Opções da direita: Uma
delas é, sim, o golpe
Na sala de visitas da nova direita cabem Lobão, os meninos siderados de Wall Street e o pastor Feliciano. Se pudesse, ela liquidaria todas as políticas sociais, até a previdência e, assim como Aécio, aposta numa solução rápida e cirúrgica, radical...
Reginaldo Moraes (*)
Não nos enganemos. Existe, sim, uma nova direita no Brasil. Ela foi se formando e se sedimentando ao longo dos últimos 30 anos, ainda que seja a continuidade de uma espécie mais antiga.
Essa nova direita não é exatamente partidária ou apenas partidária. Está fortemente nucleada em aparelhos políticos de outra natureza: mídia, ONGs, institutos, centros de “estudo” e difusão de ideias. Sua retaguarda material é composta de empresários bem-sucedidos, broncos mas espertos.
Alguns até fazem graça com governos progressistas. Mas vejam quais empreendimentos “intelectuais” os Gerdaus e assemelhados andaram financiando nesses anos e encontraremos think tanks neoliberais.
Outros desses empresários são por nós paparicados, como Lemann. Enquanto isso, o esclarecido filantropo e educador financia ataques ciber-guerrilheiros contra nossas ideias e organizações. Outros são claramente e francamente antirreformas, antirregulações, antiestado. Anti-nós.
Os donos do Itaú nunca esconderam isso. Ou os Marinho. Ainda outro dia, o dono da cadeia Riachuelo, conhecido militante do Partido Liberal, resumiu a ideia, de modo simples e simplório: fora o Estado! Que as raposas andem livres em campos livres!
Essa nova direita brasileira imita a norte-americana e certamente tem laços, inclusive financeiros, com os gringos. Volta e meia aparece um traço dessas ligações. Não surpreende. Afinal, não os une apenas a ideologia, mas os interesses. Para a grande estratégia americana não interessa um Brasil que fique em pé e com a coluna reta. É um incômodo para a influência americana na América do Sul e, como se viu nos últimos anos, mesmo mais além.
E não nos esqueçamos do modo como olham para as oportunidades que veem aqui: entrar de sola no pré-sal, substituir empreiteiras brasileiras, explorar mais fortemente o potencial agrobis. Uma mina de ouro. Ou várias.
A nova direita americana conseguiu conciliar duas coisas diferentes e aparentemente contraditórias – os yuppies financistas, moderninhos e até dissolutos, drogados e pervertidos, com a direita religiosa fundamentalista, que odeia toda essa “modernidade”.
Na sala de visitas cabem Lobão, os meninos siderados de Wall Street e o pastor Feliciano. Para isso, os novos sacerdotes da direita recriaram o cristianismo. Sequestraram Jesus e o transformaram em um ícone neoliberal. Há no ar, nas rádios e TVs, uma nova religião, uma nova teologia, a teologia do sucesso e da realização individual a qualquer custo. O lucro é uma bênção. O pecado da cobiça se transformou em virtude que abençoa o crente e homenageia seu deus.
Essa nova direita é radical. Se pudesse, liquidaria todas as políticas sociais, até a previdência. Sonha com isso. Liquidaria as regulamentações trabalhistas, ambientais, o que for necessário para garantir o livre movimento do capital. Se pudessem, revogariam a lei do imposto de renda progressivo. Quem sabe até a Lei Áurea precisasse de uma emenda, não é mesmo?
A velha direita, alojada principalmente nos partidos, está um pouco desconcertada. Pelas derrotas e pela pressão dos novos companheiros. Está dividida também quanto aos passos políticos imediatos. É ingênuo pensar que nenhum segmento da direita queira golpe ou impeachment. Quem diz isso nega a realidade para acalentar seus dogmas. Há hoje duas claras posições na direita partidária brasileira, com equivalentes na direita extra-partidos.
Uma delas não pode e não quer esperar. Não acredita em cozinha lenta. Ou vê, em um processo desse tipo, resultados que não convêm a seus interesses. Elementos menores e pessoais também pesam nessas avaliações. Se a presidenta caísse hoje, digamos, é possível e provável que tivéssemos novas eleições, mesmo sendo controversa a letra da lei. Aécio seria candidato? Ainda estaria no baralho. Bem possível. Mas… e se passarem alguns meses mais, talvez um ano? Bem, daí as eleições ficam para 2018.
A lembrança de Aécio nos eleitores de direita e centro-direita talvez se desmanche. Já é mais fraca hoje, ele esperneia para estar na mídia, nem que seja pelo ridículo. Sua reputação pode não resistir ao desgoverno revelado que ele e seu mordomo fizeram em Minas. Ou das demais ilegalidades em que está metido. Qualquer investigação superficial levaria até à cassação de seu mandato. Ele pode esperar até 2018? Não. Os outros podem. Preferem.
A nova direita, assim como Aécio, aposta numa solução rápida e cirúrgica, radical. Não lhe basta a derrubada da presidência. Quer limpar o país dos “ratos”, não nos iludamos. Seria uma derrota similar a 1964 ou 1970, podemos escolher o cenário. Uma derrota que determina que por anos sequer a palavra política seja pronunciada. Escolham o paralelo histórico, mas o silêncio de cemitério seria desse tipo.
A nova direita sabe que, no PSDB, precisa de gente como Aécio. Pressiona para que ele se junte à rua e rompa com a atitude “mole” dos velhos cardeais. Mas Aécio é apenas um aceno. O céu é o limite. Ou o inferno?
Esses sãos os dados no jogo da direita. E a esquerda?
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