E se as pessoas que bateram no fotógrafo de BH parecido com Lula encontrassem o próprio
Lula?
Kiko Nogueira
O fotógrafo Beto Novaes, que apanhou durante o protesto do dia 12 em Belo Horizonte por ser parecido com Lula, disse que nunca viu nada igual em décadas de carreira.
Novaes contou que foi hostilizado por manifestantes desde os primeiros momentos. No início, com uma espécie de piada: “Me dá um dinheiro aí”, falavam. Em seguida, enquanto posava para fotos com uma mulher, começou a levar pontapés. Foi retirado do local antes que a situação ficasse fora de controle.
Seu relato no Estado de Minas, onde trabalha:
“Alguns falavam para eu abrir o olho, pois ali não era o meu lugar, enquanto outros pediam para tirar fotos comigo. Foi nisso que uma senhora de Brasília, que estava na manifestação, pediu para ser fotografada ao meu lado. De repente, apareceram quatro ou cinco rapazes e falaram que estava fantasiado de Lula. Mostrei meu crachá e me identifiquei, mas eles me empurraram e um deles me deu um chute nas costas, me mandando sair dali. Voltei para o carro de reportagem e em seguida fui para a Avenida Afonso Pena, onde continuei cobrindo a manifestação, mas de longe, me resguardando de novas agressões”.
É o caso de se perguntar: e se Lula, o próprio, encontrasse essas pessoas? O que aconteceria?
Um ex-ministro me confidenciou, numa entrevista, que tentaram agredi-lo enquanto andava na rua em São Paulo. Mantega saiu correndo do hospital Albert Einstein.
Repito: e se Lula encontrasse um pessoal desses, digamos, num restaurante? Você duvidaria de uma tentativa de linchamento?
O ódio campeia sem freio. O anão moral Kim Kataguiri sugere que o PT tome um tiro na cabeça. Ah, sim, é em sentido figurado. Danilo Gentili lança uma campanha: está sorteando um PlayStation para quem xingar Dilma. Etc etc.
A burrice e a raiva se retroalimentam e criam um ambiente explosivo. Veja a interessantíssima pesquisa coordenada por Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, e Esther Solano, professora de relações internacionais da Unifesp, com 571 pessoas na Paulista. É algo entre o patético e o horror.
- 71% concordam que “Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha, é sócio da Friboi”.
- 56% acreditam que “o Foro de São Paulo quer criar uma ditadura bolivariana no Brasil”.
- 53% creem que “o Primeiro Comando da Capital (PCC) é um braço armado do PT”.
- 42% acham que “o PT trouxe 50.000 haitianos para votar na Dilma nas últimas eleições”.
- 64% pensam que “o PT quer implantar um regime comunista no Brasil”.
- 71% não têm dúvida de que “cotas nas universidades geram mais racismo”.
- 60,4% têm certeza de “o Bolsa-Família só financia preguiçoso”.
- Rachel Sheherazade é a jornalista em quem mais confiam (49,5% das preferências).
Segundo o Datafolha, 41% do público tinha mais de 51 anos. Parafraseando Caetano Veloso, é essa a velharia que quer tomar o poder?
O Sindicato dos Jornalistas de MG pediu à promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual a abertura de investigação sobre a agressão sofrida por Beto Novaes. Um coordenador do movimento Vem Pra Rua declarou que o grupo é inocente. Não vai dar em nada, mais uma vez.
É absurdo alguém ainda duvidar de que a ira transbordou do mundo digital para a realidade.
Tudo em nome do republicanismo.
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