Projeto da terceirização mostra
que eventual vitória de Aécio
teria sido uma tragédia social
Paulo Nogueira
Certas situações deixam subitamente claras coisas que pouca gente enxergava.
A votação da terceirização, por exemplo.
Ela expôs espetacularmente o retrocesso social que significaria a eleição de Aécio.
Os deputados do PSDB votaram pela terceirização.
Isso quer dizer o seguinte: votaram contra o povo. Contra os chamados 99%.
Terceirização não é daquelas coisas que têm prós e contras para diferenças grupos da sociedade.
É imensamente favorável para os empresários e imensamente desfavorável para os trabalhadores.
Uma pesquisa mostra que os terceirizados trabalham três horas a mais, ganham 25% a menos e ficam 3,1 anos a menos no emprego.
Que tal?
Aécio na presidência significaria um amplo, total, irrestrito movimento do Brasil nesta direção antitrabalhadores.
Ele prometeu “medidas impopulares” a representantes da plutocracia no início de sua campanha – e a posição tucana na votação deu uma mostra sinistra do que seria aquilo.
Dos 46 deputados do PSDB, 44 votaram pela terceirização. (Mara Gabrili e Geovania de Sá foram as exceções.)
Espera-se que isso seja lembrado em futuras eleições, quando os candidatos vierem com sua lengalenga social.
Comportamento oposto tiveram três partidos: PT, PSOL e PC do B.
Todos os 61 deputados do PT rejeitaram o projeto. Todos os cinco do PSOL também. E apenas um deputado entre os 13 do PC do B (Carlos Eduardo Cadoca) disse sim.
Tudo isso considerado, é evidente que a presença de Dilma na presidência é um contraponto ao atraso do Congresso.
É presumível que ela vete o projeto.
Também é esperado que a sociedade acorde para o que está acontecendo via deputados federais: o 1%, como que insatisfeito com sua fatia abjeta de riqueza no patrimônio nacional, quer ainda mais. E colocou no Congresso, graças ao financiamento privado, deputados que estão prontos para fazer este serviço sujo.
O lado bom é que clarearam as coisas com este episódio, e os eleitores poderão fazer escolhas melhores nas eleições futuras.
Há que considerar, igualmente, o anteparo de Dilma. Imagine Aécio no Planalto. E mais Armínio na Fazenda. E mais FHC como conselheiro. (Que melancólico final de carreira para FHC ver, em silêncio criminoso, seu partido apoiar, maciçamente, um ataque brutal aos direitos trabalhistas.)
Seria uma calamidade uma vitória de Aécio.
O projeto da terceirização acaba com o blábláblá segundo o qual, dado o ajuste proposto por Dilma, tanto fazia se ela ou Aécio se elegessem.
Seria pior com Aécio.
Muito pior.
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