quinta-feira, 16 de maio de 2013


‘A Alemanha vai ganhar a Copa’, diz Romário

  • Em entrevista exclusiva, ex-atacante e atualmente deputado não poupa críticas à Copa do Mundo no Brasil      
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O depeputado federal Romário durante trabalho em Brasília Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

O depeputado federal Romário durante trabalho em Brasília Ailton de Freitas / Agência O Globo
SÃO PAULO - Ex-artilheiro que virou deputado, Romário bate na administração do futebol brasileiro e se diz pessimista com a seleção. Por telefone, ele mostra o quanto anda decepcionado. Irônico, afirma que não vê jogos pela TV, algo que nunca gostou, e desdenha do Campeonato Carioca. Ele quer explicações sobre a destruição de instalações esportivas para as Olimpíadas e faz a sua aposta para o Mundial.

Você acha que conseguiremos organizar uma boa Copa do Mundo?
A Copa do Mundo vai ter. As classes A e B do Brasil e os estrangeiros sairão felizes da vida. E as classes C, D e E vão sofrer para ter o gostinho verdadeiro de ter uma Copa em seu país.
Por quê?
Porque será tudo caro! É proibido isso, proibido aquilo... Muita regra para brasileiros.
O que te preocupa sobre a organização?
Tudo me preocupa. A verdade é que o Brasil será entregue à Fifa. E tem várias coisas que ferem a Constituição. A Fifa vai levar mais de R$ 3 bilhões e não vai pagar nem R$ 1.
O Brasil aceitou as regras, não?
Assinou erroneamente. Não era para assinar. O Brasil não pode se dar em troca de uma Copa.
E em relação às Olimpíadas de 2016?
Outro grande rombo nos cofres públicos que ficará para a história. Em uma audiência pública aqui na Câmara dos Deputados, Marcio Fortes, presidente da Autoridade Pública Olímpica, e o Fábio Dino, presidente da Embratur, disseram que o orçamento para as Olimpíadas é de R$ 27 bilhões (R$ 28,8 bilhões, segundo dossiê da candidatura do Rio). Vou repetir: R$ 27 bi! É justo com o povo brasileiro? E será mais caro.
Como deputado que representa o Estado, você não está atuante em questões das Olimpíadas, como a destruição de instalações esportivas. Por quê?
Vocês é que não noticiam! Acabo de convidar o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes para esclarecerem para a nossa comissão (Comissão de Turismo e Desporto da Câmara), todos estes abusos. Inclusive as remoções ilegais. Não sei quando virão. E se virão.
Confia na seleção? Escale a sua.
Como assumi este ano a presidência desta comissão, estou por fora do que acontece no futebol. Não tenho tempo. Se escalar uma seleção, não serei justo. A gente tem de confiar sempre. Mas, se o Brasil continuar a jogar como está, infelizmente, com o crescimento dos rivais, nossas possibilidades não serão positivas para a Copa das Confederações e para a do Mundo.
Baseia-se em algum amistoso...
Nem os amistosos do Brasil eu tenho visto.
Assiste à Liga dos Campeões?
Para dizer que não vi nada, vi 20 minutos do segundo jogo entre Barcelona e Bayern.
E Campeonato Carioca? Vê futebol?
Qual Carioca? Existe? (risos).
O que achou da troca de Mano por Felipão?
Fui a favor. Hoje, a seleção dispõe dos dois últimos treinadores campeões do mundo. Há respeito por parte dos jogadores do Brasil e dos outros atletas e técnicos de outras seleções.
Qual seleção vencerá o Mundial?
A Alemanha vai ganhar a Copa.
Sinceramente, você tem mágoa de Felipão por causa do seu corte em 2002?
Não sou do tipo que fica magoadinho! Fiquei é puto! Mas já passou. Também fiquei com o Vanderlei (Luxemburgo, em 2000) que não me levou para as Olimpíadas. Com o Zagallo, que me cortou em 1998 (Copa da França). E fiquei mais com o Felipão porque ele me cortou e foi campeão assim mesmo.
O que acharia se tivesse jogado ao lado de Pelé? Como seria esta dupla?
Eu teria feito mais gols do que ele!
Há oito anos você disse que Pelé calado era um poeta, quando ele falou que você, com 39 anos, podia se aposentar. Recentemente, um ofendeu o outro. Não é ruim?
Se fica mal para ele, é problema dele. Para mim, não fica mal, não. Meu sentimento é este mesmo. E também se fica, problema para quem fica. Não estou preocupado. Falo o que tenho vontade de falar. Se o Pelé, a partir de agora não falar um “ai” de mim, eu não vou falar um “ai” dele.
Você chorou no anúncio do projeto para a entrada gratuita de 500 portadores de necessidades especiais em cada jogo do Mundial. Foi sua maior vitória como deputado?
Espero não chorar de novo se não acontecer. Porque o presidente da CBF e do COL (José Maria Marin) ainda não se pronunciou sobre isso. Foi feita uma promessa pública do presidente da época (Ricardo Teixeira) e do Ronaldo.
Por que Marin não sai da CBF e do COL?
(risos). Isso eu também queria saber. Não entendo por que a própria presidenta e o Ministério do Esporte ainda deixam este cidadão comandando estas entidades. Agora, na Copa das Confederações, Dilma Rousseff se sentará ao lado dele. E não será positivo para a cara do Brasil.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse que o governo federal não pode intervir na CBF e que a Câmara dos Deputados pode...
(interrompendo) Poderia, sim. Na verdade, o que se alega é que a CBF é empresa privada. Mas ela deixa de pagar alguns tributos ao governo federal. Usa a bandeira nacional, o escudo, o hino nacional e o patrimônio nacional, que são os jogadores... É falta de coragem.
Acredita que o governo brasileiro e a Fifa se movimentam para tirá-lo do COL?
Não posso dizer que não acredito. Mas posso afirmar que, se estão se movimentando, só se for em passo de tartaruga. Nada acontece.
É a favor de participação estatal nas decisões da CBF?
Se houver realmente atitude, sou a favor. Mas o governo federal não tem atitude alguma num momento delicado como esse. Vai ter em outros? O problema do futebol brasileiro está muito feio. Está em 19º no ranking da Fifa. Vários países sem histórico estão à frente.
Como sede da Copa de 2014, a seleção não disputa as eliminatórias...
Não é isso. Se for pegar os países-sede das últimas Copas, tirando a África do Sul, claro, nunca uma seleção da sede chegou nesta posição.
É a favor de Andrés Sanchez na CBF?
Sou a favor do Sanchez, Raí ou Maurício Assumpção. O Raí nunca teve experiência de administração de clube, de gestão. Mas é um cara esclarecido e respeitado. O Sanchez, pelo que fez pelo Corinthians. E o Assumpção porque profissionalizou o Botafogo!
Tanto Sanchez quanto Assumpção não seriam mais do mesmo?
Estou dizendo quem eu acreditaria que não se envolveria em troca de favores.
E o Ronaldo à frente do COL?
O Ronaldo dá um peso ao COL. Mas não sei se teria experiência administrativa. Se bem que hoje, qualquer um dirige o COL.
Em 2010, você estava na África do Sul com Teixeira, promovendo a logomarca da Copa de 2014. Tempos depois, passou a criticar a organização do Mundial. Críticos dizem que ficou insatisfeito por não ser indicado ao Conselho de Administração do COL...
Primeiro, nunca passou pela minha cabeça participar de nenhuma comissão do COL. E nunca foi ventilado pela CBF nem por lugar nenhum. Segundo, naquele momento, ainda não tinha sido eleito deputado (foi eleito depois, em outubro). E a partir do momento que entrei aqui, vi o quão podre é a CBF. Vou além: quando o Marin assumiu, veio aqui em Brasília, chorou, me abraçou, pediu ajuda, e fui enganado de novo.
Além de tudo isso que falou, está sendo enganado por algum outro motivo?
Eu estou sendo enganado, você está sendo enganada, o povo brasileiro está sendo enganado. Meu pai sempre me ensinou a estar ao lado de pessoas corretas. E não é o caso de estar ao lado da CBF.
O que acha da conta de mais de R$ 1,2 bilhão para o novo Maracanã?
O nome disso é assalto sem arma!
O custo da Copa é uma caixa preta?
A população não tem ideia nem vai ter do custo desta Copa. Só vai ter este sentimento de perda, de dinheiro jogado fora, bem depois. Se o país já passou por dificuldades, passaremos de novo por causa de gastos desnecessários e vergonhosos com o dinheiro público. Isso tem outro nome.
O que acha do caso Engenhão? Afeta a percepção dos estrangeiros sobre a capacidade do Brasil para organizar grandes eventos?
Este caso é típico. Falta de competência e boa administração da prefeitura, a anterior, diga-se. Afeta percepção? Afeta o povo brasileiro, principalmente o carioca que pagará a conta.


 

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