terça-feira, 12 de novembro de 2013

Décadance avec élégance?, ou o vazio deixado pela oposição                          

Outros roqueiros dos anos 80, como Tony Belloto, Léo Jaime e João Barone, também já criticaram o petismo em algumas oportunidades. Belloto chegou a ser colunista da mesma Veja, onde batia no petismo com certa freqüência. No geral faziam côro, em seus textos e tuítes, à grita da classe média anti-petista em temas como o mensalão. O mais recente membro a entrar para o clube foi Paulo Ricardo, o menino prodígio que revolucionou o show business brasileiro com o seu RPM, ali por volta de 1985. Segundo post desta segunda-feira, na página oficial do grupo no Facebook, Paulo teria dito o seguinte, em show realizado em 08/11/2013 em Piracicaba (SP): “O Brasil precisa entender uma coisa: ditadura é algo terrível, de que lado for. Não podemos viver uma ditadura de esquerda. Precisamos de um rodízio. O Brasil precisa urgentemente de alternância no poder”.
Por “ditadura de esquerda” entenda-se: um sistema político onde o Congresso Nacional legisla, o Judiciário julga, a imprensa (de direita ou de esquerda) é livre, os sindicatos atuam, há liberdade de fé religiosa, os direitos civis e sociais são consagrados em lei, há eleições livres a cada dois anos, existem 32 partidos políticos (e outros 90 na fila esperando oficialização), um mesmo partido (PT) foi eleito 3 vezes consecutivas para comandar o país e seu principal adversário (PSDB) foi eleito 5 vezes consecutivas para comandar o principal estado da federação. Eis a nossa ditadura, segundo Paulo Ricardo. Aliás, sobre os 20 anos do principal partido de oposição no comando do mais importante estado brasileiro, nenhuma palavra. O que não é exclusividade dele, mas de tanta gente que fala em alternância no poder, mas nunca cita o caso de São Paulo. 
Muitas são as hipóteses para tentar entender essa guinada à direita daqueles que foram jovens rebeldes e progressistas trinta anos atrás. Há quem veja na origem social deles, todos ou quase todos bem-nascidos, a lógica de um percurso natural, da esquerda à direita, da rebeldia ao conservadorismo, à medida em que os anos se passaram. De garotos contestadores teriam se tornado vetustos senhores. 
Uma segunda hipótese seria a de que essa geração, que cresceu durante a ditadura militar e pegou o finzinho da censura, tem e sempre terá o pé atrás com o governo, com qualquer governo. 
Há ainda quem ache que nestes tempos de internet, de frivolidades, consumo e descarte quase imediatos, só mesmo dando declarações bombásticas e causando polêmicas, só mesmo apostando no marketing neocon, para se manter vivo nessa máquina de moer gente que é a mídia. 
Uma quarta hipótese tem a ver com o fato de que, por serem roqueiros, e não outro tipo de músico, todos eles estariam submetidos a uma eterna camisa-de-força. Diferentemente de um velho sambista ou de um violeiro veterano, roqueiros precisam cultivar a juventude eterna. E a polêmica, que é o motor da juventude. Em recente entrevista ao The Guardian, Lou Reed, falecido há pouco, disse que para manter a energia criativa se masturbava diariamente, aos 70 anos de idade. Pode até ser verdade. Ou pode ser sarcasmo. O que não é comum é um homem de 70 anos dizer isso numa entrevista. A não ser que ele seja um roqueiro.
Mas voltando aos roqueiros brazucas dos anos 80, quem sabe a proeminência deles no debate sobre o país nos mostre duas coisas: a quantas anda o debate sobre o país e o quanto eles só estão aí, botando seus narizes de palhaço nos shows, como Dinho, ou detonando qualquer coisa que identifiquem como esquerda, como Lobão, porque falte à direita brasileira, a seus partidos e a seus intelectuais, a capacidade de produzir ideias alternativas ao projeto que governa o país hoje.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.

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