brasil.
Aliás, décadas quando se trata do Rio de Janeiro, um de nossos principais portões de entrada.
A mídia brasileira é a antivitrine do Brasil. E do Rio, em especial.
Numa cidade do Centro-Oeste, num condomínio envolto em cercas elétricas – coisa que é rara aqui no Rio – fiquei impressionado com a preocupação dos moradores de um terceiro andar em trancar portas e janelas à noite, enquanto minha casa vive com elas escancaradas.
A violência, no Brasil é um problema sério e preocupante. Mas não é maior que em muitas cidades turísticas pelo mundo.
O submundo das drogas não é maior no Rio do que na Flórida, talvez seja no máximo mais espalhado pela proximidade de áreas ricas e pobres.
Os roubos e homicídios aqui são menores que os de New Orleans, um dos mais concorridos destinos turísticos dos EUA.
Mas o Brasil, para sua mídia, é – perdão – o cocô do cavalo do bandido.
E ela, portanto, não pode querer que nos achem cheirosos, se ela mesma nos vê como fedorentos.
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