quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Tucanos perdem o jogo de

goleada mesmo sem Dilma

ainda em campo                  

Fernando Brito                        
exercito
Quem fizer uma leitura objetiva dos jornais e trabalhar com os fatos em lugar de  impressionar-se apenas com o clima criado pela mídia verá que, desde o dia da eleição, os tucanos colecionaram  um invejável rosário de derrotas políticas, apenas toscamente amenizadas pela mídia.
Porque vencer, na política, é possuir mais do que se possuía antes.
Aos fatos, pela ordem.
A esdrúxula tentativa de questionamento da apuração das eleições – embora a mídia tente amenizar, dizendo que o TSE “liberou” ao PSDB os dados que já eram públicos – virou um rotundo e ridículo fracasso, que não apenas serviu para, discretamente, Geraldo Alckmin, sinalizar que está disposto a liderar uma ala própria do tucanato, mas para marcar como antidemocrático e golpista o próprio núcleo do comando aecista.
Marca que ficou mais acentuada com a histérica manifestação pró-ditadura promovida em São Paulo, que colou aos tucanos uma face radical e autoritária que, para além da histeria e do ressentimento de uns poucos, também reduz à insânia a argumentação que se usa contra o PT, de “bolivarianista” e “pretendente à ditadura”.
Houve também a tal “PEC da Bengala” e o bolivarianismo de Gilmar Mendes, tão escandaloso que Elio Gaspari, insuspeito de qualquer simpatia ao Governo, o desanca hoje em seu artigo. O clima no Supremo, hoje, é daqueles que, se não ficasse impróprio para ministros de toga, seria propício a bengaladas em Mendes.
E a transformação de Eduardo Cunha em símbolo da mais truculenta oposição parlamentar ao novo governo, acaso não é uma vitória?
Será? Recordem-se de que o PMDB tem sete governadores e dezenas de novos deputados que dificilmente estarão dispostos a iniciar seus mandatos querendo cortar todas as pontes com o Planalto, do qual dependem – e muito – para corresponder minimamente à expectativa de seus eleitores.
E que Dilma e sua base têm três meses para um paciente trabalho de mapeamento das fraquezas do “exército de oposição” ( aquele do qual Aécio proclamou-se ontem “general”) e erodi-lo. Aliás, conhecendo como conheço um pouco a natureza dos parlamentares brasileiros, três meses para que muitos deles se apresentem dispostos a desertar.
E, ainda, para a articulação e empoderamento de alianças parlamentares como a sugerida ontem à Presidente pelo Governador Cid Gomes, do Ceará, e que já se tem reflexos no parlamento, um deles a formação de um bloco entre o PROS e o PDT, talvez com a presença do PCdoB,  que “segure” as defecções destes partidos no varejo das votações.
Resta, então, objetivamente, um terreno particularmente difícil, exatamente aquele que faz os fatos serem percebidos sem objetividade, seja na política, seja na economia, seja na própria ação de governo.
A comunicação, da qual depende a percepção do mundo real, embora este seja sua fonte primária.
É claríssimo que o projeto nacional, desenvolvimentista e popular  não sobreviverá sem ela, seja porque o tempo progressivamente reduz a força da memória do que foi o neoliberalismo aqui, seja porque a falta crônica de combate político foi permitindo que uma parcela da sociedade (especialmente a mais jovem) passassem a ter referencial único numa “moral”  político-administrativa seletivamente apontada e dimensionada pela mídia.
É que, desde séculos, “moral” tem a ver com o que se exibe publicamente e com quem exibe e quem é exibido. E quando e com que intenções, claro.
Vejam como a demissão deste Paulo Roberto Costa poderia ter sido colocada na conta da tal “faxina” que Dilma promoveu sob aplausos da mídia – porque esta sabia da corrosão parlamentar que isso provocava – e foi, no momento eleitoral, transformada – até criminosamente, como fez a Veja –  em “culpa”  da Presidenta que o demitiu.
Esta é a área do governo que precisa somar ousadia e um projeto que leve em conta, essencialmente, dois fatores:
A incapacidade de setores da mídia empresarial para um convívio democrático gerido pela ética e pela pluralidade político-ideológica e, cada vez mais, o advento da comunicação via rede, que já nem pode ser chamada de internet, apenas, porque se expressa de forma cada vez mais múltipla e ingovernável.
O projeto que este governo representa, repito, não sobreviveria se não estivesse disposto a enfrentar  o patíbulo da mídia.
Mas está.
E com uma vantagem que o comportamento da imprensa lhe dá.
Há tão pouco a perder nesta área que, como disse ao início, ter mais do que se tem, hoje, conduz à vitória política.

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