Direita caça votos da classe média atacando o Bolsa Família?

publicado em 21 de maio de 2013 às 13:08

por Luiz Carlos Azenha
Fico imaginando qual seria a vantagem de atacar o Bolsa Família a esta altura da campanha eleitoral, se atacar o programa não rende votos junto aos beneficiários. Existe ao menos uma resposta possível: já que os votos dos beneficiários estão perdidos mesmo, usemos o programa para ganhar votos dos não-beneficiários, retomando em outros termos o debate em torno do “bolsa-esmola”. Não é de hoje que a direita identifica o Bolsa Família com “assistencialismo” ou “caça aos votos”, desconhecendo o impacto dinamizador que ele tem na economia, especialmente no Nordeste.
Convenhamos, é um prato cheio para o tradicional discurso da demonização dos pobres, que atrai parcelas crescentes da classe média e da classe média baixa, sujeitas ao bombardeio diário da grande mídia sobre o Estado que cobra muito imposto mas é perdulário e ineficiente.
Como escreveu hoje Vladimir Safatle, na Folha de S. Paulo, os liberais brasileiros nunca reclamam quando o Estado é mãe para eles; só não pode ser mãe para os mais pobres.
Vale a pena reproduzir um trecho:
Na verdade, eis aí um verdadeiro Estado-providência, mas seus filhos são apenas certos setores da burguesia nacional e da sociedade civil associada ao governo. Há dois exemplos paradigmáticos ocorridos nas últimas semanas.Curiosamente, na mesma página, em editorial, o diário conservador elogia posturas do virtual candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, com apenas um reparo:
Durante os últimos anos, o governo investiu mais de R$ 1 bilhão na reforma do estádio do Maracanã. Obra feita a toque de caixa devido ao calendário da Copa do Mundo. Dias atrás, ficamos sabendo que um consórcio composto pela Odebrecht e pelo onipresente empresário Eike Batista ganhou o direito de administrar o estádio por (vejam só vocês) R$ 180 milhões pagáveis em 30 anos. Ou seja, só em reformas o Estado, principalmente via BNDES, gastou mais de R$ 1 bilhão para entregar a seus filhos, por menos de 20% do valor investido, um complexo esportivo com o qual nem mesmo o mais néscio dos administradores seria capaz de perder dinheiro.
Na mesma semana, descobrimos também que o governo paulista resolveu inventar um cartão que dá R$ 1.350,00 para viciados que queiram se internar em comunidades terapêuticas cadastradas. Nada de mais, à parte o Estado acabar por financiar comunidades terapêuticas privadas, normalmente vinculadas a igrejas e com abordagens “espirituais” de atendimento psicológico bastante questionáveis, enquanto sucateia vários Caps (Centro de Atenção Psicossocial) pelo Estado.
Assim caminha o paulatino abandono da capacidade governamental de formular políticas públicas em saúde mental. Mas pelo menos alguns de seus filhos, por coincidência com grande influência nos próximos embates eleitorais, serão amparados.
O líder tucano deu novos sinais de hesitação, contudo. Repetiu a saudação à bandeira petista, o Bolsa Família, declarando ser o PSDB “o partido dos programas de transferência de renda” — prova de que reluta, ainda, em assumir uma dicção mais liberal com denúncia ácida de seu aspecto assistencialista.Registre-se que, na mesma página, a colunista Eliane Cantanhede, falando sobre “mentirinhas”, escreveu que é uma farsa a ideia de que milhões de brasileiros ascenderam socialmente nos governos Lula/Dilma:
Segundo o repórter João Carlos Magalhães, basta aplicar a inflação à “linha da miséria” (R$ 70 por mês, desde 2011) que 22,3 milhões voltam para onde estavam. E de onde, no mundo de verdade, nunca saíram.Ou seja, o Estado-mãe de que nos falou Safatle, quando ajuda pobres, é ora assistencialista, ora produtor de propaganda enganosa.
Curiosamente, uma comentarista estreou no Viomundo falando sobre o boato em torno do fim do Bolsa Família nos seguintes termos:
O Bolsa Familia é esmola, é indigno e é uma ofensa a classe média que trabalha e se esforça para ganhar a vida com descencia. Bolsa Familia é vergonhoso e é claramente um projeto para garantir votos assim como outros absurdos neste país decadente.Notem que o raciocínio implica jogar a classe média contra os pobres. Parece mesmo que a direita brasileira elegeu requentar um velho tema eleitoral. Talvez isso ajude a explicar a quem o crime de dizer que o Bolsa Família acabou interessa…
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