"Finalmente enterraram kadafi"
Do AMgóes -Como os fatos se repetem à velocidade da luz, a notória 'bola da vez' nas retaliações internacionais será, sem dúvida, o governo sírio de Bashar-al-Assad. Não é por acaso que mísseis israelenses atingiram Damasco, neste fim de semana, com implícito apoio de Barack Obama. Oportuno lembrar a ligação de grupos da chamada 'oposição síria' com a Al-Qaeda, no 'imbroglio' do teatro de beligerâncias do Oriente Médio, onde, por razões 'fundamentalistas' ninguém é aliado de ninguém. O texto abaixo, publicado um ano e meio atrás, é pertinente para uma reflexão sobre a recrudescimento do caos naquela área do planeta, face às previsíveis ações deletérias (rotuladas, com o sempre, de 'salvadoras da paz', mas de olho nas reservas petrolíferas da Síria, com ocorreu no Iraque de Sadam Hussein ), promovidas amiúde pelos Estados Unidos e seus parceiros de neocolonialismo no século XXI.
"Quarta-feira, 26 de outubro de 2011 - www.gilbertoazevedo.blogspot.com .br
Finalmente enterraram Kadafi
Corpos de Kadafi e seu filho em exposição em câmara frigorífica
Finalmente, topei com um artigo do professor Cláudio Lembo, ex-vice-governador de São Paulo, cuja filiação ao DEM o deixa insuspeito de qualquer conotação esquerdista ou anti-ocidental.
Reproduzo, porque é escrito não apenas com as lições da História, mas com a alma de um ser humano que, à parte de ideologias, não tem prazer em ver a profanação de cadáveres.
E que, lucidamente, não a atribui aos árabes, mas aquilo a que os levamos – das Cruzadas até hoje – em nome dos interesses econômicos e políticos que usam a democracia como o cristianismo foi usado, há muitos séculos, como bandeira de sua hipocrisia.
Leiam o texto. É muito bom, em meio a isso, ler as palavras de um ser humano civilizado.
“Morreu(?) Kadafi.
Os meios de comunicação ocidentais comemoram.
Algumas personalidades internacionais demonstram satisfação.
Todos proclamam a importância do fim de mais uma ditadura.
Restam, no entanto, perguntas não respondidas.
A História da Líbia é de conflitos permanentes.
Desde a antiguidade, a área geográfica, onde se situa o país, foi invadida por inúmeros povos: fenícios, gregos, romanos, vândalos e bizantinos.
Em tempos mais recentes, italianos, alemães, ingleses e franceses estiveram ocupando os desertos que se estendem, a partir do Mediterrâneo, no norte da África.
Beberes e árabes formam a população líbia que, a partir do governo de Mohamede ben Ali – em 1840 – adotou o islamismo como religião, a partir de uma seita que se tornou altamente popular.
Aqui a primeira pergunta sem resposta:
A queda violenta de um governante, ainda que ditador, não gerará um clima de humilhação e revolta em grande parcela da população?
Esta é muçulmana.
Durante os últimos séculos, foram vítimas do colonialismo e do imperialismo que, sem escrúpulos, utilizou as riquezas naturais dos povos dominados.
Até há pouco, os governantes europeus cortejavam Kadafi e o utilizavam para negócios exuberantes.
De repente, o dirigente morto(?) caiu em desgraça.
Para derrubá-lo, somaram-se as maiores e mais poderosas forças armadas. Estados Unidos aliados à OTAN – Organização do Tratado do Atlântico – bombardearam sem piedade populações civis.
Quando se realizam operações militares contra alvos indiscriminados restam traços de rancor e desamor nas coletividades agredidas.
Até hoje, apesar das aparências em contrário, as populações das cidades alemãs bombardeadas na última Grande Guerra – particularmente Dresden, Frankfurt e Berlim – guardam a dor pela perda de seus antepassados.
O Ocidente, em sua ânsia de dominação, vai semeando ódio e desencanto por toda a parte onde se encontram presentes os muçulmanos.
Ontem, foi o Iraque e o Afeganistão. Hoje, a Líbia. (E amanhã?)
Esta macabra escalada precisa conhecer paradeiro. Ser finalizada. Irá tornar a falsa primavera árabe em rigoroso inverno, nas relações entre os povos.
Os dias de hoje recordam o dramático e brutal episódio das Cruzadas (sob a égide do Vaticano).
Agrediram populações que as receberam calorosamente.
Saquearam.
Mataram.
Violentaram.
Em nome de valores religiosos, praticaram atrocidades inomináveis.
Repetir a História é tolo. O Ocidente sempre a repete se fundamentado em princípios intrinsecamente valiosos.
Fala em democracia. Omite que esta, para ser implantada, exige condicionantes culturais e sociais.
Na verdade, o que se constata é o interesse econômico nas áreas integrantes da chamada falsamente Primavera Árabe.
Está se gerando, na verdade, uma grande reação dos povos que adotam o Islam como religião.
O futuro demonstrará que, apesar das intervenções econômicas que virão, um substrato de animosidade restará presente.
Quem é agredido, mais cedo ou mais tarde revida.
É lamentável que os países europeus e os Estados Unidos conheçam apenas as armas como diplomacia.
Seria oportuno adotarem o diálogo como forma de resolver conflitos.
Chegou-se ao Século XXI com os mesmos vícios da antiguidade.
Não se busca a paz.
Deseja-se a guerra.
Violam-se princípios.
Aplaude-se a morte de pessoas indefesas.
Não é assim que se educa para a democracia.
O devido processo legal e o direito de defesa são sustentáculo de valores perenes.
O espetáculo selvagem visto nos últimos dias empobrece a humanidade.
Envergonha seus autores.
A Primavera Árabe transformou-se no inverno dos mais elevados valores concebidos no decorrer do tempo. Continuam selvagens, como sempre.
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