A vingança dos médicos contra o PT
O destino deu às entidades médicas e aos profissionais da área a oportunidade perfeita para se vingarem da derrota acachapante que o governo Dilma e o PT lhe impuseram desde que, em 8 de julho deste ano, a presidente da República lançou o programa Mais Médicos, enfurecendo a categoria de forma jamais vista no país e levando-a a praticar legítimas insanidades.
No âmbito da ofensiva massiva contra o Partido dos Trabalhadores desencadeada pela mídia e pelo PSDB a partir das prisões de algumas de suas lideranças históricas condenadas pelo julgamento do mensalão, finalmente funcionou a recomendação das entidades médicas para que a categoria empreendesse retaliação política ao governo federal e ao seu partido.
Em meados de outubro, o jornal O Globo já anunciava: “Médicos São orientados a pedir votos de pacientes contra Dilma” (clique na imagem abaixo se quiser ler a matéria na íntegra, ou leia abaixo o que ela tem de importante).
A matéria em si, porém, diz muito mais do que a manchete. Abaixo, alguns trechos bastante eloquentes.
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“Em reação à aprovação da medida provisória que criou o programa Mais Médicos, as entidades que representam esses profissionais de Saúde preparam uma ofensiva nacional na campanha de 2014 contra a presidente Dilma Rousseff, sobretudo na população de baixa renda (…)
Além disso, há um movimento de filiações em massa dos médicos a partidos de oposição, principalmente ao PSDB e ao DEM. Segundo a AMB, pelo menos 300 médicos já se filiaram ao PSDB do Ceará, a convite do ex-senador tucano Tasso Jereissati (…)
No Mato Grosso do Sul e em Goiás, o DEM já articula um número grande de filiações até novembro. O deputado Luiz Henrique Mandetta (MS) trabalha junto ao líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), para fazer um ato político e filiar, em um dia, cerca de mil profissionais (…)
- A gente está preparando uma data para fazer um bloco, a gente quer fazer um barulho num dia só. Estou preparando um ato político, para fazer essa marca histórica, estamos numa agenda política muito intensa (…)”
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Quem diz que a categoria médica anunciou, através de suas entidades, que passaria a atuar politicamente e em peso contra Dilma e seu partido, portanto, não é este Blog, mas o jornal O Globo.
De fato, os Conselhos Regionais de Medicina, a Federação Nacional dos Médicos, a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina, mais ou menos explicitamente recomendaram a atuação política da categoria médica contra o governo federal e o seu partido.
Essa fúria dos médicos brasileiros contra Dilma e seu partido começou a tomar corpo cerca de um mês e meio após o lançamento do programa Mais Médicos. Em 26 de agosto, 95 médicos estrangeiros, a maioria cubanos – e negros –, foram hostilizados por cerca de 50 colegas brasileiros – todos brancos – durante manifestação contra o programa federal em Fortaleza.
Dois meses depois, a presidente da República, em cerimônia oficial, pediu desculpas ao médico negro e cubano Juan, cuja imagem sendo vaiado por médicas brasileiras brancas comoveu o país. Em resumo, Dilma pediu desculpas pelas atitudes inacreditavelmente incivilizadas dos médicos brasileiros.
De que lado ficou a maioria do país? Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e divulgada no início deste mês mostrou quem venceu esse embate. Abaixo, matéria da Agência Brasil sobre a pesquisa (clique na imagem para visitar a página original).
Se não tiveram força, até aqui, para macular imagem de Dilma e do seu partido como disseram que pretendiam, a alguns dos médicos que se enfureceram com a presidente da República foi dada, recentemente, a possibilidade de “darem o troco”.
De terça para quarta-feira, dois laudos produzidos por duas juntas médicas distintas geraram ao partido da presidente da República uma derrota na Justiça e outra no Congresso nacional. Médicos envolvidos, em maior ou menor grau, na disputa política com Dilma e seu partido emitiram pareceres que devem devolver o petista José Genoino à prisão e impedir que ele obtenha aposentadoria da Câmara dos Deputados.
Em um momento em que o PT sofre ataques por conta das prisões de suas lideranças históricas e no qual a mídia conseguiu jogar sobre si a culpa pela corrupção na prefeitura de São Paulo e no governo do Estado durante gestões do PSDB e do DEM, o golpe contra Genoino deve ter tido um sabor especial de vingança para os médicos enfurecidos.
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- Não é possível aceitar que ignorantes de ocasião, movidos por indisfarçável conveniência política, que despreza os mais elementares imperativos humanísticos, procurem, acintosamente, comprometer a percepção da real, delicada e preocupante situação de saúde do Deputado.O cuidadoso trabalho de experts foi mutilado e divulgado à imprensa e população de maneira propositalmente resumida, ocultando-se os pontos fulcrais do trabalho.De fato, os senhores médicos frisam e chamam atenção para aspectos de extrema relevância, os quais, é de se repetir, foram solene e ardilosamente ocultados: “… trata-se de individuo sob o risco de desenvolver futuros eventos cardiovasculares e progressão da doença considerando, em especial, os seguintes fatores: a idade, a presença de falsa luz (falso lúmen) arterial parcialmente trombosada, o diâmetro da porção proximal do arco aórtico de 41mm, o controle inadequado da pressão arterial e a labilidade da coagulação sanguínea aferida por meio de RNI (Razão Normatizada Internacional). Nessas circunstâncias, a atividade laboral poderia acarretar riscos de descontrole da pressão arterial que, em associação a anticoagulação inadequada, aumentaria o risco de eventos cardíacos e cerebrais.”Não é necessário ser médico para, sem manobras vernaculares, ter por bastante claro que a situação físico-clínica de Genoino demanda atenção e cuidados especiais neste momento. Disto, por certo, decorre a conclusão da Junta no sentido de reavaliar sua evolução nos próximos 90 dias: “…recomendamos o afastamento temporário da atividade laboral por período de noventa dias para melhor adequação de seu regime terapêutico. Após este período, deverá ser realizada nova perícia médica, para que seja reavaliada a capacidade laboral, levando-se em consideração, principalmente, parâmetros de pressão arterial, frequência cardíaca, coagulação sanguínea (no caso do paciente continuar em uso de medicação anticoagulante), sintomas, além de exame complementar de imagem da aorta torácica.”A defesa de José Genoino não compactua e nem barganha com a dignidade e a vida de um homem que por três décadas, no Parlamento, marcou sua atuação como representante do povo livre do Brasil com absoluta transparência, espírito democrático e extremada honradez.