Os analfabetos políticos das redações
Brecht dizia que nada havia de pior que eles, porque acabavam deixando a política nas mãos de pessoas como, bem, como Roberto Marinho.
Você certamente conhece os analfabetos políticos, os APs. Brecht dizia que nada havia de pior que eles, porque acabavam deixando a política nas mãos de pessoas como, bem, como Roberto Marinho, para trazer o assunto para um cenário brasileiro.
Os APs estão em toda parte, até mesmo nas redações de grandes jornais e revistas. Os leitores podem imaginar que as redações sejam compostas de pessoas altamente politizadas, a negação dos APs.
Mas não é assim.
Considere.
Recentemente, houve uma troca de tuítes entre Barbara Gancia e mim. A encrenca começou quando ela escreveu que estranhava Dirceu estar preso e Palocci não.
Respondi que estranho mesmo era a Folha não dar nada sobre o documentado escândalo da sonegação da Globo.
Primeiro, ela revelou ignorância sobre o caso. Atribuiu-o a uma “teoria da conspiração”, a despeito de todos os fatos amplamente comprovados.
Depois, disse, em tons heroicos, que em 30 anos de colunismo na Folha jamais foi censurada.
Respondi que isso se devia apenas a que ela jamais escrevera nada que incomodasse a família Frias.
Foi então que o analfabetismo político de Barbara Gancia gritou: ela citou, como evidência de que é independente, um texto em que dizia que nos protestos de fora as pessoas são chamadas de manifestantes e no Brasil de vândalos.
Bem, onde uma afirmação dessas poderia incomodar os Frias?
Somente o analfabetismo político poderia enxergar numa banalidade daquelas prova de independência editorial.
Coragem seria, para voltar ao caso, reclamar esclarecimentos sobre a sonegação da Globo.
Muitos leitores vêem coragem onde não há nada que mereça uma única palma.
Isso se manifesta com frequência entre os leitores de outro analfabeto político do jornalismo, Reinaldo Azevedo.
“Parabéns pela coragem, Tio Rei”, gostam de dizer os obtusos leitores dele.
Coragem?
Ora, ele está sempre defendendo os interesses das empresas para as quais trabalha. É um bajulador dos poderosos.
Coragem?
Se ele tivesse escrito qualquer coisa que contrariasse os interesses dos que lhe pagam, aí sim, ele seria corajoso.
É o famoso chapa branca vestido de rebelde, aspas e pausa para rir. Como todo chapa branca, ganha duas vezes: primeiro, indiretamente, do Estado, pelas mamatas desfrutadas por quem o emprega. Depois, pelas próprias empresas.
Faça um teste. Azevedo poderia - liberal que é, aspas novamente - questionar a reserva de mercado para as companhias de mídia.
Mas tente encontrar uma única linha sobre o assunto na vasta, tediosa, repetitiva obra de Azevedo.
Provavelmente ele ignore a reserva de mercado da mídia. E também não saiba das mamatas estatais concedidas às companhias jornalísticas.
Saberá Reinaldo Azevedo que o papel de cada página da Veja é imune de impostos? Saberá que o dinheiro público – empréstimos do BNDES e do Banco do Brasil a juros maternais, anúncios oficiais pagos com tabela cheia, lotes de assinaturas de governantes amigos – paga boa parte de seu salário?
Talvez não. Por isso ele é um AP, um analfabeto político.
O que ele sabe, quase certamente, é que nem o dinheiro dos anúncios de Alckmin bastaram para salvar a revista política na qual ele teve sua única experiência de comando.
Nela, ele aprendeu com seu mecenas na ocasião, Luís Carlos Mendonça de Barros, a arte da grosseria, da insolência e da mistificação.
A convivência entre os dois terminou na ruína de uma revista que, repito, não se sustentou sequer com dinheiro público.
Mendonça não pode ser acusado de AP. É esperto demais para isso. Mas ele não ensinou seu pupilo nesse quesito, e hoje o aprendiz nos atormenta com suas demonstrações cotidianas de analfabetismo político.
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