"Indivíduos prósperos" são os manifestantes do
impeachment, diz The Economist
Pedro garbellini
Jornal GGN - Reportagem da revista britânica(conservadora) The Economist, traduzida pelo 'Estadão', intitula o cenário de manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff como "Tea Party Tropical", fazendo referência aos americanos republicanos que lutam por um governo mínimo. A revista descreve que "os manifestantes brasileiros simpatizam com os partidos de oposição e esperam poder influenciá-los", além de não serem de esquerda.
Outro destaque do texto do Economist é que traça o perfil do público que esteve nos atos: "três quartos dos manifestantes têm renda mensal de pelo menos cinco salários mínimos, coisa que, para os padrões brasileiros, faz deles indivíduos prósperos".
Do Estado de S. Paulo, por The Economist
Qualquer que seja o parâmetro, a conclusão é inevitável: os atos anti-Dilma e contra a corrupção realizados em 12 de abril foram enormes. Aproximadamente 660 mil pessoas saíram às ruas em 152 cidades. Um mês atrás, porém, foram cerca de 2 milhões. A redução no número de manifestantes deve esfriar um pouco o entusiasmo de um movimento que sonha em derrubar a presidente com gigantescas demonstrações de insatisfação popular. Os organizadores terão de mudar de estratégia e afinar sua mensagem confusa.
Mas o descontentamento não refluiu, e o movimento não vai desaparecer. Segundo o Instituto Datafolha, três quartos dos brasileiros apoiam as manifestações. Dois terços são favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff por causa do escândalo de corrupção envolvendo a Petrobrás. Membros do PT e de outros partidos da coalização governamental estão sob investigação, embora a presidente não tenha sido implicada. Dos 40% de aprovação que tinha a presidente em janeiro, no início de seu segundo mandato, a popularidade de Dilma caiu para 13%. Mesmo no Nordeste do País, onde se concentram os redutos eleitorais petistas, a maioria está insatisfeita com o governo.
Comparação. O movimento anti-Dilma se assemelha aos protestos ocorridos na Europa e nos Estados Unidos, mas com grandes diferenças. Ao contrário do Syriza, na Grécia, e do Podemos, na Espanha, os organizadores das manifestações brasileiras não são de esquerda e não pertencem a um partido político. Há quem os compare aos americanos do Tea Party, que, de dentro do Partido Republicano, lutam por um governo mínimo. Essa última comparação é mais apropriada. Os manifestantes brasileiros simpatizam com os partidos de oposição do País e esperam poder influenciá-los. Renan Hass, do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais organizadores das manifestações, quer que o PSDB seja “mais macho”. Mas, diferentemente do Tea Party americano, o movimento ainda é muito recente e fragmentado para ter voz no Congresso. Os protestos de rua foram convocados por dezenas de pequenas organizações.
Aos olhos dos simpatizantes do governo Dilma, os manifestantes representam uma elite privilegiada, alguns dos quais se mostram inclusive dispostos a atingir seu objetivo por meio de um golpe militar. A primeira alegação é, em parte, verdadeira; a segunda só se aplica a uma minoria lunática. Levantamentos indicam que três quartos dos manifestantes têm renda mensal de pelo menos cinco salários mínimos, coisa que, para os padrões brasileiros, faz deles indivíduos prósperos.
Mas o professor Carlos Melo, do Insper, diz que ao colocar a questão em termos de um conflito “nós contra eles”, o PT se esquece de que o lado “deles” hoje é muito maior, graças ao crescimento econômico observado até pouco tempo atrás e às políticas destinadas a reduzir a pobreza. Até mesmo pessoas de renda relativamente baixa se consideram de (nova) classe média.
Isso as tornam receptivas à mensagem que pode ser lida nas entrelinhas dos slogans anticorrupção: um Estado gigante precisa ser mantido sob vigilância. Muitos dos que aderiram ao MBL se identificam claramente com o laissez-faire extremista do Tea Party e chamam o PT de “comunista”. E mesmo grupos menos radicais, como o Vem Pra Rua, o maior dentre os organizadores das manifestações, argumentam que a carga tributária brasileira, que chega a 36% do PIB, é muito alta, e a burocracia do governo federal, com 39 ministérios, grande demais. Um congressista do PT acusa o movimento de ser financiado pela CIA.
O fato, porém, é que eles não precisam desse tipo de dinheiro. O serviço de mensagens WhatsApp serve de escritório para os 2,5 mil ativistas do Vem Pra Rua. Nas manifestações de março, o grupo diz ter gastado menos de R$ 20 mil com a impressão de cartazes e o aluguel de um caminhão de som. Alguns grupos juntam dinheiro vendendo itens com palavras de protesto. Uma camiseta “Fora PT!” custa R$ 40 no site do MBL. Designers gráficos, publicitários e advogados contribuem com trabalho voluntário. Entre suas atividades, está a divulgação de mensagens no Facebook, atualmente usado por dois quintos da população brasileira.
Descartada. Sem a perspectiva de atrair mais gente para as ruas, os grupos precisam encontrar outras maneiras de pressionar o governo. Em 15 de abril, cerca de 40 representantes do movimento foram até Brasília com uma lista de exigências, incluindo penas mais elevadas para o crime de corrupção, um sistema eleitoral distrital nos moldes do adotado por Grã-Bretanha e Estados Unidos (para reduzir os gastos com as campanhas eleitorais) e o fim da reeleição para presidente e governadores. Significativamente, a lista foi divulgada no Congresso, não no Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff delegou a condução da economia ao ministro da Fazenda Joaquim Levy e as articulações políticas ao vice-presidente Michel Temer. Embora ainda exijam sua saída, os manifestantes começam a agir como se ela já fosse carta fora do baralho.
O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ NO 'LINK': WWW.ECONOMIST.COM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário